Na época em que Kardec viveu, as filosofias de cunho ateísta estavam em voga, como também a ideia de Deus sofria um reducionismo que chegava ao ponto de lhe atribuir um aspecto antropomórfico, com atributos humanos inaceitáveis, no que concerne aos princípios de justiça e universalidade. Enquanto uma elite intelectual construía o seu próprio pensamento, a população menos instruída seguia a tradição de hábitos familiares, formando uma concepção bastante heterogenia.
Essa vertente é abordada no livro “Das causas primárias” – FEEGO Editora, de Otaciro Rangel Nascimento, consultor científico do CNPq, Capes e Fapesp.
O autor focou aspectos do conhecimento científico atual com os conceitos apresentados em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec em sua parte primeira: setenta e cinco instigantes questões que deram origem à 5ª obra da Codificação Kardequiana: A gênese – que completa 150 anos em 2018.
Otaciro correlaciona o trabalho de Kardec com a Ciência de hoje. Sua intenção é conversar com o leitor como quem está numa roda de amigos, falando sobre a Ciência atual, o mundo, o Universo e as diversas concepções de Deus.
Concepções que diferem em função das religiões e filosofias e até da tendência moderna de excluir a ideia de Deus do contexto de tudo que se refira à Criação.
Ele inicia pelo primeiro questionamento do mestre de Lion aos Espíritos luminares que orientaram a Codificação do Espiritismo.
A resposta dos Espíritos à Kardec, na primeira questão: “Que é Deus? “, leva a considerações semânticas, gramaticais e filosóficas.
Ao perguntar “Que é, e não Quem é Deus? – Kardec prenuncia desantropomorfização da ideia da Divindade. Cai por terra a ilusória caracterização do Criador como o ancião coroado, de barbas brancas e longa túnica. Fica excluída a imagem de Deus assemelhada à figura humana ancestral.
Como consequência o questionamento “Que é?” - deixa os Espíritos livres para apresentarem nova maneira de pensar, destituída de um modelo ainda que inconscientemente já imaginado.
Têm-se assim uma maneira distinta de pensar em Deus, excluindo todo pensamento associado à matéria, sugerindo pensar Nele sob o prisma espiritual que somos e não como ser material que estamos – elucida o autor.
Refere-se à missão primordial da Doutrina Espírita: espiritualizar todas as atividades humanas , inclusive a religiosa. Leva-nos a pensar em Deus sob o prisma do espírito imortal que somos e não como ser material que estamos.
A resposta dada reflete a profundidade do axioma: “Deus é inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Representa tudo o que os seres humanos podem compreender de Deus.
Continua o pesquisador: Inteligência Suprema é algo tão maravilhoso e fantástico que dispensa discussão ou controvérsia, por ser conceituação universal. O fato de ser a causa primária de todas as coisas é uma consequência de ser a inteligência suprema.
Nesta perspectiva é impossível aceitar que o acaso possa criar com êxito tantas maravilhas. Resta-nos rejubilarmo-nos por fazer parte desta Criação e poder pensar para compreendê-la.
A inteligência suprema não erra; tudo o que foi criado tem uma razão de ser e se não a compreendemos é por falta ainda de evolução .
Fica claro na obra que Deus não criou o Universo e sim que Deus cria o Universo, pois as transformações mostram constantemente um Universo em expansão.
Relata Otaciro que na astrofísica e na astronomia modernas é constante a observação e descoberta de novas estrelas, novos sistemas planetários, assim como explosões de estrelas em um Universo cheio de atividades.
Cita como exemplo as Plêiades, estrelas jovens de apenas 200 milhões de anos de formação, convivendo em harmonia com o nosso Sol com seus 5 milhões de anos de vida, aproximadamente, com estrutura planetária consolidada.
As reflexões do estudioso mostram que os Espíritos nos apresentam um conceito dinâmico e não estático de Deus, como aquele que se origina da interpretação ingênua da Gênese Bíblica, inibindo nesta análise a já citada ideia antropomórfica de Deus.
Todos os relatos e citações presentes na obra vêm ampliar o campo para a pesquisa em relação às provas da existência de Deus.
Leia “Das causas primárias” e retire desse ensaio filosófico – de quem vai além da percepção comum à possibilidade de uma inteligência menor especular sobre a Inteligência Suprema: fantástica associação da gênese entre ciência e espiritualidade.
(Elzi Nascimento – psicóloga clínica e escritora / Elzita Melo Quinta - pedagoga – especialista em Educação e escritora. São responsáveis pelo Blog Espírita: luzesdoconsolador.com. Elas escrevem no DM às sextas-feiras e aos domingos. E-mail: iopta@iopta.com.br (062) 3251 8867)