Os historiadores, com certeza, daqui a algumas décadas, descreverão com isenção o atraso que os últimos treze anos representaram para o desenvolvimento econômico do Brasil. No comércio exterior, aliás, essa defasagem está bem explícita, mas deverá se acentuar ainda mais, se nada for feito para enfrentar o novo cenário mundial em que deverão predominar grandes acordos regionais como o Tratado Transpacífico (TPP na sigla em inglês), assinado em fevereiro entre Estados Unidos, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietnã, e o tratado que vem sendo negociado entre Estados Unidos e União Europeia, apesar dos protestos que ocorrem em várias capitais do velho continente.
No total, esses dois acordos vão representar 75% de todo o comércio global e, ficando o Brasil de fora de ambos, não só terá de se submeter às regras que serão impostas como terá de encontrar uma estratégia política e comercial para continuar sobrevivendo num mundo extremamente competitivo. Basta ver que, hoje, o País exporta US$ 54 bilhões para os países do TPP. Desse volume, 35% são produtos manufaturados que vão para os Estados Unidos, México, Peru e Chile.
Como se sabe, esses produtos vão enfrentar uma competição dos produtos norte-americanos e japoneses que serão beneficiados pelas isenções estabelecidas pelos países-membros do TPP. Já os produtos agrícolas vão concorrer com aqueles exportados pela Austrália e Nova Zelândia, que, obviamente, contarão com as vantagens oferecidas pelo tratado.
Diante desse cenário, o Brasil continuou, praticamente, paralisado e isolado. Por isso, o que se espera agora é que o governo interino de Michel Temer procure uma reaproximação mais intensa com o mercado norte-americano e procure levar de vez o Mercosul a um acordo com a União Europeia, depois de quase 16 anos de negociações infrutíferas.
Se o Mercosul tivesse se mantido na trajetória que seguiu em seus primeiros 11 anos, quando buscou a liberalização econômica e a abertura de mercados, e não se transformado em fórum político e social, sem avanços na área comercial, por certo, teria ajudado a viabilizar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo governo norte-americano, e concluído o acordo com a União Europeia. Sem contar que já estaria funcionando como união aduaneira, tal como foi preconizado no Tratado de Assunção, que o criou em 1991.
Basta ver que, em 2002, 16% do comércio exterior brasileiro eram executados com os países do Mercosul e, hoje, essa porcentagem mal chega a 9%. Parece claro que o Brasil hoje paga a conta provocada por seus próprios erros.
(Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br)