Passado o ambiente mais desafiador no ano safra 2015/16, marcado pela redução da renda em consequência da queda da produtividade, as expectativas para a cultura de algodão neste ciclo (2016/17) são mais positivas. A favor do produtor está o clima, mais oportuno para o desenvolvimento das lavouras – até o momento –, e os preços maiores para a pluma.
Na esteira de mais um ano de redução dos estoques globais, os preços internacionais da fibra devem oscilar em patamares superiores aos da safra passada. A explicação está na manutenção do consumo, que deve permanecer em 24,4 milhões de toneladas, aliada a uma produção de 22,7 milhões de toneladas, resultando em um déficit de 1,7 milhão de toneladas. Com isso, os estoques globais devem voltar a cair e a relação estoque/uso se reduzir, abrindo espaço para alta dos preços.
Outra vantagem tende a vir do aumento dos preços do petróleo em relação à média de 2016, o que influencia diretamente as cotações do poliéster, principal substituto ao algodão. A elevação das cotações do petróleo reflete o recente acordo da OPEP, que entrou em vigor em 1º de janeiro, e visa reduzir a produção em 1,8 milhão de barris por dia, trazendo um novo equilíbrio ao mercado.
É válido ressaltar, no entanto, que os preços atuais da fibra sintética ainda estão em patamares bem inferiores aos da fibra natural, de acordo com o último relatório de mercado do International Cotton Advisory Committee (ICAC). Isso ajuda a justificar a estabilidade global do consumo de algodão e sugere que elevações significativas precisarão acontecer para que o efeito substituição ocorra.
O produtor brasileiro também deverá se beneficiar de boas condições para a fixação do prêmio do algodão face ao cenário ainda apertado do balanço doméstico. Apesar de esperarmos um aumento da produção puxado pelos ganhos de produtividade – já que a área destinada ao plantio no Brasil deve encolher 5% –, a disponibilidade local do produto pode não ter muito alívio, o que deverá acirrar a disputa entre exportadores e a indústria nacional. Vale lembrar que a quebra de produtividade na safra 2015/16 reduziu os estoques de passagem para o nível mais baixo dos últimos quatro anos (233 mil toneladas).
Todo esse cenário positivo para os preços, no entanto, parece já ter sido em grande parte precificado nas cotações futuras de Nova York. Nos últimos 30 dias, por exemplo, foram observados elevações dos preços em toda a curva futura, sugerindo que o produtor deve ficar atento aos principais aspectos que podem inverter essa tendência e impactar potenciais ganhos.
Entre os fatores de risco, estão as pesadas posições compradas dos fundos no mercado de algodão, indicando que qualquer movimento de liquidação pode pressionar as cotações da pluma. Deve-se ter em mente que revisões para cima da produção de importantes países produtores na safra corrente e indicações de aumento de produção no ano safra seguinte podem pressionar os preços da pluma. É importante observar também o ritmo de vendas do estoque chinês a partir do início de março, com potencial reflexo nos preços locais a depender do volume a ser disponibilizado e, consequentemente, nas cotações internacionais, uma vez que a China responde por 13% das importações globais.
Ainda que o cenário para a cultura de algodão seja positivo, o produtor tem que estar atento às movimentações do mercado, sempre calibrando os riscos e as oportunidades a fim de colher o melhor retorno e garantir a sustentabilidade de seu negócio.
(Guilherme Melo é analista sênior de Agronegócios do Itaú BBA)