“Bendita és tu entre as mulheres”
Diário da Manhã
Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 02:19 | Atualizado há 7 anosNo sexto mês da gravidez de Isabel, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a Nazaré, uma cidade da Galileia, e apareceu a Maria, que era virgem. O anjo entrou onde ela estava e lhe disse:
“Alegra-te, ó cheia de graça! O Senhor está contigo. Bendita és tu entre as mulheres”.
Ela ficou intrigada com estas palavras e perguntava a si mesmo o significado desta saudação. Porém o anjo continuou:
“Não temas, Maria, porque conquistaste a benevolência do Senhor. Conceberás e darás à luz um filho, e tu o chamarás Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó e seu reinado não terá fim”.
Então, Maria indagou ao anjo: “Como se fará isso se eu não conheço homem algum?”
O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te envolverá em sua sombra. Por isso, o santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e ela, que era chamada estéril, já está no sexto mês. Para Deus, nada é impossível”.
Maria falou então: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Sua palavra!”
E o anjo retirou-se.
(Evangelho de Lucas, cap. 1, vv. 26 a 38).
A gravidez de Maria, cujo nome significa ‘a obstinada’, é uma realidade incontestável à luz do estudo reencarnatório e dos fenômenos de materialização. É perfeitamente possível que uma célula espermática ou até mesmo um óvulo fecundado tenha se materializado no organismo reprodutor da jovem de Nazaré. Isto porque a encarnação de Jesus foi a mais especial que existiu no orbe terrestre. Não se tratava de reencarnação de um Espírito superior, mas puro, perfeito em altíssimo grau de intelectualidade e de moralidade. A organização fluídica do perispírito do Cristo era incomparavelmente complexa. Não haveria, em corpos comuns, a substância material orgânica que originasse e mantivesse durante uma gestação humana, o vínculo vibratório apropriado a encarnação de um ser de elevada pureza. Tudo, no entanto, foi preparado e executado sob a égide da equipe espiritual de Jesus.
O preparo espiritual da jovem Maria foi decisivo e preponderante. Joaquim e Ana eram os pais de Maria de Nazaré, segundo o Protoevangelho de Tiago. Antes do nascimento da filha, Ana também recebeu a visita do anjo Gabriel que lhe anunciou o nascimento da futura mãe do Messias. Até a concepção de Maria, Ana era considerada estéril. Joaquim desencarnara deixando sua esposa e sua única filha ainda criança. Maria cresceu sob forte influência, era descendente do rei Davi, e por isto pertencia a linhagem de uma realeza judaica.
A humildade, a disciplina e a coragem de Maria são exigidas no instante da anunciação feita pelo anjo. São virtudes necessárias para a encarnação do Amor e da Sabedoria. A anônima Nazaré e a simples Galileia ganham destaque que nas Escrituras Sagradas. O Messias, denominado Jesus, nasceria na Judéia, palco das tradições religiosas do Judaísmo, mas fora concebido na Galileia, nome que significa ‘região cercada’, em Nazaré, uma cidade nunca antes citada pelo Velho Testamento. A Sabedoria do Pai manifesta-se onde há humildade, disciplina e coragem. Humildade para reconhecer e assimilar a Fé e a Verdade; disciplina para perseverar na boa conduta e no bom proveito do tempo; coragem para superar obstáculos que tentem impedir a vitória final do Bem em cada ciclo evolutivo do Espírito. A Mãe Santíssima conquistou a benevolência do Senhor, graças a essas três virtudes celestes, bases da Fé, da Esperança e da Caridade. A vinda excelsa de Jesus encontrou em Maria de Nazaré a personificação do amor e da sabedoria de Deus no sublime verbo que se fez luz:
“Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Sua palavra!”
Visita de Maria a Isabel
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho a toda pressa para a região montanhosa, a uma cidade da Judéia.
Ao entrar na casa de Zacarias, Maria saudou Isabel. Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino se agitou em seu ventre, e ela ficou cheia do Espírito Santo. Então, exclamou em voz alta:
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como vim merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Pois quando ouvi a voz de tua saudação, a criança saltou de alegria em meu ventre. Sim, feliz é aquela que acreditou na realização do que lhe foi dito da parte do Senhor!”
Em resposta a Isabel, Maria entoou este cântico:•:
“Minha alma engrandece o Senhor.
E meu espírito alegra-se intensamente em Deus, meu Salvador.
Porque olhou para a pequenez de sua serva.
De agora em diante, todas as gerações me chamarão de bem-aventurada.
Pois o Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas.
Santo é seu nome e sua misericórdia perdura de geração em geração, sobre os que o temem.
Manifestou poder com seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso.
Depôs os poderosos de seus tronos e a humildes exaltou.
Deixou os famintos satisfeitos e despediu ricos de mãos vazias.
Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se da Sua misericórdia – conforme tinha prometido aos nossos pais – para com Abraão e sua descendência, para sempre!”
E Maria permaneceu cerca de três meses com Isabel e depois voltou para casa. (Evangelho de Lucas, cap. 1, vv. 39 a 56).
Maria residia em Nazaré, na Galileia, e Isabel, sua parenta e esposa de Zacarias, na Judéia, possivelmente numa localidade atualmente denominada Ain-Karim, antiga Juta, segundo uma tradição mencionada pela primeira vez entre 520 e 530 pelo diácono Teodósio em De Situ Terrae Sanctae, influenciada provavelmente pelas lendas do Protoevangelho de Tiago. Ain-Karim fica a sete quilômetros ao oeste de Jerusalém. A viagem de Nazaré a Ain-Karim levava quatro a cinco dias.
A visita de Maria a Isabel consolidou a mensagem do anjo Gabriel. A missão de Isabel em relação a Maria foi o prenúncio da missão de João Batista em relação a Jesus. Em Isabel a anunciação do nascimento de Jesus é consolidada. Maria toma consciência de sua gravidez e da importância do Messias tão esperado por todo o povo de Israel. O Filho de Deus também seria seu filho e seu Senhor, o seu Messias e Mestre maior. Graças a Isabel João também saúda a Jesus e a Mãe Santíssima por meio do fenômeno de psicofonia, ocorrido de maneira suave e consciente, nos primeiros instantes em que Isabel avistou a futura mãe de Jesus.
Diante do cumprimento sublime, a inesquecível mãe do sublime Rabi da Galileia responde em cântico de louvor de agradecimento e de sublime exemplo de amor e de humildade. Esse cântico divino é conhecido por toda a cristandade por sua primeira palavra latina, o Magnificat.
Daquele encontro sublime, registrado e contemplado por excelsos emissários do Senhor, consolidou-se a base de cada programa encarnatório que atendeu, de forma eficaz, as primeiras necessidades das ilustres e iluminadas crianças.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é educador, autor e jurista. Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)