Através do gabinete da ver Dra. Cristina, foi realizada, em 21/12, uma Audiência Pública que discutiu a situação do Jóquei Clube de Goiás, na eminência de ser vendido para a Igreja Universal.
A mesa de discussões foi composta pelo ver Rogério Cruz - representando a Iurd, a arquiteta Maria Ester, Presidente do CAUGO, Beatriz Santana - Coordenadora do Iphan, Maria Abadia Silva - representando a Secretária Raquel Teixeira, Henrique Alves - coordenador geral da revisão do Plano Diretor de Goiânia e Superintendente de Planejamento e Gestão Sustentável da Seplanh e Celeocy Cotrim, também da Seplanh. No auditório, a presença de sócios joqueanos, pastores, várias pessoas do povo, assessores de Vereadores, arquitetos, funcionários públicos, dentre outros. Contamos também, com as presenças dos vereadores Paulo Magalhães e Vinícius Cerqueira.
Nós, do Movimento Salve Jóquei, queremos a proteção deste patrimônio, que é histórico, cultural, social e arquitetônico. Para tanto, precisaremos do apoio do poder público, através de parcerias e da negociação das dívidas em impostos, junto ao município.
Ressaltamos, todo o tempo, que apesar das dívidas, o Jóquei nunca esteve à venda, de acordo com joqueanos. O que houve foram gestões que entraram para sanar os problemas e que, no entanto, os deixaram se avolumar. Ora, um clube é para o desfrute e não para arrumar confusão, como observou o amigo Issam Munif's, joqueano das antigas, justificando a ausência de mais joqueanos nesta luta, já que as pessoas estão descrentes, desencantadas com a politicagem que ora reina, em nosso país.
Uma coisa é certa. Poucas pessoas estão fisicamente nesta luta. Mas se perdermos e perdermos o Jóquei, as críticas aos políticos que aí estão envolvidos, virão fortes. A goianidade tem tradição, tem história. Esses políticos não mais, passarão.
Nos últimos 10 anos, várias pessoas tentaram intervir junto às direções, mas não conseguimos nos reunir, nos organizar em um grupo. Isto foi possível, graças ao CAUGO, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, que já protocolou no Iphan, pedido de tombamento do prédio, o que evita a demolição e a modificação estrutural do imóvel, mas não garante recursos para sua manutenção. Diga-se de passagem, há a perspectiva de uma pesquisa de uma professora da Arquitetura, que poderá trazer recursos de organismos internacionais, para este propósito. A pesquisa abordará o espaço físico e também, a questão social e econômica que envolveu o Jóquei, de sua criação, até aqui.
O fato de termos contado com a presença do ver Rogério Cruz, foi muitíssimo relevante, pois ele é o agente negociador, da Iurd, nesta questão. Ele nos contou que é pastor da Igreja Universal há mais de 30 anos, já morou em diversas cidades, inclusive da Àfrica. Contou-nos que estava em Goiânia há um ano, quando se tornou vereador, com mais de 7 mil votos e que está no 2º mandato, para o qual recebera mais de 9 mil votos. Disse também, que por onde passou e morou, sempre procurou conhecer a história do lugar, respondendo-nos, por ter se sentido provocado sobre a preservação da cultura goianiense.
Entendi que entre conhecer e respeitar, existe uma longa distância...
Ouvimos ali, que a Igreja Universal está em mais de 180 países e que aqui em Goiânia tem 55 mil fiéis, distribuídos em 150 igrejas. Ouvimos também, de outro pastor da igreja, que somos poucos e que a igreja consegue fazer um abraço com 4 voltas, ao redor do Jóquei, diferentemente de nós. Fomos, como sócios, questionados sobre “o estado de abandono do clube”. Chegou a ser dito por um outro pastor da IURD, que já que lutamos pelo Jóquei, deveríamos pegar umas vassouras e baldes e ir lá, limpar, cuidar do clube, que está cheio de lixo e mosquitos da dengue e chikungunha... Vexatório!
