Ando com saudades da época em que um indivíduo orgulhava-se em ser um bom profissional.
Estudar, se aperfeiçoar, dedicar-se com afinco e amor à carreira, é algo que hoje em dia está em decadência junto ao senso comum.
A mentalidade social hoje em dia é a lei do menor esforço. Estudo resumido, dedicação pela metade, amor exclusivo ao ócio, tudo isto virando um padrão coletivo intenso permeado pela sociedade, embora, hoje em dia, o discurso seja contrário, o da qualidade total. Isto não se emprega na prática à maior parte das pessoas.
A busca é genuinamente por um emprego em que muito se ganhe e nada se faça. Lei do menor esforço, do comodismo e da preguiça sacramentada. E o interessante é que tal pensamento coletivo vira um entrave na vida de quem se dedica e é um bom profissional, visto que passa este a ser um fator fora do senso comum. Um chupa cabra ou ET de Varginha. Resumindo, é imperioso que se nivele por baixo, de preferência pela mediocridade, em um cenário de crise econômica e social.
Estes dias acompanhei um amigo empresário que necessitava de um profissional na área de informática, que conhecesse a fundo redes de comunicação. Por atuar com sistemas de segurança, necessitava de uma pessoa com perfil ético, ilibado, além do conhecimento técnico-científico.
Oferecia um bom salário, com muito serviço. Gastou 2 meses até encontrar a pessoa que se encaixasse nas necessidades de sua empresa. Ao fim do processo, me confessou:
-As pessoas reclamam que há falta de emprego. Entrevistamos mais de mil candidatos e, durante as entrevistas, vi de tudo, menos profissionais com postura adequada para ingressar numa grande empresa.
Infelizmente, isto não está isolado a uma única área profissional, ao invés, alastrou-se por todo canto. Executivo, Legislativo, Judiciário, setor público e privado. É a lei do qualquer jeito serve.
Em termos psicológicos, o que está em jogo é o descaso do indivíduo com sua vocação. Na mercantilização da vida, a questão deixou de ser a realização pelo trabalho e passou a ser a troca de tempo por dinheiro. Mais um lado do vazio existencial da pós-modernidade, que acaba por fomentar inúmeras psicopatologias a médio e longo prazo: ansiedade, depressão, dependências, melancolia...
A crise de sentido de vida, nestes casos, engendra-se pela apatia profissional, ausência de realização e distanciamento da vida, uma ruptura com Daimon, no qual o indivíduo, embora trabalhe, faz de forma mecânica e sem vida, anestesiada e vazia. A falta de amor à própria carreira então vira um processo de autoboicote e desrespeito do indivíduo para consigo próprio. Vai levando de qualquer jeito sua existência, tornando a vida uma droga, em um ciclo vicioso: trabalho mal porque ganho pouco, e ganho pouco porque trabalho mal. Como se o dinheiro respondesse a ausência de sentido junto à profissão. A dedicação profissional vai além de ganhos financeiros, transcende o tempo e o espaço e pauta-se no respeito e dedicação.
(Jorge Antonio Monteiro de Lima, analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo)