A recente visita do presidente da Argentina, Maurício Macri, à Brasília marcou uma nova etapa na história do Mercosul, que enfrentou nestes últimos 26 anos muitos obstáculos para concretizar os pressupostos que justificaram a sua criação com assinatura do Tratado de Assunção em 1991. Depois do desvirtuamento das justificativas que foram usadas para a criação com a sua transformação em fórum político-ideológico, hoje o Mercosul parece caminhar para uma conjuntura política que aponta para um est reitamento de suas relações com os demais países da América Latina.
Foi o que apontou Macri em seu discurso no Palácio do Planalto, durante visita oficial ao Brasil, quando defendeu não só uma aproximação do Mercosul com o México, mas também com os países da Aliança do Pacífico (Chile, Peru e Colômbia), além de um tour de force para fechar o tão discutido acordo com a União Europeia (UE), cujas tratativas tiveram início em 1999.
De fato, depois da ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor uma tarifa de 20% sobre todos os produtos originários do México, parece que ao governo mexicano não existe melhor saída que uma aproximação com as nações latino-americanas. E com a UE e a Aliança do Pacífico parece que as negociações do Mercosul nunca estiveram tão perto de chegar a um desiderato feliz para todos os parceiros.
Não se pode, porém, imaginar que as relações comerciais entre Brasil e Argentina vivam uma espécie de clima de lua de mel, pois o presidente argentino não hesitou em defender que os dois países deixem a rivalidade apenas para o esporte e que sejam efetivamente sócios. Mesmo porque, ao contrário do que se supunha com a chegada de Macri à presidência argentina, as exportações brasileiras para a nação vizinha não corresponderam à expectativa, ainda que a balança comercial entre os dois países tenha crescido 72,3% e m 2016, conforme dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Na verdade, as vendas do Brasil para a Argentina cresceram apenas 4,8% em 2016, em função da alta impulsionada principalmente pelos veículos de passageiros e de carga, pelo gás natural e por aeronaves, mas o melhor saldo da balança só chegou a esse ponto em função da queda nas importações. Afinal, em 2016, o Brasil comprou 11,7% menos do país vizinho que no ano anterior.
A expectativa é que, em 2017, esses números sejam revertidos, a partir de uma inserção cada vez maior de empresas brasileiras de menor porte no mercado internacional. É de se lembrar que, em 2016, foram 22.204 as empresas brasileiras que realizaram vendas para o exterior, um crescimento de 9% em relação a 2015 e a maior quantidade desde 1997, quando o MDIC começou a compilar esses dados.
O que se conclui é que esse tipo de micro, pequena ou média empresa – a maioria do setor de manufaturados, como calçados e confecções – está buscando o mercado externo para compensar as perdas registradas no mercado nacional. E que a nova etapa que se vislumbra para o Mercosul haverá de ser decisiva para impulsionar esse segmento. Afinal, o Brasil não pode continuar a depender apenas das vendas externas da Vale, da Petrobras e da Embraer, as três maiores exportadoras do País em 2016.
(Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br)