O agronegócio está salvando o Brasil, mas nos últimos meses está sendo encurralado por questiúnculas e maus entendidos. Se de um lado, o agro empurra o PIB para cima numa economia claudicante, de outro a própria Polícia Federal contribui para desarranjos. A Operação Carne Fraca precipitou ao denegrir um negócio praticado por profissionais e não amadores.
Mas, não é só a PF, que tem prendido bandidos políticos e empresários numa lavagem de lama sem precedentes no Brasil, que comete precipitação. A Operação Carne Fraca constituiu exagero por sua maneira como foi divulgada, atingindo toda cadeia da carne. Foi como atear fogo no palheiro por causa de um palito de fósforo. Trouxe um prejuízo sem precedentes num segmento que tem correspondido.
O JBS que nasceu de um açougue em Anápolis transformou-se na maior rede de frigoríficos do mundo. Foi até certo ponto orgulho nacional. O grupo conseguiu tornar-se o maior em plantas frigoríficas também nos Estados Unidos e invadiu outros países. E com isso, empregou 260 mil pessoas.
Num acordo de delação premiada, os irmãos Joesley e Wesley Batista denunciaram uma rede sem precedentes de 1.829 políticos e 28 partidos. Eles teriam sido contemplados com a astronômica cifra de R$500 milhões. Sobrou até para Michel Temer. Há uma fita de procedência duvidosa, mas que chamusca o presidente. Seu mandato está em jogo.
Com o crescimento do grupo, os pecuaristas sentiram o impacto nos preços da arroba do boi. O JBS começou a cartelizar o mercado, comprando aqui e acolá os pequenos e médios frigoríficos. Os produtores ficaram sem opção de venda. Em Goiânia, a Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), sob a liderança de Ricardo Yano, reagiu. E essa atitude culminou por provocar uma audiência pública no Congresso Nacional, em Brasília.
É claro. O grupo cresceu a todo vapor com a ajuda do BNDES, àquele mesmo que contribuiu com a construção do porto marítimo em Cuba, dos irmãos Castro, e distribuiu benesses na Venezuela, de Hugo Chaves e Nicolás Maduro. O sucesso a qualquer custo tem seu preço, que agora ameaça todo um grupo. Mas, com certeza, os produtores e demais componentes do agronegócio saberão contornar.
Agora, aparece o governo Trump com o seu nacionalismo xenófobo apronta com a carne in natura brasileira. Como bem diz o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, “lutamos quase vinte anos para conquistar o mercado americano e tudo é jogado fora”. Ou parafraseando o presidente da SGPA, Tasso José Jayme: “Agora a vaca vai pro brejo”. Trump não admite concorrência quando vê possibilidade de retirar possível emprego do americano.
Entre janeiro e maio deste ano, os frigoríficos brasileiros embarcaram para o mercado americano 4,68 mil toneladas de carne in natura, ou US$ 18,9 milhões. Já a China, o principal importador, adquiriu no período 52,88 mil toneladas de carne bovina in natura, ou US$ 219,7 milhões de dólares, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
A cota estabelecida era de apenas 60 mil toneladas. O Brasil exporta em torno de l milhão e 300 mil toneladas. Apenas Goiás, exporta 160 mil toneladas.
Mas, a preocupação não é essa e sim a imagem. “Um pequeno problema de vacinação”, observa Pato, um zootecnista de profissão, ou seja, e um técnico que detém toda uma vivência e credibilidade. As irregularidades apontadas por autoridades americanas na carne bovina brasileira, ligadas a reação à vacina contra febre aftosa, referem-se a questões contratuais e não representam risco sanitário.
É mais uma encrenca no caminho que, com certeza, os homens e as mulheres do agronegócio saberão contornar. Os desafios, mesmo que assacados por pedras e lamas, serão vencidos. Para sermos competidores teremos que vencer as adversidades e retirar a vaca do brejo enquanto é tempo.
(Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agrícola pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)