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OPINIÃO

Democracia é bom, mas complicada em suas relações

“Soldados! Não vos entregueis a esses desalmados. Homens que vos desprezam e escravizam, que controlam as vossas vidas! Que vos ditam o que fazer, pensar e sentir! Que vos condicionam, vos tratam como gado e se servem de vós como carne para canhão! [...]Não sois máquinas! Não sois gado! Homens é que sois! [...]Lutemos pela liberdade!”

Charles Chaplin.

Eu sabia que democracia era bom. Eu só não sabia que na forma de presidencialismo era tão complicada. Eu não tinha noção de que a demissão de um(a) presidente da república era tão penoso assim. Penoso, burocrático e tão traumático. Nesse ponto, ao que parece, regredimos. Definitivamente nos tornamos retrôs, de retrógrados. Andamos para trás  mais de 20 anos.

Assim considero porque no impeachment do ex Fernando Collor os trâmites de seu desapoderamento  foram longos e com muito disse-que-não-disse. No da agora quase ex Dilma Rousseff está também sendo longo, mas o que se gastou de falatório, discursos, papéis, bravatas, insultos, mútuas acusações e outras alocuções  não está escrito e previsto em nenhum inciso  da Constituição daqui e alhures.

Com tudo isso, sem a contabilização de pizzas, mussarela, salame, cafezinhos, baurus, batata frita, foguetes, fogos de artifícios e outros ingredientes, houve muito consumo de palavras e verbos. Entre algumas estatísticas por exemplo eu gostaria de ver aquela do uso de erudição, do juridiquês e do politiquês. Por exemplo, palavras como procrastinação, postergação, exordial, preclusão. São termos fora do domínio das pessoas comuns. Haja vernáculo e tanto espetáculo.

Contudo, na sessão do dia 11 de maio 2016, a que acolheu a admissibilidade do impeachment, foi instalado um palavrômetro por alguns órgãos de mídia, mas apenas dos verbetes mais repetidos. Assim tivemos a palavra presidente (a) reverberada 1.411 vezes, excelência 717 vezes, pedalada (gastança de dinheiro público) 1352, fiscal (de pedalada) 913, impeachment 869 vezes.

Enfim eu não imaginava que destituir um presidente (no presidencialismo democrático) era tão complexo e oneroso em gasto de verbas, verbos, palavras, e tanto protocolo. E as coisas não param por aqui. Para abertura  do processo do impedimento eram precisos 41 votos, houve 55 a favor. 0 Senado tem até 180 dias para instrução, oitivas de defesa e acusação, sessões de comissão julgadora e veredicto final. Ou seja, o que vai haver de chicanas, parlatório e protelação não está escrito em nenhum regimento.

O agora interino presidente Michel Temer fez um discurso exordial (de abertura) que me agradou sobremaneira. Achei-o sóbrio, coerente, conciliador, pacífico. Não falou nada de sectarismo, militância esta ou aquela; nem tão pouco das minorias sem essa ou aquela propriedade ou sem  direitos infraconstitucionais(os fora da Constituição). Exalto aquele seu pensamento de lembrar dos muitos sem emprego, assim dando uma outra semântica aos chamados MST, movimentos dos sem trabalho (desempregados). Essas mais de 11 milhões de pessoas, são aqueles(as) que querem trabalhar, os chamados desempregados pela crise econômica que se abateu sobre o País. Pena que nesse rol de milhões estão aqueles chamados nem nem. Nem trabalham , nem têm vontade para tal. São os chamados vagabundos por opção. E como os há por aí.

Pontuando um outro gesto do provável definitivo presidente Temer foi sua referência respeitosa à interina ex-presidente Dilma. Isso mostra seu espírito cristão. Ele que tem sido intitulado traidor e golpista pela claque do PT e pela presidente afastada devolve agora em uma moeda de generosidade e civismo. Belo exemplo.

Por fim uma frase de relevo do sóbrio e culto presidente foi evocar o termo religião. Religião ( lat religare), religar. Assim ficou exaltado que busquemos ajuda dos céus, de Deus;  e que possamos nos irmanar na mesma energia para fazer do Brasil uma pátria de todos, de paz e harmonia e não uma república de poucos que vivem  à margem das leis, os  privilegiados. Ninguém pode se considerar mais igual do que os outros 200 milhões de brasileiros.

Agora num quesito eu considero que Temer cometeu um equívoco: o de ter auxiliares de 1º escalão (ministros) sendo investigados na operação Lava Jato. Todos vimos que com 10 dias de interinidade, seu governo já teve uma baixa, o senador Romero Jucá, ex-ministro do Desenvolvimento foi afastado por suspeição  de obstruir investigações da Lava Jato. Contudo, acertou o presidente em exonerá-lo até completa apuração da conduta dele( senador Jucá). Devemos lembrar de um princípio fundamental de nossos Códigos Civil e Penal de que todos têm direito a ampla defesa e ao contraditório. E como vem reiterando o próprio  ex-ministro investigado, não há nenhum demérito em ser investigado, o demérito é a condenação após o trânsito em julgado.

Presidente Michel, conte comigo, estou com V. Excia e aberto a críticas positivas! Diferente do paraquedista, morto pela resposta contrária (estou consigo e não abro)  de seu paraquedas, numa única e fatal vez de infidelidade. Que trágico.   Maio/2016.

(João Joaquim, médico, articulista DM - www.drjoaojoaquim.com  [email protected])

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