Na distância do tempo, 80 anos não são 80 meses, menos, ainda, 80 dias. E, examinando, historicamente, em sua gênese, é possível afirmar, que, Joaquim Domingos Roriz, nos rincões goianos, foi fincado bem antes.
Na origem de Santa Luzia, nos idos de 1746, quando por caminhos transversos, indo para Meya Ponte (Pirenópolis), do Rio São Bartolomeu, subindo, no encontro com o Riacho Frio, Antonio Bueno de Azevedo e os seus companheiros, dormiram e, que, de lá, ao amanhecer, foram em direção à Saia Velha, com suas quedas d’agua tenebrosas, descobririam o ouro, tão almejado, tão desejado, iniciando-se o povoado, hoje a Luziânia, de tantas e ricas histórias.
Nas duas décadas que se seguem à descoberta de Santa Luzia, continuou intenso o fluxo populacional de portugueses e de brasileiros de todos os quadrantes.
Mas, como afirma Bertram, em sua grande obra sobre a origem de Santa de Santa Luzia, “Família de expressão econômica e política é a dos Fernandes Roriz, de que diversas pessoas citam-se em Joseph de Mello, chegando ao longo do Século XVIII, até que por último apareça
Gabriel Fernandes Roriz, em 1770, considerado por Gelmires Reis, o fundador da atual família Roriz. Havia, no Século XVIII, meia dúzia de povoados e lugares denominados “Roriz” no norte de Portugal”. (in BERTRAN, PAULO. HISTÓRIA DA TERRA E DO HOMEM NO PLANALTO CENTRAL: ECO-HISTÓRIA DO DISTRITO FEDERAL. Editora: EDU – UNB)
Gabriel Fernandes Roriz se casou com Joanna Telles de Mendonça e deixaram seis filhos, o mais velho que se chamava Tristão da Cunha Roriz se tornou Coronel da Guarda Nacional em Santa Luzia e passou a sua patente ao seu filho Joaquim Ignácio Mendonça Roriz, e por ai vieram até os dias atuais.
Daí a origem de Joaquim Domingos, filho de Lucena Roriz. De outra, pelo lado materno, da mãe, dona Jersuleta, a historiadora e escritora Terezinha de Jesus Roriz Machado revela, que, “para melhor situar no tempo quem era José da Costa Aguiar, grande merecedor de nosso respeito e gratidão, diremos tratar-se do virtuoso cidadão já falecido, pai extremoso do senhor Ramiro Aguiar, ilustre luziano, e avô, pelo lado materno do Dr. Joaquim Domingos Roriz, insigne filho de Luziânia e digníssimo primeiro governador eleito por Brasília. (RORIZ, 1996, p. 84; apud. TORMIN, 2002).
Assim, Joaquim Domingos começaria sua trajetória na política, como Vereador de Luziânia, onde seu pai o tivera sido algumas vezes, pelo PSD, o partido de Juscelino Kubitschek.
Após um tempo, cuidando apenas de suas atividades empresariais, resolveu em 1978 se candidatar a deputado estadual por Goiás, e venceu, sendo o candidato mais votado pelo MDB no estado.
Já no PMDB foi eleito deputado federal em 1982. Em 1986 venceu a eleição para o cargo de vice-governador de Goiás, na chapa do governador Henrique Santillo.
Em 1987, teve passagem pela prefeitura de Goiânia, na qualidade de interventor, por mais de um ano, revelando-se um tocador de obras e conseguindo soluções para os principais problemas que a Capital goiana enfrentava naqueles idos, despertando a admiração e o carinho da população.
Em 1988, no mês de outubro, o então Presidente da República, José Sarney, o nomeou governador do Distrito Federal, na época em que essa unidade da federação ainda não elegia o próprio governador, porque, como Capital Federal, não tinha autonomia, sendo adquirida apenas com a Constituição Federal, de 1988.
O Distrito Federal acumulava desgastes junto ao Governo Federal por não resolver inúmeros problemas que se acumulavam na capital, destacando a onda de ocupações e formação de áreas de favelas em diversos pontos do Plano Piloto, as greves de servidores do GDF, principalmente na área da saúde, da educação, da limpeza urbana, do transporte rodoviário, dentre outros problemas de governabilidade, o que possibilitaria a ter alguém como Joaquim Domingos à frente da Capital da Republica.
José Sarney precisava de um governador que fosse uma espécie de Prefeitão do Palácio do Planalto em Brasília e que soubesse transitar no meio popular, e tivesse iniciativas que auxiliassem na redução dos conflitos sociais e na resolução das invasões que tomavam conta de várias áreas do Plano Piloto.
Essa experiência, aliada à tradição de bem tratar os mais humildes, Joaquim Domingos a tinha, exercida por si e por membros de sua família tanto em Luziânia como no estado de Goiás, foi fundamental para a construção da sua trajetória política no Distrito Federal, até à saída para ser Ministro da Agricultura, de onde logo se afastou.
