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OPINIÃO

PMDB e PSDB: juntos em Brasília, separados em Goiás

Corria o ano de 1989, e Iris Rezende Machado (PMDB-GO) era o ministro da Agricultura e José Sarney (PMDB-MA), presidente da República. Ulysses Guimarães, "senhor Constituinte", era o candidato natural do PMDB à presidência da República, mas Sarney tinha outros planos e apoiou a candidatura de Iris, que disputaria a convenção do PMDB com Ulysses e com o governador da Bahia, Waldir Pires  O governador de Goiás a época, Henrique Santillo, não apoiou Iris, que tinha sido fundamental na sua eleição em 1986, contra o ex-governador Mauro Borges (PDC). Iris perdeu a convenção para Ulysses que saiu candidato tendo Waldir Pires na vice.

Este episódio colocaria Iris e Santillo em pólos opostos, dividindo o PMDB no Estado. Em 1990, Iris disputaria a convenção estadual do PMDB contra o então secretário de Saúde, Antônio Faleiros. Iris derrotou o candidato do governador e venceria nas urnas o ex-prefeito de Rio Verde Paulo Roberto Cunha (PDC), chegando ao governo do Estado pela segunda vez.

Este episódio é importante para ilustrar o posicionamento do prefeito Iris Rezende em relação ao governador Marconi Perillo (PSDB), que pretende disputar a convenção nacional do PSDB com vistas as eleições presidenciais de 2018. Em 1989, Iris buscava o apoio de todas as lideranças políticas de Goiás ao seu pleito nacional. Em 2017 ele defende o mesmo: se Marconi for candidato a presidência, ou a vice, num acordo que envolva o PMDB do presidente Michel Temer e o PSDB de Marconi, o posicionamento de Iris é de apoio ao governador.

Ironicamente, Marconi é "discipulo" de Santillo, aquele que negou apoio a Iris em 1989. Mas Iris não trata este assunto com o fígado, e por isto, na sua entrevista ao jornal O Popular, no domingo (5/2) e repercutida no DM pelo editor Helton Lenine, o prefeito analisa este cenário: "Se amanhã eu entender que um projeto político possa ser importante para Goiás, eu não fugirei dele".

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Sucessão

O despreendimento de Iris em relação ao cenário nacional não deve ser entendido como sinal para uma aliança entre PMDB e PSDB no plano estadual. Aqui, no cerrado goiano o buraco é mais embaixo. O PMDB não afina a viola com o PSDB quando o assunto é a sucessão estadual. Enquanto os tucanos já tem candidato definido, através do apoio do governador Marconi Perillo ao vice-governador José Éliton (PSDB), os peemedebistas alimentam dois nomes, o deputado federal Daniel Vilela e o ex-prefeito de Goiânia Maguito Vilela.

José Éliton trabalha para unir a base situacionista, composta de uma plêiade de partidos e lideranças que se reunem no PSDB, PTB, PP, PSB, PNT, PSD, PR e PPS. Não é tarefa fácil acomodar na mesma chapa os interesses dos deputados federais Jovair Arantes (PTB), Roberto Balestgra (PP), Marcos Abrão (PPS), Magda Moffato (PR), Alexandre Baldyr (PTN),  Guiseppe Vecci (PSDB) e dos senadores Wilder Morais (PP) e Lúcia Vânia (PSB). Imagine se o PMDB fosse incluído nesta equação? Resumindo: não dá para unir alhos e bugalhos.

O PMDB não cogita aproximação política com o Palácio das Esmeraldas. O cavalheirismo de Iris Rezende  e do ex-prefeito Maguito Vilela é relativos às questões administravas de Goiãnia e de Aparecida de Goiânia. A base do partido, que há 20 anos sonha em retomar a direção do Estado, não admite abrir mão deste sonho para apoiar o continuismo marconista com a eleição de José Éliton ou de qualquer outro nome que saia do bolso do colete do governador.

Daniel Vilela se prepara, a tempos, para o desafio de governar o Estado. O primeiro passo foi a renovação do diretório estadual do PMDB, onde saiu à frente, vencendo a disputa interna com o grupo irista, e garanti para si a presidência da legenda no Estado. O deputado também trabalhou para ser o mais votado da legenda, e reeleito, aproximou-se do centro do poder em Brasília, em alianças com o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB=R) e com o presidente interventor Michel Temer (PMDB-SP).

Líder do PMDB na Assembléia Legislativa, o deputado estadual José Nelto é um dos mais ferrenhos críticos do marconismo. Virtual candidato a deputado federal, Nelto trabalhou pela eleição de prefeitos peemedebistas nas eleições de 2016 e tem na ponta da língua o discurso para 2018: "todos contra o PSDB".

A tese de Vilela e de Nelto é que há um desgaste natural após 20 anos de governos consecutivos do PSDB no Estado, portanto, é chegado o momento da renovação. O novo pode se fazer representar pela juventude de Daniel Vilela, que em 2018 completará 35 anos, idade mínima prevista na Constituição  Federal para que se possa pleitear uma candidatura ao Senado ou ao governo do Estado.

Maguito Vilela não tem a juventude do filho, mas tem muita experiência, e isto conta muito também numa disputa majoritária. Ex-governador, ex-senador, ex-deputado federal, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito é um nome conhecido pela maioria dos goianos. Suas gestões à frente do Estado e de Aparecida de Goiânia foram reconhecidamente exitosas. E é esta imagem de bom gestor que poderá lhe garantir a liderança nas pesquisas e ao final a indicação de seu partido para disputar o governo do Estado em 2018.

O prefeito Iris Rezende, por sua vez, sempre foi um líder partidário. Sendo candidato ou não, sempre apoiou a tese de que PMDB, como maior partido de oposição em Goiás, lance candidato ao governo do Estado. Iris não deve fugir a esta regra. E se demonstra despreendimento diante do cenário político nacional, não terá este mesmo sentimento quando forem jogadas as cartas do jogo estadual.

Marcus Vinícius, jornalista

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