Opinião

Baile do Rubi

Diário da Manhã

Publicado em 14 de setembro de 2016 às 03:13 | Atualizado há 9 anos

Em Goiânia a realização do Baile do Rubi no mês de agosto, todos os anos, já virou tradição. Da capital migrou para as principais Subseções da OAB, o que significa dizer as principais cidades goianas. Não é um baile de gala, apesar da sofisticação. Não poderia ser baile de gala, porquanto estaria excluindo muitos advogados sem condições financeiras de usar smoking. A recomendação é de traje social completo, mas com tolerância  na vestimenta diferente.

O rubi é uma pedra preciosa de cor vermelha usada nos anéis de formatura de advogados. O médicos usam esmeralda verde, os engenheiros safira azul, os odontólogos granada grená, os farmacêuticos topázio imperial (amarelo) e por ai vai. Da mesma cor das pedras dos anéis são as cores de cada profissão. A cor vermelha é a cor do Direito. Anéis de formatura já caíram em desuso, mas já foram símbolos de status. O anel de rubi significava prestigio e embora não seja tão utilizado atualmente era usado para identificar o Advogado.

Mantendo a tradição, o Baile do Rubi encerra as festividades comemorativas do Dia do Advogado, mesmo que a data de sua realização não seja 11 agosto, relativa à data da criação  dos cursos jurídicos no Brasil (11 de agosto de 1823). É interessante a observação de que a criação  dos cursos jurídicos no Brasil aconteceu logo apos a independência (1822), isto porque os brasileiros que iam estudar Direito na Europa, principalmente em Coimbra (Portugal), sofriam alguma forma de hostilidade e passavam por constrangimentos em razão da conduta de cidadãos da outrora metrópole, que discordavam da recente autonomia brasileira. Hoje, o termo próprio para a conduta de antanho é bulling, palavra usada para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de pessoas, deixando sequelas psicológicas nas vítimas.

Seguindo a tradição dos anos anteriores foi realizado no dia 26 de agosto próximo pretérito o Baile do Rubi, no espaçoso e aconchegante salão de festas do Clube de Esporte e Lazer da OAB. A banda atendeu as expectativas, com três cantores se revezando nas apresentações, acompanhados de modernos instrumentos. Para os mais jovens as músicas hoje executadas são bastante diferentes daquelas que os mais velhos se lembram, nos denominados “anos dourados”. A seleção  de músicas sertanejas agradou ao público de todas idades, mesmo porque mexe com a cultura dos goianos.

Um toque especial de requinte foi a disposição da mesas, com dez cadeiras cada e os participantes poderem usufruir de diversos lounges espalhados pelo imenso salão, ambientes bem distribuídos para os momentos de bate-papo. Os vários ambientes de descaso se fizeram necessários em razão do grande número de pessoas que adquiriram ingressos individuais, ficando as mesas para grupos organizados e famílias. A iniciativa de viabilizar ingressos avulsos objetivou atender, principalmente, o jovem advogado, contingente considerável de inscritos na Ordem. Sem duvidas que o preço cobrado na reserva de mesas, e mesmo ingressos avulsos, pode parecer elevado. Todavia, foi compensando pelos requintados, fartos e  variados buffets com o sistema “all-inclusive”, que no valor do ingresso estava incluído todo tipo de bebidas e de comidas. Não foi o caso apenas de open bar, pois os lanches, petiscos, jantar, bebidas alcoólicas e não-alcoólicas foram servidos durante todo o transcorrer do baile. A referência a buffets, no plural, é feita porquanto não foi apenas um, mas vários (bebidas, petiscos, jantar, doces, etc). Somando tudo (música, atendimento dos diferentes buffets,  arranjos, mesas, ambientes de bate-papo), inegavelmente foi uma noite inesquecível. Ainda, a Caixa de Assistência dos Advogados disponibilizou local próprio para os participantes darem um tempinho na animação e poderem relaxar, recarregando as energias, com espaço oferecido para serviços de massagem, cabeleireiro, costureira e degustação de espumante.

Para muitos poderá fazer sentido a crítica de que em momentos de tantas dificuldades econômicas a realização do Baile do Rubi estaria na contramão da realidade social. Contrário a esse ponto de vista, vale a alegação de que alguns momentos de lazer, sonhos e descontração são necessários para fugir das agruras do dia a dia. Seria bom que houvesse Baile da Esmeralda, Baile da Safira, Baile do Topázio e outros tantos relativos às diferentes profissões liberais.

Considerando que a atual administração da OAB-GO prima pela transparência, sobre o custo/benefício é oportuna a comparação com anos anteriores: em 2012 a receita foi de R$ 341.685,00 e despesa de R$ 631.249 (saldo negativo de R$ 289,564,00); em 2013 a receita foi de R$ 334.950,00 e despesa de R$ 688.710,00 (saldo negativo de R$ 353.760,00); em 2014 a receita foi de R$ 334.170,00 e despesa de R$ 466.876,00 (saldo negativo de R$ 132.706,00; em 2015, ano eleitoral, a receita foi de R$ 349.430,00 e despesa de R$ 703.340,00 (saldo negativo de R$ 353.910,00. No ano em curso (2016), a receita foi de R$ 351.450,00, despesa de R$ 394.842,00 (saldo negativo de R$ 43.392,00).

A atual administração da Seccional entregou a organização do Baile do Rubi a uma comissão especial, que trabalhou com competência e responsabilidade, promovendo uma forma de licitação aberta com tomada de preços para as diferentes compras e prestação de serviços, elaborando um processo completo de tudo relativo ao Baile do Rubi-2016, que ficará para a história. Sem tecer criticas às administrações anteriores, pois os números falam por si, no ano de 2016 o Baile do Rubi não teve “bicão” (pessoa que entra na festa de forma Ilegal, sem ser convidada) e ingressos de cortesia, pois os ingressos foram controlados eletronicamente, abolindo totalmente os denominados “bocas-livres”. Como festividades não estão incluídas nas atividades fins da OAB, o correto seria que a receita cobrisse as despesas, pois não é certo destinar para recreação receita prevista para outras despesas, deixando dívidas para administrações futuras.

Para frequentadores de bailes anteriores, o atual ganhou em público e animação. Nas administrações passadas os saldos negativos foram assustadores. Na versão do baile de 2016, apesar da falta de experiência dos jovens administradores, o saldo negativo foi mínimo, esperando-se que nos anos vindouros inexistam deficits. Estão de parabéns pelo belo evento a Diretoria da OAB e todos integrantes da atual administração,  merecendo aplausos especiais a Conselheira Daniella Kafuri, presidente da comissão organizadora, principal responsável pelo sucesso e brilhantismo da edição 2016 do Baile do Rubi.

 

(Ismar Estulano Garcia, advogado, ex-presidente da OAB-GO, professor universitário, escritor)

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