A mudança de diretores escolares, tão frequente assim, faz do sistema vulnerável empresa. Porque esse processo gerou uma lacuna, ocasionando a atuação desorientada de todo mundo da unidade escolar, tendo de começar tudo de novo. Os fracos ganharam poder e circulam livremente. Nesse maneirismo, o sistema virou terra de ninguém, todos se dão às ordens fantasiosas ou não, só não se sabe de onde vêm. A experiência não conta, quem as tem não fornece por vingança.
No primeiro TCE (Trabalho Coletivo na Escola) do qual participei, nessa nova gestão, falaram-me oficialmente de uma planilha contendo novos critérios de avaliação. Os alunos ganharão "peso" e os professores perderão "peso", pensei se tratar de um lanche aditivado para todos nós, mas não, se tratava, na verdade, de mais trabalho ao professor com objetivo de facilitar “camufladamente” a aprovação sem mérito dos alunos. Poupando as energias deles, assim engordam, e nós emagrecemos, trabalhando mais. Que benção! Falaram-me também do tal bônus para os professores assíduos (enfermos atuantes), dobrando o salário — O "reconhecer".
Tudo isso me fez lembrar a seguinte piada: “um indivíduo incomodado com dois cegos pedidores de esmola perto de seu estabelecimento comercial, quis se vingar deles, fingiu dar uma esmola generosa e anunciou: — Pega, é para vocês, R$ 50,00, dividam. Os cegos começaram a brigar, entre si, cada um pedindo sua parte. Por horas, foram um espetáculo aos curiosos que se aproximaram daquele ponto. Para acabar com a desavença, alguém teve de pensar por eles a possibilidade de ninguém não ter recebido nada.”
Relacionando a parábola com nosso sistema educacional público, e o fato de nunca ter visto um cego rejeitar qualquer esmola, então, a sociedade goiana não rejeitará as facilidades de promoção gratuita. Por que nós professores deveríamos estar preocupados com a qualidade do ensino se somos apenas o chapéu dos pedintes e não o dinheiro? Talvez, só precisamos de alguém justo (sindicato), representando-nos devidamente. E qual professor, na circunstância em que vivemos, quer se dar ao luxo de acreditar na boa interseção? Prove ser pensante, analisando a reforma de critérios da avaliação na educação pública.
Na planilha exemplo, a prova escrita receberá peso 4, ou seja, maior peso. Ora, se os alunos normalmente tiram nota baixa nas provas, isso me parece um blefe, uma vez eliminada a recuperação final. Se, ainda no bimestre, o professor só utilizasse três instrumentos de avaliação com os pesos indicados na tal planilha, como faria a média bimestral do aluno? E a nota substitutiva é uma recuperação de nota e não de conteúdo! Em qual momento da aula se aplicaria a repetição da prova para se obter a nota substitutiva, ou devemos substituir o instrumento avaliativo por outro que não nos fará trabalhar no contra turno, ou o aluno virará dois numa mesma aula, e o professor também? O diário de classe é uma complexidade, a Coordenadora faz uma chamada, e o professor faz outra! Esse cerco visa o aluno ou o professor? A incompatibilidade, já esperada, das duas chamadas, comprova a falta de função dos manejos com ela? Sugiro que façamos apenas um relatório a partir de uma autoavaliação do aluno e enfeitemos as estatísticas, sem atrair destruidoras consequências para todos nós. É como disse o Dr.João Batista Araújo e Oliveira, em entrevista a Rádio CBN, dia 16/08/2011: "As deficiências do sistema acabam punindo o professor".
E a avaliação contínua, tão defendida pelos os doutores da educação, perdeu o lugar para os quatro instrumentos taxativos (pentagrama diabólico) da tal reforma? Ou vão coabitar nas intempéries de uma cultura tradicionalista? Que satisfação vou dar aos pais, questionadores na reunião para entrega de boletins, sobre critérios de avaliação?
(Claudeci Ferreira de Andrade, pós-graduado em Língua Portuguesa, Licenciado em Letras, Bacharel em Teologia, professor de filosofia, gramática e redação em Senador Canedo, funcionário público)