A pretensão de governar o Distrito Federal, na primeira eleição, foi contestada pelos adversários, sob o argumento de que, como já exercera o mandato a poucos meses do pleito, não poderia concorrer à reeleição para um cargo executivo. Contudo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) validou sua candidatura ao considerar que, no período em que Roriz governou o Distrito Federal, o fizera por nomeação e não por eleição, decisão referendada pelo STF.
Em outubro de 1990, foi eleito em primeiro turno, na primeira eleição distrital para governador, e teve como vice-governadora Márcia Kubitschek, (filha de Juscelino Kubitschek).
Roriz é responsável por muitas obras na capital, pela fundação de muitas das cidades e setores do DF. Samambaia, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II, Santa Maria, São Sebastião, Paranoá, Sobradinho II, Vila Roriz, Aguas Claras, Sudoeste. Enfim, quando hoje muito se fala em mobilidade urbana, Roriz fizera uma revolução, tendo sido os seus projetos reconhecidos e premiados pela ONU.
Como um grande empreendedor, fez a Ponte JK, vários viadutos, o Metrô de Brasília, Corumbá III, IV, Museu da Republica, Biblioteca Nacional, hospitais, escolas, entre tantas outras, mas o lado social também sempre falou alto em seu coração, e diversos dos seus programas para atender os mais necessitados viraram referencia nacional, muitos dos quais foram copiados pelo Governo Federal.
Na eleição de 1998, disputou contra Cristovam Buarque, do PT, e foi eleito no segundo turno governador pelo PMDB, em uma eleição ganha por pequena vantagem de votos (51,26% a 48,74%). Em 2002 Roriz foi reeleito, derrotando no segundo turno Geraldo Magela, do PT. Roriz venceu mais uma vez, em disputa apertada, e assumiu seu quarto mandato como governador do Distrito Federal.
Destaque-se, que, fez gestão ao então Presidente Fernando Henrique Cardoso, e obteve a Lei regulamentadora de dispositivo constitucional, garantido o repasse de 1,4% do Orçamento liquido da União Federal, para a manutenção da Segurança Publica, da Capital, bem como auxilio as áreas de educação e saúde, que no presente exercício gira em torno de 13 bilhões, o que garante o pagamento das folhas salariais das respectivas áreas.
Em 2006, se candidatou ao Senado pelo PMDB e foi eleito em 1º de outubro do mesmo ano. Assumiu em 1º de fevereiro de 2007 e renunciou ao cargo em 4 de julho. Não queria disputar o Senado, pois achava que não tinha o perfil mais adequado para o cargo, se sentia mais afilado como executivo, mas as circunstâncias politicas o levaram à disputa, para possibilitar a candidatura de sua vice, Maria de Lourdes Abadia, ao Governo, que não se elegeu. Depois de renunciar, não abandonou a política.
No dia 16 de setembro de 2009, Roriz anuncia sua saída do PMDB, pois pretendia ser candidato ao governo do Distrito Federal, filiando-se então ao PSC em 30 de setembro, entretanto, foi impedido pela Justiça Eleitoral, ao argumento de que ele havia renunciado ao mandato de senador, embora o STF nada tenha decidido, porque restou empatada a questão, em 5 a 5. Ainda que, posteriormente, o STF tenha entendido que a lei sequer podia ser aplicada na eleição de 2010.
Em 4 de agosto de 2015, Roriz recebeu o título de cidadão honorário de Brasília, o ultimo evento que participou, no Memorial JK, onde milhares de brasilienses ali compareceram para homenageá-lo.
No Estado de Goiás, Joaquim Domingos; no Distrito Federal e no Brasil, Roriz, simplesmente, Roriz. Joaquim, ainda jovem, casou-se com Weslian, 56 anos atrás, e do matrimonio, com as bênçãos divinas e da Santíssima, tiveram quatro filhos: Wesliane, Jaqueline, Liliane e Ricardo, (esse falecido ainda infante). E têm quatro netos: Juliano, Rodrigo, Joaquim Neto e Bárbara.
E, ainda hoje, o povo do Distrito Federal, saudoso do seu grande líder, considerado o maior e melhor Governador que já se teve, não o esquece, e mesmo após 10 anos de seu afastamento do cargo, continua cantando, nas ruas, avenidas, quadras, lotes, bares, em todos os lugares, o refrão da musica mais tocante, assim entoada:
“O que é bom a gente sempre se lembra. Marca a nossa vida, faz a gente feliz; Fica na lembrança... Não dá pra apagar.. Não dá pra esquecer: Roriz!”
Feliz 80 anos, governador do povo, Roriz, hoje e sempre!
(Eri Varela, advogado no Distrito Federal)