Anos atrás, lendo o livro “Genocídio americano: a Guerra do Paraguai”, de José Chiavenatto (Editora Brasiliense, 1979, 188 págs.), pude compreender que aquele nosso país vizinho chegou à condição de uma nação miserável por obra e graça de vizinhos invejosos, que forjaram uma guerra para exterminá-lo.
Durante anos a Guerra do Paraguai foi omitida a história e sua causa, bem como a forma como se desenvolveu o conflito foram manipuladas, ocultando-se o que de fato de que a guerra representou, não só para os países que formaram a Tríplice Aliança, mas para o Império Britânico.
Antes de qualquer consideração, sobre a Guerra do Paraguai, necessário fazer uma contextualização histórica do país, no período que antecedeu a guerra.
O Paraguai tornou-se independente em 1811, bem antes dos demais países latino-americanos que se encontravam sobre o domínio de caudilhos e imperiais. O país era governado por Francia (cognominado “El Supremo”), que usou o absolutismo como método de governo em benefício do povo, perseguindo ricos e tornando insuportável a vida dos oligarcas. Nesse período ocorre um grande desenvolvimento no país, surgem fábricas, o analfabetismo desaparece e Francia alia-se ao povo, que passou a deter os meios de produção.
Francía, primeiro presidente paraguaio, vislumbrava que seu país somente iria para frente caso tivesse uma política econômica voltada para o povo, contra os grandes fazendeiros e comerciantes, que constituíam uma elite predatória, não comprometida com o futuro e o desenvolvimento da nação guarani. Este ideal foi seguido pelos outros dois presidentes que se sucederam a Francía, o pai, Carlos Lopéz e o filho, Francisco Solano Lopéz, que no nosso vizinho país é merecidamente um herói, e não a figura que nossos historiadores convenientemente pintaram na história oficial.
Aos poucos o Paraguai vai estruturando uma nova forma de governo, criando novas relações econômicas e promovendo a primeira grande reforma agrária da América Latina. Resumindo, diante do grande impulso de desenvolvimento paraguaio, a Inglaterra sentiu que a dependência dos países latinos estava crescendo, e o Paraguai despontava como o exemplo da total independência político-econômica. E forjou o que chamamos de “Guerra do Paraguai”, que durou de 1864 a 1870, com a derrota do Paraguai para os países que formaram a chamada Tríplice Aliança: o Brasil, a Argentina e o Uruguai, todos visceralmente dependentes no império britânico, sob o argumento de que a nação guarani estava tentando impor uma política expansionista. E acabou por literalmente exterminar a nação vizinha, pois na última batalha, de Acuña Ñe (que sequer é mencionada), à falta de homens, o Paraguai foi defendido por soldados-meninos, de até doze anos, pois os homens haviam sido exterminados.
Isto, no Paraguai. Em Cuba, que hoje anda pedindo bênção pros cachorros, a transformação – para pior – foi simplesmente assombrosa. Alguns articulistas ainda consideram Fidel Castro estadista...
Em 1959, Havana era a cidade do mundo com o maior número de salas de cinema, batendo Nova York e Paris, que ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente. A primeira nação da América Latina e a terceira no mundo (atrás da Inglaterra e dos EUA), a ter uma ferrovia foi Cuba, em 1837. Em 19 maio de 1913 quem primeiro realizou um vôo em toda a América Latina foram os cubanos Agustin Parla e Rosillo Domingo, entre Cuba e Key West, que durou uma hora e quarenta minutos. A primeira nação da América espanhola que utilizou máquinas e barcos a vapor foi Cuba em 1829, que já tinha instalado, em 1889, o primeiro sistema elétrico de iluminação em toda a América Latina.
Entre 1825 e 1897, entre 60 e 75% de toda a renda bruta que a Espanha recebeu do exterior vieram de Cuba. Em 1881, foi um médico cubano, Carlos J. Finlay, que descobriu o agente transmissor da febre amarela e definiu sua prevenção e tratamento.
