Os produtores rurais brasileiros já fazem sua olimpíada, arrebatam no sacrifício as medalhas conferidas no ouro, prata e bronze. Faça sol ou chuva, as adversidades climáticas afetem os pés, ninguém na roça pára de correr para ter no lugar no pódio. E exibir o troféu da comida farta ao brasileiro e exportar o excedente, o que significa que o mundo come o que o Brasil produz em termos de proteínas animais e vegetais.
Nesse cenário dos Jogos das Olimpíadas, encerrados domingo no Rio de Janeiro, o articulista Luís Fernando Sá, da última edição revista Isto É, chama a atenção para a solenidade de abertura. Ou mais precisamente para o Brasil que dá certo. O jornalista ressalta a criatividade, a originalidade da festa de abertura, inclusive de algumas das nossas mazelas, sem maiores afetações. Enfim, o brilho, que também se repetiu no encerramento domingo à noite.
Mas, não lhe fugiu o detalhe. Segundo ele, falaram com propriedade do Brasil arcaico, mas esqueceram do Brasil moderno e de seus propósitos. Mostraram como os antigos senhores da terra a exploraram à exaustão, “mas poderiam ter contado a bilhões de espectadores em diversos continentes que boa parte dos alimentos que eles consomem hoje possui origem, esforço, competência e ciência brasileiros”.
E pondera: “O Brasil, de fato, ainda está longe de ser uma nação justa e desenvolvida, mas precisa se orgulhar de suas ilhas de competência, até mesmo estimular que outras venham a surgir.” Finalmente, arremata: “O primeiro ato da Rio 2016 foi inesquecível. O segundo poderia ter sido o de plantar outra semente, a do Brasil que já dá certo.”
Eu que acompanho a vida dos produtores rurais brasileiros de perto percebo a fantástica evolução do segmento. O agropecuarista é sensível às novas orientações práticas. Às vezes ele oferece alguma resistência. Mas na hora que vê a compensação financeira se esvaindo, rapidinho se reposiciona.
Foi assim, por exemplo, com o processo de vacinação nos idos de 70. Em Goiás, e naturalmente os demais estados não de era diferente, a Faeg fornecia a vacina contra as zoonoses de graça. Certos criadores não davam importância. Bastou, por efeitos da globalização, o mundo tomar conhecimento de um minúsculo foco de aftosa no interior da Amazônia, de onde não saiu carne para o mercado exportador, e até os caboclos do Bananal ou os calungas do norte goiano, imunizar o rebanho.
Graças a esse comportamento, o Brasil exporta carnes hoje para o exigente mercado europeu. Os Estados Unidos reconheceram o valor dos rebanhos verde e amarelo e anunciam a compra de carne in natura. E Goiás fez parte direta dessas negociações em Washington através do presidente da Federação da Agricultura, José Mário Schreiner, representante da CNA. Como se percebe, atualmente, o cenário é outro. As lideranças classistas se unem com o governo pelo objetivo comum.
Hoje, o Estado dispõe do Fundo para o Desenvolvimento da Agropecuária em Goiás (Fundepec). Sua do Fundepec é a de proteger o produtor e em decorrência ajudar nas ações de defesa sanitária animal, desde a década de 80. O Fundo indenizatório é privado, mantido pelos produtores rurais, através de contribuições espontâneas. O Fundo é pioneiro no Brasil e serviu de modelo para a implantação de similares em vários estados brasileiros.
A pesquisa tem a ver com toda essa onda de progresso no campo. É afinal ela que gera tecnologia, responsável pela “Revolução Verde”, mas com inteiro respeito ao meio ambiente. O Brasil dá exemplo ao mundo da produção de até três safras anuais e a adoção do sistema ILPF. È nada mais nada mais que a integração lavoura, pecuária e florestas. Na realidade, o sistema busca integrar sistemas de produção de alimentos, fibras, energia e produtos madeireiros, realizados na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação.
A idéia é oferecer maior dinâmica aos ciclos biológicos de plantas e animais, insumos e seus respectivos resíduos. Objetiva, também, a manutenção e reconstituição da cobertura florestal, a recuperação de áreas degradadas, a adoção de boas práticas agropecuárias e aumentar a eficiência com o uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, possibilitando, assim, gerar emprego e renda, melhorar as condições sociais no meio rural e reduzir impactos ao meio ambiente.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) foi criada em 1973 por iniciativa do ex-ministro da Agricultura do governo Médici (1969 a 1973), agrônomo e professor Luiz Fernando Cirne Lima. Constitui um modelo de agropecuária tropical genuinamente brasileiro. E atualmente supera as barreiras que limitavam a produção de alimentos, fibras e energia no País. E contribui no esforço de transformar o Brasil.
Atualmente a agropecuária nacional é uma das mais eficientes e sustentáveis do planeta. Foram incorporadas extensas áreas de terras degradadas dos cerrados aos sistemas produtivos. A região agora é responsável por quase 50% da produção de grãos. Quadruplicou a oferta de carne bovina e suína e ampliou em 22 vezes a oferta de frango. Essas são algumas das conquistas que tiraram o Brasil de uma condição de importador de alimentos básicos para a condição de um dos maiores produtores e exportadores mundiais.
Pelo que se vê, as olimpíadas dos produtores e de toda a cadeia produtiva do agronegócio não nasceram na Grécia, mas foram estimuladas no meio rural pelos produtores brasileiros. Eles dão exemplo de notáveis maratonistas, de competência e de modernidade.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista pela Histradut em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)