A política está uma chatice. Bora, então, mudar de assunto.
Dia desses, li que a Record vai se dedicar mais à produção de novelas de época em substituição aos já surrados temas que retratam as banalidades de hoje nos formatos de dramas e comédias que outras TVs não enjoam de exibir. Uma mesmice, que convenhamos!
Acho a iniciativa bem melhor do que assistir encenação do que acabei ver quando passei pela rua, embora eu saiba que o passado também teve lá seus pecados.
A vantagem principal da ideia de época está no aspecto ao qual o brasileiro dá pouca importância, ou nenhuma, que é a cultura. Não somos chegados à memória. E isso é péssimo, até para se aprender como se safar de situações descômodas. Concorde ou não, o passado é o espelho do hoje. Quem dele faz uma boa leitura erra menos.
Encenações de época trabalham o imaginário individual e coletivo porque nos transporta para o conhecimento de como viveram nossos antepassados, que, de resto, é a própria revelação de como chegamos até aqui.
A história move elementos significativos. Volta ao passado, portanto, explicando como a vida desenvolve, aguça o sentido crítico na medida em que dá clareza aos fatos, e fundamenta os próprios costumes: linguagens, trajes, pensamentos e por aí vai.
Isso, sem deixar de lado que atores e atrizes de novelas e filmes de época são bem mais intérpretes tanto pela cultura cobrada pelos personagens quanto pela dramaticidade que deles se extrai.
A fotografia das encenações de época agrada mais pelos próprios efeitos exigidos para retratarem tempos pretéritos, além das trilhas sonoras, que acho, melhor elaboradas.
Vou citar apenas dois clássicos exemplos. E nem preciso de mais em defesa da minha tese. Um estrangeiro e um nacional. “E o vento levou” e “Dona Beja”.
Durante a Guerra Civil Americana, quando fortunas e famílias foram destruídas, conta o filme, “E o vento levou”, que o cínico aventureiro Rhett Butler (Clark Gable) e a determinada jovem Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), que foi duramente atingida pela guerra, se envolvem numa relação de amor e ódio. São 238 minutos sem tirar o olho da tela.
No reinado de Dom João VI, Ana Jacinta de São José, conhecida como Dona Beija (Maitê Proença) vive conflituoso romance com Armando Antônio Sampaio (Gracindo Júnior). A trama da telenovela “Dona Beija” transcorre quase toda na cidade mineira de Araxá, em 89 capítulos.
Daqui 50 anos tenho a impressão de que o ano de 2016 será retratado pela dramaturgia como uma grande comédia.
(Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União. ([email protected]))