Nos fora dito também, que a Iurd respeita e trabalha dentro da lei. O CAUGO ressaltou que se constrói leis conforme conveniências e pediu, solenemente, que isto não seja feito, como arranjo, para que a negociação se efetive, em detrimento da cidade.
O bom, foi que o ver Rogério Cruz, disse que a Igreja está aberta a todos os questionamentos e que, se realmente, a Assembleia que “optou’ pela venda clube, foi viciada, a Iurd recua. Temos provas disto, em pessoas, fotos, filme e Ata, já que de onze votos a favor, dois foram de pessoas que não eram sócias. A Assembleia foi convocada nos trâmites legais, pela sua publicação em jornal. Mas não houve divulgação e, tendo sido convocada para as 13 horas, às 13:10, quem chegou encontrou um cadeado, no portão.
Tivemos uma situação que considero relevante: O filho do ex-secretário da Amma, que autorizou a derrubada do bosque do Jóquei, na virada do ano de 2007 para 2008, estava à mesa, representando a Segplanh. Disse - nos que também é joqueano e tem várias memórias afetivas, mas que teria que analisar a matéria sob o ponto de vista da lei e que o Jóquei ainda não está tombado.
Emblemático. O secretário da Amma, àquela época, passou por processo de improbidade, por, entre outros fatos, questões relativas à licenças ambientais. É claro que o patrimônio ecológico do Jóquei fora destruído criminosamente. Tentei impedir conversando com políticos que trabalhava, com a direção do clube; denunciei até ao Greenpeace, mas nada foi feito. Houve inclusive, processo também por registro de ata falsa na Câmara de Vereadores, para a efetivação de faculdade na área do Jóquei. E lá está o concretão abandonado, no lugar do bosque.
Como foi muito bem dito pela companheira Sandra Fleury, “a lei é uma coisa a moral é outra”. Esse processo de venda está eivado de vícios e enganações. São 1.700 sócios remidos. Outros tantos, proprietários. De minha parte, escrevi projeto social há 10 anos atrás. Paguei e entrei enquanto o clube esteve aberto e tenho comprovantes.
Precisei dizer que há muito, o clube está trancado e que o Sr. Luiz Carlos Teixeira Bahia, neto de Dr. Pedro Ludovico e sócio no 01 do clube, precisou de autorização judicial para conseguir entrar lá. É patente que o Jóquei está estrategicamente abandonado, para justificar sua “inviabilidade”. Isto vem sendo construído há mais de 15 anos e somente agora, nos unimos à pessoas realmente interessadas na proteção do nosso patrimônio.
Diante do argumento de que a Iurd ajuda o governo, pois a região central é violenta e a igreja tem “trabalho social” e retira pessoas das drogas, informei que quem faz “trabalho social” é Assistente Social, profissional formado no Serviço Social, em ensino superior. Que o que vai resolver a questão social são as políticas sociais, o poder público, que deve efetivar os direitos sociais. Contei também, que quando as Ong's, igrejas e pessoas bondosas atuam para “ajudar” pessoas, essa “ajuda” escamoteia a questão social, amortece as lutas, aplainando a necessidade dos direitos garantidos na CF/88. Uma boa oportunidade pra dizer isto. O Serviço Social e portanto, assistentes sociais, não “ajudam’ ninguém e sim, garantem direitos.
Maria Ester, presidente do CAUGO, ressaltou a falta de educação patrimonial, lembrando que “milhares de pessoas passam diariamente pela Av. Anhanguera e não têm conhecimento do assunto”. A falta de investimentos na região central advém do processo de esvaziamento provocado pelas políticas urbanas de expansão das cidades, sendo que somente com intervenções urbanas voltadas ao incentivo da frequência e permanência no local, por meio de atividades relacionadas à cultura, ao comércio e à moradia, as áreas degradadas e subutilizadas serão requalificadas.
Ora, a região central é uma área dotada de excelente infraestrutura e possui grande importância histórica para a cidade. Assim sendo, o poder público deve, de acordo com estudiosos do assunto, garantir a identidade dessa área, que faz parte da ocupação original da cidade e portanto, da identidade de seu povo. Diga-se de passagem, são inúmeras, as pessoas idosas, moradoras da região central e seu entorno, que poderão se beneficiar de uma parceria entre o poder público e o Jóquei. Não se pensa aqui, apenas em lazer e esportes para crianças e jovens.
