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OPINIÃO

A história do Acre e da maçonaria acreana

O Estado do Acre, localizado na Região Norte onde estive nos dias 3 e 4 de junho em missão maçônica, participando do Programa Irmanar, da Assembleia Federal do Grande Oriente do Brasil, presidida por Múcio Bonifácio Guimarães, faz fronteira com a Bolívia e o Peru. Na minha curta permanência senti a vibração de um povo maçônico que tem na liderança o Grão-Mestre Estadual José Rodrigues Teles. Tive a oportunidade de ouvir na abertura do evento, um vibrante orador, com um texto de alto conteúdo histórico alvo de aplausos intensos.

Osmir D’Albuquerque Lima Filho, iniciado em 1968 na Loja Fraternidade Acreana. Maçom culto, de boa conversa e com uma história de vida permanente em defesa do Acre, o que ele muito demonstrou quando representante do seu povo no parlamento brasileiro, em exercício como deputado federal. Foi um dos que assinaram a Constituição de 1988, junto com Ulysses Guimarães.

Registro aqui em sua homenagem a aos maçons do GOB-Acre, trechos do seu discurso, com interpretação teatral, que a todos os presentes emocionou.

“Inicialmente agradecemos a presença tão honrada de nossos líderes do Grande Oriente do Brasil em nossa terra.

Vamos começar mostrando o Acre que pouca gente conhece.  Esta é uma terra de bravos, pois pertence à Federação brasileira por opção de sua gente que se rebelou contra a orientação do poder central brasileiro e conquistou pelas armas sua independência em relação à Bolívia.

Nós fomos um país independente por duas vezes: a primeira vez com a ‘República de Galvez’, em 14 de julho de 1899, cuja lembrança é a bandeira que nos serve de símbolo, mas de efêmera duração, dissolvida em 15 de março de 1900, por intervenção militar brasileira, que devolveu o território à Bolívia; e a segunda vez com o ‘Estado Independente do Acre’, fundado em 27 de janeiro de 1903, que teve seu término com a incorporação ao Brasil através do Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903, pelo Brasil e a Bolívia.”

Na sequência do seu pronunciamento, enfatizou que: “Naquela época a enorme quantidade de borracha produzida pelo Estado insurreto teria como contrapartida a imensa arrecadação de impostos, fator sobremodo determinante do interesse brasileiro pela região.

Quando incorporado o território passou a ser a terceira economia da federação brasileira, pagando em pouco tempo, com a renda da seringa, a pesada indenização de dois milhões de libras esterlinas exigidas pela república boliviana.

Por conseguinte, vê-se que o Estado do Acre não deve ao Brasil sua independência, conquistada por mérito de seu povo, seja pelas armas, seja pela indenização paga com o esforço do látex.”

Sobre a maçonaria na história do Acre afirmou que: “Por isso é que começaram os primeiros movimentos autonomistas, e com eles, a própria história da Maçonaria Acreana. Maçons vindo de diversos lugares, atraídos pela riqueza da borracha, mas cultos e formadores de opinião, abraçaram a causa acreana em encontros que antecedem a fundação da primeira loja em nosso território.

E foi precisamente no município acreano de Xapuri, berço histórico de nossas lutas libertárias, que foi fundada a primeira loja maçônica, denominada ‘União Acreana’, em 2 de junho de 1904, dentro de uma lancha, talvez um fato inédito na história da maçonaria no Brasil. Depois foram fundadas as lojas ‘Igualdade Acreana’, em Rio Branco, em 1906; ‘Fraternidade Acreana’, em 1907, em Cruzeiro do Sul; ‘Libertadora Acreana’, em Tarauacá, em 1913; ‘Fraternidade Trabalho’, em Sena Madureira, em 1923; e ‘Tereza Cristina’, em Brasiléia, também em 1923, todas jurisdicionadas ao Grande Oriente do Brasil.”

Com a crise de 1927: “Das seis antigas lojas a única que continuou pertencendo ao GOB foi a ‘Fraternidade Acreana’, por isso denominada de ‘A Fidelíssima’ pelo GOB, e que hoje conta com 108 anos de existência, fundada em 19 de dezembro de 1907. É minha loja-mãe, e tenho a honra de representá-la na Soberana Assembleia Federal Legislativa Maçônica.”

“Esta centenária loja participou ativamente da história acreana, assim como as cinco antigas lojas que pertenceram ao GOB. A ‘Fraternidade Acreana’, através de seus líderes, deflagrou o primeiro grande movimento autonomista do Acre, em 1910, cuja aspiração maior era transformar o departamento do alto Juruá em Estado membro da Federação Brasileira. Um grande sonho dos juruaenses. E foi dentro do templo da ‘Fraternidade Acreana’ que o Venerável Mestre João Craveiro Costa, professor e escritor, com apoio de outros membros, redigiu o ‘manifesto autonomista’, que contou com mais de oito mil assinaturas, encaminhado ao presidente da República, num protesto formal pelo abandono em que se encontrava a região.”

No decorrer de toda a nossa história vários protestos e movimentos libertários foram feitos, sempre com a presença ou por iniciativas de verdadeiros maçons. O último deles, o movimento autonomista que transformou o Acre em Estado membro da federação brasileira, no ano de 1962, do qual, por registro oficial, sou o único remanescente. Teve, também, a participação decisiva de vários maçons acreanos, todos do GOB, única potência maçônica existente em nosso Estado à época.

No momento, o projeto maior que está sendo conduzido pelo Grão-Mestre José Rodrigues Teles, com o apoio de todos os nossos filiados, é a construção de nosso Palácio Maçônico.

Para concluir, veneráveis irmãos, faço uma exortação a todos os membros vinculados ao Grande Oriente do Estado do Acre, na qualidade de maçom mais antigo em atividade no nosso Oriente, usando uma frase de Albert Camus: “Não caminhe na minha frente, eu não posso seguir. Não caminhe atrás de mim, eu não posso conduzir, apenas caminhe ao meu lado e seja meu amigo” e meu irmão.

Osmir D’Albuquerque Lima Filho, um dos grandes oradores que ouvi.

(Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil - [email protected])

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