Poderíamos estar comemorando o ano de 2.770, se considerássemos o ano um do Império Romano, contado a partir da fundação de Roma (em 753 a.C.). Ou o Ano 5, do Calendário Maia, que iniciou um novo ciclo em 2012. Ou mesmo nem estaríamos comemorando o Ano Novo, se seguíssemos o Calendário Islâmico, cuja contagem se inicia em 1° Muharram, do ano 1, correspondente ao dia 16 de julho do ano de 622 da era cristã.
O sistema de contagem de tempo pelo Método Solar considera três divisões: dia, mês e ano, observando o movimento de rotação e translação, o tempo que a Terra leva para girar em torno de si mesma e do Sol, respectivamente. Para o movimento de translação a Terra leva 365 dias e 6 horas. Da mescla da Ciência com a Religião surgiu nosso calendário, sistema de contagem dos anos baseado no Sistema Solar, definindo o ano um como um marco religioso.
O calendário oficial brasileiro, chamado Cristão, foi uma criação de um monge chamado Dionísio Exiguus. A Igreja não estava satisfeita com o método de contagem dos anos do Império Romano, no que o monge, também matemático, fez alguns cálculos que definiram a contagem a partir do nascimento de Jesus Cristo. A partir do texto bíblico, o monge chega ao "Anno Domini", latim de “o ano do nosso Senhor", considerando-o o ano 1 e, a partir disso, definindo a contagem tendo o Anno Domini como marco. Essa definição surgiu no ano de 525 d.C. (há também registros do ano de 532 d.C.), e foram necessários cerca de nove séculos para o calendário ser popularizado pelo mundo, graças à propagação da religião Católica. Portugal, por exemplo, passa a considerar oficialmente o Calendário Cristão somente em 1.452 d.C. Nas Américas, cujos calendários seguiam os povos pré-colombianos, a adoção do novo sistema chegou com os invasores, ou colonizadores, ou conquistadores europeus.
O fato é que esse sistema de contagem de anos não tem sequer 2018 anos. No máximo, chega a 1.493 anos, dos 4 bilhões de anos do planeta Terra, ou dos pouco mais de 6 mil anos do início da civilização, segundo registros históricos. Ainda assim, é um dos sistemas mais usados no mundo, particularmente o mais usado nos países ocidentais.
Mas tão relevante quanto a contagem, a invenção do reinício é um achado. Reiniciar abre a perspectiva de renovação, de recomeço. Fortalece as mentes cansadas do cotidiano, para a recontagem dos dias e meses, um convite para novos planos. E se de fato o reinício é um fôlego novo para a vida na Terra, saber que sua definição se deu pela junção de Religião e da Ciência é, igualmente, acalentador.
Nosso calendário é, de certo modo, uma prova de que podemos alcançar resultados profícuos a partir do diálogo das diferenças e diferentes, mesmo que estes estejam estrategicamente posicionados em extremos ideológicos, mas unidos em um só espaço-tempo. Feliz ano novo. Feliz 2018.
(Cleomar Rocha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia @cleomarrocha PPG Arte e Cultura Visual | FAV | UFG - professor Media Lab BR, coordenador pesquisador PQ CNPq www.medialab.ufg.br)