Caíque, estudante de arquitetura, ressaltou o valor do debate para o esclarecimento da população. Fala da importância da preservação pelo patrimônio e que há vários movimentos de estudantes de arquitetura a favor da preservação do prédio.
Maria Ester foi taxativa, afirmou que o prédio não foi abandonado e que o estado de depredação em que se encontra, é proposital para desvalorizar o imóvel e que não serão novas construções no lugar que irão diminuir a violência nesse local, e sim políticas públicas eficientes, que resolvam as questões sociais.
Excelente, a fala do Sr. José Carlos, do Sindilojas, afirmando o interesse do empresariado em revitalizar o centro de Goiânia, dizendo entender que ali deve ser um espaço de lazer e cultura, o que poderá atrair pessoas para a região. Falou da importância de termos um projeto social e eu informei, junto à Maria Ester, que o temos. Já o encaminhamos, para apreciação.
Ouvimos da Sra. Maria Abadia, da Seduce, que o Governador se ofereceu como mediador, na construção de uma melhor solução. A Profª Raquel Teixeira, desde o início, se colocou como nossa parceira, na defesa deste patrimônio.
O vereador Paulo Magalhães, que há meses criticou, via imprensa, a situação do Jóquei, criticou o luxo das igrejas, as grandes construções dos templos. Pediu respeito à história da cidade, ao neto de Pedro Ludovico presente na Audiência, contando sobre alguns dos grandes eventos realizados no Jóquei, desde quando ele era menino e acompanhava Pedro Ludovico, dizendo que era engraxate, mas participava dos eventos, no Jóquei. Comprometeu-se a conversar com o prefeito para buscarem outra área, no parque Lozandes, por exemplo.
O outro pastor da igreja, que nos orientou a ir lavar o Jóquei, dizendo que não gosta de hipocrisia, argumentou que não entende o preconceito contra a Igreja, se dizendo indignado com o movimento de perseguição religiosa que estamos promovendo, mas penso que deixamos claro, que nosso Movimento é para salvar o Jóquei, não tem nada a ver com a igreja.
A estranheza do dia ficou por conta do ver Vinicius Cirqueira, que, por ter sido eleito após ter sido conselheiro tutelar, deveria entender a importância do Jóquei para a cidade, para crianças e adolescentes, mas chegou no fim, debochou do debate e disse que a Igreja pode muito ajudar, chegando também, à conclusão de que há preconceito nosso contra a Iurd e se colocando “favorável” à venda do Jóquei.
Excelente, a fala emocionada e contundente, do Sr. Nicola Limongi Neto, joqueano. Falou da história do clube com seus campeonatos de basquete e natação, falou da história de Goiânia. Rogou apoio aos vereadores, para a revitalização do centro de Goiânia, reafirmou que a venda do Jóquei não resolverá os problemas do centro de Goiânia e ressaltou que o Jóquei é dos joqueanos.
Em suas considerações finais, o pastor, ver Rogério Cruz, disse que contra a “vontade de Deus ninguém pode” e que se ele “tiver que criar leis para a cidade, que vai criar, conforme o entendimento que ele tem”, “sem o menor problema”. Mas também, os pastores mesmo disseram que, “se não for da vontade de Deus, não vão comprar o Jóquei”.
Esperamos sinceramente que não hajam, neste processo, arranjos humanos a favor do poder econômico e espúrios à palavra de Deus.
Impecável, a condução da ver Dra. Cristina. Democrática, elegante e imparcial, embora também desde o início, na luta conosco, pela preservação do nosso patrimônio, que como já foi dito, ainda é histórico, cultural, social e arquitetônico, embora não seja mais, ecológico. Pretendemos rearborizar a área concretada e recuperar as minas d'água, ali sufocadas.
A luta continua. Salve Jóquei!!
(Alexandra Machado Costa, poetisa, assistente social, servidora municipal de Goiânia)