Em 30 de abril de 313, um jovem coimperador unificou o Império Romano do Oriente. Militar de origem humilde e da confiança de Galério, foi um construtor. Venceu algumas batalhas, perdeu outras. Enfrentou gigantes, como seu cunhado Constantino, o Grande, na Batalha de Crisópolis, onde hoje é a Turquia. Gravou seu nome na história. Ele se chamava Gaius Valerius Licinianus Licinius Augustu ou, simplesmente, Licínio.
Como a água, a história também continua seu curso. Em 1130, Sancho Nunes de Celanova, um nobre galego da região conhecida como Barbosa, casou-se em segundas núpcias com dona Teresa Mendes, filha de Mem Nunes de Riba Douro, e de dona Urraca Mendes, senhora da Casa de Barbosa. Com o dote dessa segunda esposa, criou a Quinta de Barbosa, junto ao Paço de Sousa, onde instalou o solar da família, e se ligou à família real, incorporando ao seu nome do local de nascimento – Barbosa. Foi o primeiro a usá-lo.
Apesar da decadência experimentada nos séculos XIII e XIV, a família Barbosa teve grande preponderância no Reino de Portugal, desde a fundação até a Batalha de Alfarrobeira, em 20 de maio de 1449, envolvendo o Infante D. Pedro, na luta imposta pelo sobrinho, o Rei D. Afonso. Quanto ao Leal, Não há registro sobre sua origem. Provavelmente tenha sido algum apelido ou qualidade do Patriarca, como era comum na Idade Média, quando já indicava alguém fiel ao próximo, cujas atitudes são definitivas, imutáveis, firmes e definidas.
Assim vejo doutor Licínio Barbosa. Ele nasceu em 24 de março de 1935. Um domingo. Não sei o horário, nem as condições climáticas. Era começo do outono e devia estar ensolarado e quente na pequena Bom Jesus, Estado do Piauí. Não sei muito mais que isso sobre essa parte de sua história de sucesso. Nem mesmo sei se sua chegada fora programada, ou não passou de algum acontecimento involuntário. Mas, amparado no tempo, esse senhor de todas as verdades, e no conforto da posteridade, em relação aos fatos do passado, sei apenas que Júlio Barbosa de Araújo e Luzia Borges Leal não erram ao escolher o nome primogênito de seu filho.
Estou-me referindo a Licínio Leal Barbosa. Licínio, como o guerreiro romano; Barbosa, como o nobre espanhol; Leal, por tudo o que tem feito em prol da sociedade, das ciências e letras jurídicas e da Maçonaria, como um todo, mas da goiana, em particular.
Licínio, ou professor Licínio, como prefiro chamá-lo, é casado com a senhora Abadia Elizete Silva Leal Barbosa, cujo enlace nasceram Licínio Júnior, Renata e Grace. Profissional de extrema dedicação e zelo, professor Licínio sentou nos primeiros bancos escolares ainda em Bom Jesus, de onde migrou para Anápolis, onde concluiu os antigos ginásio e colegial e, já descobrindo a veia magisterial, lecionou a Língua Portuguesa.
Bacharelando-se em Direito na primeira turma da gloriosa e mais que centenária Universidade Federal de Goiás, em 1964, cuja turma reconheceu o seu valor ao elegê-lo como seu Orador, por aclamação a jornada de sucesso até alcançar os mais elevados títulos acadêmicos, como Doutor em Direito Penal, Livre-Docente e Professor Titular.
Enquanto brilhava no ensino jurídico em respeitáveis instituições como a de hoje PUCGoiás e Unianhaguera, foi na Universidade Federal de Goiás que se notabilizou, chegando ao posto de diretor. Ali, lecionou por três décadas no curso de graduação, enquanto emprestava, também, seus superiores conhecimentos para os níveis de pós-graduação lato sensu – onde o conheci como um de seus alunos – e stricto sensu, além de ter sido um dos principais responsáveis pela implantação dos cursos de mestrado em Direito Agrário e Ciências Penais.
Advogado respeitado por suas posições firmes, conhecimento jurídico e eloquência, também despontou nas letras com a publicação de dezenas de livros e artigos em Português e Francês. Homem de valor inestimável para a cultura em geral, patrono da Academia Goiana de Direito, ocupa a cadeira n° 21 da Academia Goiana de Letras Jurídicas desde 1989 e, vinte anos depois, de forma justíssima, viria a ocupar a de n° 35 da tradicional Academia Goiana de Letras.
Na Maçonaria, fez e tem feito história. Iniciado aos 23 anos de idade, em 8 de junho de 1958, na Loja Roosevelt n° 1, do Oriente de Anápolis, transferiu-se para a Loja Educação e Moral n° 8, nesta capital, em 19 de abril de 1963, a qual permanece filiado. Se no quinquênio anapolino, quando a subida na Escada de Jacó era muito íngreme, galgou o importante cargo de Orador, na sua atual Loja viria a encontrar o espaço adequado para mostrar seu valor, inclusive como Venerável Mestre por cinco mandatos.
Essa Loja experimentou franco progresso em suas gestões, tanto pelo ingresso de 72 novos Obreiros, como pela construção da portentosa sede própria, em seu segundo mandato de 1969/1970, interrompendo mais de duas décadas de moradia no Templo da Loja Adonhiran. Merece destaque o fato de qe o novo estilo arquitetônico dessa construção viria a ser adotado por outras Lojas, como a Roosevelt, Estrela Universal (de Quirinópolis) e a Adonhiran e até do Estado de Tocantins.
Não parou sua trajetória. Entre seus feitos, destaca-se o de Grão-Mestrado como nono Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás no triênio 1975/1978. Durante sua gestão, redigiu e promulgou a sua primeira Constituição; modernizou a Gráfica para possibilitar a impressão dos Rituais, até então adquiridos da Grande Loja de São Paulo; criou o Boletim Informativo e os manuais do Secretário e do Tesoureiro; mais que dobrou o número de Lojas, passando de 41 para 83; visitou cada uma das Lojas antigas e novas pelo menos quatro vezes; conseguiu, junto ao Município, a doação do terreno para construção do atual Palácio Maçônico, sede da Grande Loja; conseguiu, mediante doação, junto ao Município de Aparecida de Goiânia, de 30 mil metros quadrados de terreno para construção de Hospital Maçônico e abrigo de Idosos; ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras Maçônicas, no Rio de Janeiro, vindo a ocupar a Cadeira 32, e fundou a academia Goiana Maçônica de Letras, sendo o titular da Cadeira n° 1.
Desde 1981, é o Soberano Grande Inspetor Litúrgico da Primeira Inspetoria Litúrgica do Estado de Goiás, jurisdicionada ao Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil. Nessa Inspetoria, também deixou sua marca registrada na condição de um dos maçons mais operantes do Brasil: como Soberano Grade Inspetor Litúrgico, cargo que ainda ocupa com denodo e maestria, conduziu, do início ao final, a construção do Palácio Mario Behring – sem dúvida, um dos mais completos e requintados Templo Maçônico da América Latina, no qual funcionam todos os Corpos Filosóficos, da Perfeição ao Consistório, com absoluto conforto, funcionalidade e beleza arquitetônica.
(Ari Queiroz, doutor e mestre em Direito Constitucional, juiz de Direito e professor universitário e de pós-graduação lato sensu e stricto sensu na PUC-GO [email protected])