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OPINIÃO

Porque nos reunimos na maçonaria

“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles",

Mateus 18:20

A maçonaria é uma assembleia de homens livres e de bons costumes que se reúnem fraternalmente para lapidar suas imperfeições, praticar virtudes como tolerância, estudos e cooperação e para glorificar o direito e a justiça. Somos indivíduos que buscamos a prática da correição de costumes e o aprimoramento da vivência através da reflexão e da interação com os ditames determinados por Deus, o Grande Arquiteto Do Universo. Em linhas gerais essa é a razão de nos agregarmos em assembleias soberanas onde as ideias, o respeito à crença de cada um, o sonho de protegermos e honrarmos nossas famílias e a união em torno de ideais sublimes traduzem o que pensamos e o que queremos.

Muitos perguntam porque saímos de nossos lares semanalmente ou mesmo por mais dias e acorrermos a nossas lojas maçônicas ou visitando outras lojas. Com qual razão e qual o sentido da dedicação de irmos ao encontro de outros irmãos para participarmos de sessões maçônicas. Mesmo em nossas famílias há indagações parecidas que deixamos sem respostas simplesmente porque não há muito o que dizer sobre a necessidade e vontade que sermos instados a nos reunir em assembleias fraternas.

Há uma história contada que nos remete com muita clareza ao sentido de nos reunirmos na maçonaria. Conta essa história que teria acontecido em uma cidade do interior de Goiás, perto da divisa com Minas Gerais. Havia um velho maçom, iniciado em nossa fraternidade há mais de 50 anos e que era muito ativo, visitava lojas e procurava ficar sempre em contato com os irmãos. Esse velho homem fora iniciado ainda em Minas Gerais e quando mudou-se para Goiás com a família trouxe a vontade de continuar participando das sessões e filiou-se a uma loja com muita dedicação e zelo.

Contam que já veterano nas lutas, aposentado em seu trabalho e viúvo, pois o Grande Arquiteto Do Universo chamara para junto Dele a amada esposa à qual ele dedicara tanto afeto por toda a vida que partilharam. Já com os filhos formados, casados e com família constituída o velho maçom tinha tempo de sobra para viajar para outras cidades e mesmo onde residia ia quase que diariamente visitar lojas maçônicas. Chegava o final da tarde e o bom e dedicado maçom, veterano e experiente, pegava seus paramentos, envergava seu terno preto e ia para junto de seus irmãos praticar a fraternidade, atividade que há mais de meio século repetia com notável dedicação.

Pois um dia seu neto, jovem, impaciente e cheio de dúvidas como é normal da idade indagou do avô: “vovô, o senhor já participou tanto de reuniões na maçonaria, eu sei que o senhor vivencia essa experiência há tantos anos, já está velho e cansado, porque ainda participa quase que todos os dias dessas reuniões?”, redarguiu o jovem. O velho maçom, do alto de sua sabedoria e com a paciência que somente avós amorosos conseguem manter, disse serenamente para o neto: “meu filho, deixe passar mais um tempo que eu lhe respondo isso”.

Passaram-se meses e um dia estavam novamente juntos o avô - o velho maçom – e o neto. Em um final de tarde na chácara da família o velho homem apreciava o pôr do sol, uma maravilha que Deus nos agracia todos os dias. Sentado próximo o jovem ouvia música com seus fones nos ouvidos. O avô pediu o neto um favor: “meu filho, me faça um favor, pegue um balaio de palha trançada que tem ali na despensa, ele está cheio de carvão para churrasco. Pegue esse cesto e vá lá no córrego e busque um pouco d’água para eu molhar essas plantas, por favor”.

Muito diligente e querendo agradar o avô o jovem pôs-se em marcha e foi atender o pedido. Colocou o carvão no chão da despensa e foi até o córrego pegar a água pedida pelo velho. Todavia, como já era de se esperar, a água vazava pelos inúmeros pontos de escape que o cesto tinha e ele não conseguiu pegar água alguma. Já nervoso com o insucesso o jovem voltou ao avô pronto para reclamar e aumentou sua insatisfação quando viu o velho homem com um sorriso maroto no rosto: “meu avô, o senhor me pregou uma peça. Me pediu para pegar água sabendo que o cesto não ia reter água alguma”.

O velho maçom olhou serenamente para o jovem, expressando a ternura que somente os mestres possuem e disse com toda calma: “meu neto querido, não lhe preguei peça alguma. Apenas respondi à pergunta que me fizeste quando queria saber porque vou sempre à maçonaria”. E continuou o sábio avô: “você deve ter notado que o carvão que estava no cesto o deixara bem sujo, com muita fuligem. E cada vez que você tentou pegar água no córrego, a água escorria e levava com ela toda a sujeira herdada do carvão. Pois, isso mesmo é o que acontece comigo quando vou à maçonaria encontrar meus irmãos. Todas as imundícies, sujeiras e asperezas que a vida me grudou eu tenho oportunidade de aprender novas lições que me limpam a alma e o caráter. Ouço experiências narradas por homens bons e as coloco no meu livro de aprendizado. Convivo com bons irmãos que cultuam a liberdade e fazem da vida uma glorificação da perfeita busca pela verdadeira luz. Enfim, eu limpo minha alma e volto melhora para o convívio com vocês”.

O jovem entendeu bem a lição dada pelo avô e que para nós representa uma singular propriedade. Ao nos reunirmos em assembleias fraternas, praticando o bem, a virtude e a verdade limpamos nossas existências e retornamos em paz para nossos lares, levando amor, harmonia e concórdia para os que amamos e para quem nos cerca. A maçonaria será sempre a ordem sublime que manda seus acólitos para pregar a justiça e a verdade entre os seus e para a humanidade, porque são esses os valores que buscamos praticar entre nós.

Adolfo Ribeiro Valadares é Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás

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