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OPINIÃO

O ano que não terminou para a Celg

1999 representou o fim de uma desastrosa era de absolutos desastres e desmandos administrativos na história daquela que outrora foi considerada a oitava mais eficiente empresa do setor elétrico brasileiro: a Companhia Energética de Goiás (Celg).

De 1980 a 1999 sucessivos governos literalmente levaram a estatal fundada pelo grande Juca Ludovico literalmente a falência. Falência não só pelos “investimentos” que beneficiaram muitos dos atuais atores que hoje vem literalmente o sol nascer quadrado nas dependências da polícia federal em Curitiba: os empreiteiros. A lava jato é um processo que se inicia mas não se sabe como acaba. Primeiro  se chega  aos grandes para depois encurralar  os pequenos. Creiam: esses moços que agiam na calada dos gabinetes com seus office-boys de luxo em cargos de diretoria eram fortes, muito fortes ao ponto de se considerarem os verdadeiros donos do Brasil que hoje anseia por mudanças.

Posto isso, vejamos numericamente os eventos notáveis expostos por uma instituição de inegável prestígio, a Universidade de São Paulo (USP), no momento em que diagnosticou os sucessivos desastres que levaram a Celg literalmente a falência. Aos fatos e a seus prejuízos correlatos. Transferência da Usina de Corumbá para Furnas Centrais Elétricas, 11,5 milhões; contas a receber do recém criado Estado do Tocantins, 378 milhões; privatização da Usina de Cachoeira Dourada aliado ao criminoso contrato de compra de energia a preços majorados, 2,5 bilhões; subsídios a Companhia Níquel Tocantins, 378 milhões; saldo a receber do Estado de Goiás, 1,5 bilhão. Resultado: deixou de entrar no caixa da empresa dos anos 1980 ao fim dos 1990 cerca de 4,5 bilhões de reais.

Veja o que conclui a USP no seu relatório: “Em suma, eventos extraordinários que descapitalizaram a Celg, falta de aportes ao longo do período, prejuízos sugerindo incapacidade de gerar lucro com a operação, parecem indicar que, ao longo do período estudado, a Celg não este entre as principais prioridades do acionista majoritário.”

Nos anos 2000, um novo governo, acenava uma nova esperança no sentido de recuperar a empresa. Ledo engano. A opção política não seguiu os caminhos da boa gestão que recuperaria a Celg. Nada acontece por acaso. O que estava por trás dessa opção era preservar a empresa desequilibrada (corroendo dia a dia seu patrimônio líquido) para assim financiar as inúmeras ações predatórias de investimentos que faz a alegria de uns a custas da dominação política de um povo.

Do discurso populista dos anos 1980 e 1990 chegamos a “modernização” dos anos 2000. “Mudar para permanecer tudo igual como era antes”, é o que nos diz o escritor Tomasi di Lampedusa no seu grande livro “O Leopardo”.

E assim o rumo de 1999 mudou de cara, mas não mudou de forma. E lá se foi a Celg a financiar os “maravilhosos pacotes tecnológicos” e os infinitos aditivos contratuais, estes danosos a empresa, mas altamente lucrativos aos tais prestadores de serviço, eternos financiadores de campanhas políticas.

Vale ressaltar as projeções atreladas ao balanço de 1999 e fluxos econômico financeiros que este escriba  projetou nesse ano para o recém empossado governo. O modelo de projeções apontou para a seguinte hipótese que no transcorrer dos  anos mostraram ser verdadeira. Se houvesse vontade política em implantar gestões eficientes na empresa está chegaria em 2016 a valer 1,9 Bilhão de Reais. O 1,9 bilhão de reais que hoje o governo transforma em dívida que certamente comprometerá o futuro de milhões de goianos que representada o que Goiás tem de mais verdadeiro. Do atual governo ao antecessor nada  não foi feito o dever de casa. Vivemos hoje as mesmas angústias de 1999, o ano que infelizmente não terminou para triste história da Celg. Que a história cobre o preço dos atores políticos envolvidos no sucateamento da empresa.

(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outros livros, do livro Celg uma falência mais que anunciada)

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