Realizaram-se, em 1950, as únicas eleições gerais na história republicana brasileira. Votou-se de vereador a presidente da República. Não havia o cargo de vice-prefeito. Pelo menos aqui, no interior, ele não existia. Pela segunda vez, após o Estado Novo(1937-1945), disputou-se a Presidência. Pela primeira vez, a vice-Presidência. Pela segunda vez consecutiva a UDN, representada, nas duas oportunidades, na candidatura de Eduardo Gomes, foi vencida. Triunfara o PSD com o Dutra, em 1945( depois o Congresso elegeu o pessedista Nereu Ramoso vice-presidente). A vitória do Dutra se deveu ao apoio do Getúlio, escorraçado pelo pessoal da UDN moralista, e o que a UDN golpista temia se concretizou: Getúlio voltou nos braços do povo, sob a flâmula do PTB e com o endosso não oficial do PSD. Foi nessa campanha eleitoral que brotou a palavra “cristianização” como símbolo de traição porque o PSD oficializara a candidatura de Cristiano Machado e apoiara Getúlio Vargas. Para vice-presidente o triunfo coube ao potiguar Café Filho, que se tornou presidente por força do suicídio do Vargas.
Em Goiás, o pessedista Pedro Ludovico derrotou, com facilidade, Altamiro Pacheco(UDN). Ele também “cristianizara”; afinal, Vargas o nomeara interventor e caíram juntos em 1945, ano do surgimento do PSD, do PTB e da UDN. PSD, seu braço na burguesia rural; PTB, seu braço na classe operária. UDN, força radical contra Getúlio.
Essa foi a segunda eleição para governador goiano findo o Estado Novo. A outra se ferira em 1947, vencida pela UDN na pessoa de Jerônymo Coimbra Bueno. O PSD perdera com José Ludovico. A Assembleia Legislativa sufragou Hosanah Guimarães vice-governador, que ascendeu à Governadoria quando Coimbra renunciou para postular o Senado, projeto rejeitado nas urnas. Para vice-governador se elegeu, em 1950, Jonas Duarte, que nos meados de 1954 substituiu o Pedro que saíra para conquistar cadeira no Senado,e o fez, mas em segundo lugar. Coimbra o superou, por magra diferença, graças à desgraça do assassinato do jornalista Haroldo Gurgel, em 1953.
Eleições de 3.10.1950. Bebé Borges, prefeito. Este se chamava, oficialmente, Astolfo Leão Borges, fazendeiro abastado, irmão de dona Gercina, a esposa do Dr. Pedro, o “manda-chuva” de Goiás que edificara a colossal Goiânia, obra que convertera o amanhã em hodierno. Dizem que Astolfo era, naquele tempo, o mais expressivo, eleitoralmente, chefe político rio-verdense. Ele derrotou, nessa ocasião, o seu parente Jesuíno Veloso, da UDN. Jesuíno se elegera vereador em 1947, pelo PSD, com o qual rompera, abandonara o mandato e veio a ser um dos mais fortes líderes da UDN e depois da Arena, sempre na vanguarda da carreira política do seu irmão Eurico( 8 candidaturas, nenhuma derrota, 9 mandatos porque, sendo vice-prefeito, fez-se prefeito diante da renúncia do titular).
Eleições de 3.10. 1950. Há 18 anos morrera Ricardo Campos, deputado estadual, companheiro de Pedro na luta contra Washington Luis, contra os Caiados, contra o intendente Frederico Jayme. Há 30 anos nascera, em Rio Verde, Mauro Borges, filho de Pedro Ludovico e dona Gercina. Também há 30 anos nascera Paulo Campos, filho de Ricardo Campos e Placidina Arantes Campos.
- Juscelino( presidente eleito, pelo PSD, no dia 3.10.1955, empossado dia 31.1.1956)inaugurou Brasília(21 de abril), e dia 3 de outubro Jânio Quadros, pelo fraco PTN e apoiado pela UDN, venceu a corrida para presidente. Em segundo lugar, Teixeira Lott(PSD); terceiro e último, Ademar de Barros(PSP). Para vice-presidente se reelegeu o Jango(PTB),que completava a chapa encabeçada por Lott.
Se em 1950 o governador eleito era cunhado do prefeito eleito, agora o governador é amigo próximo, desde a infância, do prefeito. Estou a me referir a Mauro Borges Teixeira e a Paulo Campos. Para vice-governador triunfou Rezende Monteiro, petebista aliado do Mauro; para vice-prefeito, Edmundo Rodrigues da Cunha(PSD), companheiro e amigo próximo do Paulo.
Os eleitos dia 3.10.1960 tomaram posse em 31.1.1961 para governar até 31.1.1966. Jânio renunciou em agosto de 1961, o covarde Castelo depôs o Mauro em novembro de 1964. Paulo chegou até o último dia. Mauro modernizou Goiás; Paulo modernizou Rio Verde. Em 1966, Paulo será o segundo mais sufragado dos pretendentes à representação goiana na Câmara Federal( primeiero no bloco oposicionista). A ditadura militar roubará seu mandato e suspenderá seus direitos políticos.
Este ano devo lançar “Arquivos Rio-Verdenses”, e enquanto o concluo escrevo “PAULO CAMPOS VIDA E OBRA”. Faço-o com amor e com o apoio do advogado Dr. Lauro Emrich Campos, filho do Dr. Paulo Campos. Ele confia em mim, eu peço a Deus que me ajude a bem cumprir essa honrosa missão.
Apesar de ter quase 73 carnavais, ainda me dou o direito de sonhar em ser escritor. Pelo menos memorialista de Rio Verde. Pelo menos cronista rio-verdense.
(Filadelfo Borges de Lima é autor de vários livros, sócio-fundador da Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios. Aposentado no Fisco do Estado de Goiás, nasceu em Jataí em 1944 e reside, desde 1973, em Rio Verde. É maçom grau 33. Pertence ao Sindifisco/ GO e à Affego)