Antes do final do Século XVIII Cuba aboliu as touradas por considerá-las "impopulares, sanguinárias e abusivas com os animais". A primeira demonstração, a nível mundial, de uma indústria movida a eletricidade foi em Havana, em 1877. O primeiro bonde que circulou na América Latina foi em Havana em 1900, ano em que, antes de qualquer outro país, foi em Havana que chegou o primeiro automóvel, tendo sido também a primeira cidade do mundo a ter telefonia com ligação direta (sem necessidade de telefonista), em 1906; e no ano seguinte estreou em Havana o primeiro aparelho de Raios X em toda a América Latina.
Cuba foi o primeiro país da América Latina a conceder o divórcio a casais em conflito, em 1918. O primeiro latino-americano a ganhar um campeonato mundial de xadrez foi o cubano José Raúl Capablanca, que, por sua vez, foi o primeiro campeão mundial de xadrez nascido em um país subdesenvolvido. Ele venceu todos os campeonatos mundiais de 1921-1927. Em 1922, Cuba foi o segundo país no mundo a abrir uma estação de rádio e a transmitir um concerto de música e apresentar uma notícia pelo rádio.
A primeira locutora de rádio do mundo foi uma cubana: Esther Perea de la Torre. Em 1928, Cuba tinha e 61 estações de rádio, 43 delas em Havana, ocupando o quarto lugar no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, Canadá e União Soviética.
Em 1937, Cuba decretou pela primeira vez na América Latina, a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e a autonomia universitária, e em 1940, Cuba foi o primeiro país da América Latina a ter um presidente da raça negra, eleita por sufrágio universal, por maioria absoluta, quando a maioria da população era branca. Ela se adiantou em 68 anos aos Estados Unidos. Em 1940, Cuba adotou a mais avançada Constituição de todas as Constituições do mundo, sendo o primeiro país na América Latina a conceder o direito de voto às mulheres, igualdade de direitos entre os sexos e raças, bem como o direito de as mulheres trabalharem.
Em 1950, Cuba foi o segundo país do mundo a ter uma transmissão pela TV. As maiores estrelas de toda a América, que não tinham chance em seus países, foram para Havana para atuar nos seus canais de televisão. Em 1951, Havana teve o primeiro hotel com ar condicionado em todo o mundo o Hotel Riviera, bem como o primeiro prédio construído em concreto armado em todo o mundo, o Focsa, em 1952.
Em 1954, Cuba tinha uma cabeça de gado por pessoa, ocupando a terceira posição na América Latina (depois de Argentina e Uruguai) no consumo de carne “per capita”, e em 1955, Cuba é o segundo país na América Latina com a menor taxa de mortalidade infantil. Em 1956, a ONU reconheceu Cuba como o segundo país na América Latina com as menores taxas de analfabetismo (apenas 23,6%). As taxas do Haiti eram de 90%; e Espanha, El Salvador, Bolívia, Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala e República Dominicana 50%.
Em 1957, a ONU reconheceu Cuba como o melhor país da América Latina em número de médicos “per capita” (um por 957 habitantes), com o maior percentual de casas com energia elétrica, e em 1958, é o segundo país do mundo a emitir uma transmissão de televisão a cores. Em 1958, é o país da América Latina com maior número de automóveis (um para cada 38 habitantes), de eletrodomésticos, e ao longo dos anos cinqüenta, detinha o segundo lugar em internações “per capita” na América Latina, à frente da Itália e mais que o dobro da Espanha. Em 1958, apesar da sua pequena extensão e possuindo apenas 6,5 milhões de habitantes, Cuba era 29ª economia do mundo.
Em 1959 veio a Revolução comunista, e hoje, com o corte da ajuda soviética, resta o desespero de uma população faminta, sem liberdade nem mesmo de abandonar o país, uma nação sem dignidade, onde a atividade que mais emprega é a prostituição.
É isto que o Brasil tem que evitar.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa (AGI), escritor, jurista, historiador e advogado, [email protected])