Gosto sempre de basear-me em fatos, em dados, para minhas discussões “psiquiátricas”: um dos fatos é a demonstração de como os Estados da Federação vêm burlando as inúmeras “Leis de Responsabilidade Fiscal”. Por exemplo, estão contratando funcionários públicos bem acima do teto permitido, mas, como o PT fez com as contas públicas, eles também “maquiam” os dados de pessoal. Outro dado, que pode ser visto na figura em anexo, é o dos bancos e grandes empresas “chorando mais recursos no BNDES” em um jornal representante do grande capital. Apesar de 84% da força de trabalho do país estar localizada nas micros, pequenas e médias empresas, todo Governo só tem olhos para os bancos, os grandes exportadores, as grandes empresas, pois são estes agentes que, mais facilmente, lhes pagam propinas ou lhes recolhem os grandes impostos, de modo mais “redondo”, mais localizável, mais manipulável, mais sujeitos a achaques. É também o Grande Capital que faz lobbies, que compra parlamentares, que compra campanhas políticas. Eles têm muito dinheiro, de uma só vez, para fazerem isso; os micros, pequenos, médios, não têm a força individual que eles têm.
Essa situação gera o paradoxo que vimos no Governo PT: “O mais comunista de todos os Governos, foi também o mais Capitalista deles.” Bancos, Grandes Empresas, nunca lucraram tanto como na Era PT.
Por que, então, a sociedade dá tantos poderes para os governos? É porque a sociedade vem sendo, por séculos, até milênios, enganada por um simples subterfúgio psicológico: “Olha, gente, vocês precisam de um Governo que os proteja contra os poderosos exploradores.” No Brasil, esta crença no “poder protetivo” do Governo gera um fato estranho: no país da cordialidade, do tapinha nas costas, da amizade, do “churrasco na laje”, empregados recorrem aos bilhões à Justiça do Trabalho, para ferrarem seus patrões. Ao invés de “conversarem”, entram em luta por meio do Governo garantista (Justiça do Trabalho). Isso porque o próprio Governo os estimula a isso: “Quem os defende do Grande Capital somos nós, os Governantes.” Se um empregado tem uma boa relação socioafetiva com seu patrão, isso é muito mais garantia do que uma “lei trabalhista” de que ele será bem tratado. Todos sabemos, intuitivamente, psicologicamente, disso, mas séculos e séculos de governos nos fazem esquecer disso.
Por séculos e séculos, governos e governantes apregoam que “não é a amizade que irá proteger o fraco, e sim a força de um governo”.
Aí os governantes pegam o poder, fazem uma “leizinha aqui-outra-acolá” e dizem que estão protegendo o pobre. Para a classe média, os governos oferecem as benesses do funcionalismo público e para o alto Capital, os governos oferecem os altíssimos contratos, via BNDES, p.ex., para Petrobras, Oi, Friboi, Eike Batista, etc, ou seja, os “campeões nacionais”.
Classe média e altos capitalistas, assim como políticos, governantes e altos funcionários estatais, se unem, então, em torno do Estado, para sugarem mais ainda da pobreza ignorante. É esta que sustenta toda essa máquina.
Num próximo artigo discorrerei sobre a psicologia do alto dirigente governamental, aquele que acha que as “altas propinas” são um pagamento justo pelo seu trabalho “mediador”, qual seja: o “trabalho” “pacificador social” de engambelar o pobre com umas leizinhas, a classe média com empregos e o grande capital com os “contratos do Estado”.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)