Ao aqui chegar os navegantes portugueses e descobridores da nossa pátria ficaram extremamente encantados com as belezas panorâmicas e naturais da terra de Santa Cruz. Sem demora e movidos por um forte sentimento de gratidão promoveram os ofícios religiosos e celebraram a primeira missa campal em terras brasileiras. O país nascia ao influxo de um forte sentimento de religiosidade. Não tardou e os descobridores acharam-se no direito de poder escravizar os nativos, nossos irmãos em humanidade e verdadeiros donos do território pátrio. E no país verde amarelo começava-se a escrever a página mais empalidecida da história da terra descoberta por Cabral.
Escravizados e humilhados os silvícolas foram impiedosamente massacrados pelos aventureiros que ao procurar o caminho para as Índias, aqui aportaram trazendo a violência e o “progresso” para as terras do novo mundo. Assim teve início a organização social e política da nossa nação. Desta forma foram dados os primeiros passos para que na Pátria do Cruzeiro, pudesse se forjar o berço de uma nova civilização. O país verde amarelo nascia sob o pálio generoso das luzes do Evangelho. O Brasil surgia com a destinação de tornar-se celeiro de alimentos e fornecedor de matéria prima para todo o planeta.
Registram as nossas tradições históricas e espirituais que este projeto divino ainda perdura. O desvio de rota imposto pelo mau uso do livre arbítrio começou pela perversidade dos colonizadores que ególatras e orgulhosos, iniciaram o indesejável processo de dizimação quase plena dos índios, legítimos habitantes do território brasileiro. Finda esta operação vergonhosa e desumana, o sentimento de desamor e perversidade dos colonizadores portugueses, levou-os a promover a imediata importação de mão de obra escrava dos nossos irmãos africanos.
Permeando estas e outras inúmeras dificuldades, a escravizada nação brasileira desde há muito aspirava ver-se livre do jugo português, porque “a terra de Cabral já estava cansada de ultrajes suportar.” Em dado momento histórico o país vê materializado seu sonho libertário. Altaneiro e soberano comtempla com alegria na voz vibrante e no histórico gesto do infante Dom Pedro I o brado de sua independência.
A 07 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga em São Paulo, o imperador escancara para o Brasil e para o mundo, o seu famoso e histórico grito de “Independência ou Morte.” Afinal via-se o Brasil política e economicamente livre do jugo português. Inobstante a consolidação desta histórica conquista política e econômica, para nossa vergonha, o país seguia escravizando os negros africanos. Este inditoso cometimento que acabou por macular indelevelmente a história da nossa pátria.
Depois de vários anos e de lutas acerbas dos inconfidentes, dos poetas, dos prosadores, dos intelectuais e de outros patrícios de ideais libertários, a pena humanitária e generosa da princesa Izabel, acabou por interromper o sofrimento e o martírio atroz e sanguinolento da raça negra no Brasil.
Ao assinar a Lei Área a princesa decretava o fim da escravidão no país. Todavia, os resquícios desta página negra do livro da nossa história ainda exercem nefasta influência à vida do nosso organismo social. O Brasil ainda não é uma pátria inteiramente livre. A comemoração do “Dia da Consciência Negra,” neste 20 de novembro de 2017 arremete-nos a uma profunda reflexão a respeito da prática indesejável do racismo em todos os quadrantes da pátria brasileira. Infelizmente o nosso ainda é um país racista.
Em outra época a voz portentosa e vibrante de Castro Alves o poeta dos escravos, se levanta como incansável aliada da raça negra. Com sua verve inconfundível ele decide cantar em versos as misérias, a desdita, às agruras e o sofrimento da “alimária do universo”, vivenciados pelos nossos irmãos negros nos porões dos navios que o conduziam à escravidão: “Não basta inda de dor oh Deus terrível? É, pois Teu peito eterno inexaurível de vingança e rancor? O que é que fiz Senhor? Que torvo crime eu cometi, jamais que assim me oprime teu gáudio vingador?”
O rasante vou do inconformado poeta condor, filho dileto do fértil e bondoso solo baiano, cruza os mares, os céus e os ares e do alto de sua altiva e majestosa estatura intelectual, vem à terra fazer-se mensagem. Observa com clareza e escreve com nitidez e precisão, a intensa dor da escrava nação. Dos lamentosos gritos que brotavam dos féticos porões dos negreiros navios emergem o sofrimento, a revolta e a dor dos futuros escravos inocentes.
O poeta levanta e ostenta bem alto garbosamente com entusiasmo e alegria a bandeira da libertação. Com a beleza inconfundível de sua verve poética estratifica em versos a lamentosa situação daquele “bando” de mulheres e homens negros, carcomidos pela vergonha e pela dor física e moral. Emerge de sua pena magistral e soberana o grito lucilante da angústia e da desesperação suplicando consolo e força de viver a uma hipotética entidade superior: “Deus ó Deus onde estás que não respondes? Em que mundo, em que estrela Tu te escondes embuçado nos Céus?”
A vida segue e o tempo passa sem parar. Do inolvidável e libertário grito do Ipiranga a esta parte, o Brasil passou a comemorar em 7 de setembro a data magna de sua Independência Política. Pena que os efeitos nocivos do regime do arbítrio e da prepotência hajam arrancado o civismo do peito varonil da brava gente brasileira. Embora a nossa pátria ainda não seja plenamente livre do preconceito, da discriminação, da indiferença e do racismo, os brasileiros, reverenciam a memorável data da consciência negra.
Embora a simbologia magistral das simbólicas as comemorações da Independência e da libertação dos escravos é forçoso reconhecer que o Dia da Consciência Negra é igualmente muito significativo para a história do combalido organismo social brasileiro. Liberdade plena neste país só haveremos de encontrar quando nos desvencilharmos completamente da escravidão de nossa própria ignorância.
Liberdade plena só quando vencermos a violência, o vício, a droga, o preconceito e o analfabetismo. Liberdade plena só quando não mais houver a pedofilia, o estupro, o aborto, a exploração sexual, a escravidão branca, e a criminosa devastação da natureza. Liberdade plena só quando afugentarmos o fantasma indesejável da corrupção, da fome e da miséria comandado pela trilogia: orgulho, egoísmo e vaidade.
Que a partir destas singelas reflexões em torno destas datas históricas possamos nós os brasileiros unir nossas emoções, nossos sentimentos, nossos pensamento, nossos corações e ideais para juntos lutarmos pelo bem da pátria brasileira. Persigamos o superior objetivo de consolidar esta conquista e façamos do Brasil uma pátria verdadeiramente livre, altaneira, soberana, independente, fraterna e igualitária.
(Gustavo Mendanha, prefeito municipal de Aparecida de Goiânia)