Os últimos dias mostram a tentativa de fuga à fatalidade de um patíbulo para Dilma, no desfecho do impeachment. E o eixo da mudança vai, finalmente, à recusa, pela presidenta, de se vitimizar, relegando à história o nosso presente embate político.
Dilma forçará o confronto, com todo o ímpeto de um protagonismo reforçado pela alegação de golpe e pelas contradições da equipe do presidente interino.
No quadro inédito desse processo no Senado, Dilma não tem ilusões sobre o resultado do voto. Transpõe, já, para o apelo à esperança a fiabilidade de um retorno sem prazo, a protagonizar as nossas opções de destino. A esperada contundência dos ataques à presidenta perde a primeira tônica, na medida em que as acusações diminuem a nitidez quanto ao verdadeiro impacto das pedaladas, a complexidade dos engastes orçamentários e os precedentes nessa política pública do Executivo.
Só avança, por outro lado, a opinião pública internacional a favor de Dilma, na condenação do vício das quebras de governabilidade típicas da cultura política das nações subdesenvolvidas. Avulta, mais ainda, a rejeição crescente do presidente interino nos repetidos cartazes e gritos de “Fora, Temer”, que levaram, inclusive, à desistência do primeiro mandatário em comparecer ao fim das Olimpíadas. Por sua vez, mais se delineiam a força política de Dilma no Nordeste e o avanço da crença à permanência de um petismo, especialmente no Nordeste, tendente a ver só o carisma de Lula no futuro das esquerdas do Brasil. E essa marca da opinião pública se robustece mais ainda na falta de identidade do governo interino, diante da semelhança dos seus anunciados programas de governo com a proposta do regime petista.
Ao mesmo tempo, no quadro das opções de futuro do PT, desponta a recusa,ameaçada pela direção do partido, do apelo ao plebiscito por eleições, proposto por Dilma. Só se marca, por aí, a ambiguidade sobre as opções de futuro do PT, na diferença de perspectiva sobre a prevalência de Lula no imediato apelo às urnas.
A situação só começará a se resolver após a decisão de aumento ou não de impostos pelo governo Temer, a, de fato, despertar o eleitorado petista, garantindo o Bolsa Família, ou se cristalizando num regime do status quo.
(Candido Mendes, membro do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da Comissão Brasileira Justiça e Paz)