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OPINIÃO

A pós-verdade na política e no Judiciário

Mentira é palavra muito forte para se definir o que o instrumento pelo qual a imprensa, políticos ou pessoas comuns estão se valendo para a explanação de fatos que não condizem com a verdade.

Descrever, compartilhar, induzir os espectadores, atrair formadores de opinião para sua corrente de pensamento é o que importa. A verdade factual perdeu espaço para a criação espetaculosa descrita ou direcionada para que o locutor possa atingir o objetivo almejado.

Trata-se do instituto da pós-verdade. Aliás, esta palavra foi eleita a palavra do ano em 2016 pelo dicionário Oxford.

Ocorre que pouco importa às pessoas a verdade, eis o fenômeno observado. Os tempos apontam para o fato de que cada um escolhe em que acreditar, ou não, porque a opinião já tomou a devida força no cenário público.

Obviamente que o cenário político foi o primeiro a se apropriar dessa possibilidade, já que fica permeada a verdade, que se moldará aos anseios e crenças do interlocutor, sem ter nenhum compromisso com a verdade.

O caráter emocional da pós-verdade deu a ela o espaço necessário ao preenchimento de lacunas que não conseguiam se firmar como preceitos. Diríamos que ela é um princípio com a amplidão capaz de suprir vontades intrínsecas que habitam no coração do homem. Daí a sua popularidade.

Pouco importou se Donald Trump disse as besteiras que disse: afirmou que Hillary Clinton criou o Estado Islâmico, que Barack Obama era muçulmano e que o papa Francisco apoiou sua candidatura. Tanto fez. Valeu o que o eleitor assimilou de seu discurso, tendo imperado a vontade da grande maioria dos americanos. Hoje Trump é o presidente dos Estados Unidos, o homem mais poderoso do mundo. E já desdisse quase tudo que disse, tendo voltado atrás em várias posições, assumindo outras completamente contrárias ao aludido.

Em ano de eleições no Brasil, os acontecimentos não foram diferentes. Os candidatos fizeram promessas inverídicas, afirmações sem fundamentação alguma e declarações desprovidas de senso, mas que atingiram o senso comum, e alavancaram votos que os colocaram no topo da corrida eleitoral.

Em Goiás, Iris Rezende disse que estava abandonando a política, tendo inclusive assinado um documento em Cartório. Não liderava a corrida eleitoral quando o fez, mas sua estratégia deu certo. Uma romaria pode ser vista em seu escritório onde os eleitores imploravam a sua volta e exigiam sua candidatura.

Deu certo, tanto a ‘pós verdade’ anunciada quanto as lágrimas derramadas pelos eleitores de goianos.

Em nenhum dos casos os candidatos foram prejudicados pelo que disseram. Antes, os eleitores filtraram as informações que lhes convinha, amenizando os efeitos do perigo que a mentira poderia significar.

O que a pós-verdade tem a ver com a mentira

Mentira sempre existiu na política, e em tempos passados ela era repudiada. A diferença na pós-verdade é que se for agradável aos ouvidos dos interlocutores, eles a comprarão como verdade, ainda que não seja, e ela contaminará todo o ambiente social ao alcance dos sentidos.

Estratégias semelhantes têm sido usadas pelos instrumentadores do direito. Exemplo disso é a Lava-Jato. Para o grande público, a pós – verdade tem sido utilizada como instrumento de convencimento para amealhar apoiadores dispostos a fazerem com que esta operação atinja seu fim, qual seja, o combate à corrupção.

Muitas informações sigilosas tem chegado aos ouvidos do grande público, que viram aliados jurisdicionais de Sérgio Moro e sócios nas delações fiscalizadoras ou protagonizadas por Rodrigo Janot.

Certa feita, em saia justa, Janot se utilizou da opinião pública para derrubar um importante acordo de delação premiada com a OAS. O suposto vazamento acabou beneficiando aliados tucanos que ficaram extremamente comprometidos judicialmente. Aqui, ela virou o álibi. Eis mais um de seus ofícios.

Vazamentos de informações viram massa de manobra nas mãos de quem sabe jogar. As delações chegam ao grande público para minar contrapartidas ou fomentá-las.

Vazou a gravação em que Dilma nomeava Lula Ministro de Estado. De posse da informação, a opinião pública minou a possibilidade da nomeação, deixando Lula vulnerável e desprotegido das regalias do foro privilegiado.

A repercussão foi bem diferente para caso semelhante. Os sete ministros de Estado de Michel Temer, que igualmente respondem a processos criminais foram devidamente promovidos e protegidos, ainda que os crimes imputados a eles fossem de maior gravidade. A opinião pública pouco deu importância ao fato.

Finalmente, pós-verdade nada mais é que um eufemismo para a palavra mentira.

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