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Até onde pode evoluir o diálogo entre governo e oposição em torno das reformas em discussão no Congresso. Este passou a ser o tema do debate político desde que Lula, ao ser abraçado por Temer no velório de Dona Marisa, se mostrou disposto a dialogar e até sugeriu ser convidado formalmente para isto. Pode ter sido uma manifestação apenas emocional, num momento de dor como pode ter sido, sim, uma abertura para a formação de uma espécie de “conselho dos ex” para ajudar o Brasil a sair da encrenca em que se meteu por um período longo de uma política econômica de palanque. Lula sabe que vem perdendo o protagonismo na política, embora o Brasil viva uma crise intensa, terreno fértil para o crescimento de discursos populistas e venda de ilusões. Talvez neste momento insistir neste caminho conseguisse sensibilizar os mais de 12 milhões de desempregados e os que vivem o pesadelo de perderem, a qualquer momento, o emprego que têm. O problema é que vai se formando uma consciência nacional de que Lula não seria agora uma solução, mas parte do problema. Seu erro talvez tenha sido a ganância pelo poder, ao fazer sua sucessora. Se tivesse ficado fora da disputa, teria visto, com certeza a derrocada de um oposicionista no poder e aí, então, voltaria como solução. Hoje não, a crise e a corrupção colocam Lula e o PT sob suspeita e com os caminhos mais estreitos para chegar ao povo. Apresentar-se agora como um homem do diálogo, de ideias viáveis, com um certo ar de oposicionista, talvez seja um caminho para voltar à cena política num espaço mais amplo do que o palanquinho da militância que ele tem frequentado hoje. Esta ainda é uma semana de luto para Lula e ele, e todos os demais brasileiros precisam respeitar. E a melhor forma de fazer isto é adotar o silêncio, evitar os comentários, de lado a lado, de ódio e oportunismo. Deixar que as águas corram para ver até onde elas vão levar as intenções de diálogo, manifestadas em momento de dor. É preciso esperar que a dor dê lugar á razão.
(Paulo Cesar de Oliveira, jornalista e diretor-geral das revistas Viver Brasil e Robb Report)
