O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido permitido pela ditadura militar para fazer “oposição” branda ao regime, teve em sua estruturação a vasta adesão de políticos oriundos do PSD, que era ferrenho adversário da UDN, cujos políticos mais eminentes se abrigaram na Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido sustentáculo da ditadura. Com a democratização, o MDB virou PMDB e a ARENA virou PDS. No PMDB estavam Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Henrique Santillo, João Divino Dornelles, João Natal, Iris Rezende, Lázaro Barbosa, Fernando Cunha, Adhemar Santillo e todos aqueles que resistiam aos desmandos, torturas, corrupção encoberta pela censura, assassinatos e expatriação de milhares de brasileiros. Do lado da ARENA estava a nata da direita brasileira e goiana, que se revezava no poder, com presidentes da República, governadores e prefeitos de áreas de segurança nacional sendo nomeados ao bel-prazer dos chefetes brasileiros e locais, que desprezavam a vontade popular e só nomeavam pessoas de sua estrita confiança e total controle, para fraudar eleições municipais, elegendo prefeitos e vereadores que se submetessem aos seus cabrestos políticos. Pois bem, o tempo passou, o PMDB se desdobrou em PSDB e outros partidos de centro e até de esquerda e a ARENA deu origem ao PFL, ao PPB e, mais recentemente, ao DEM.
A linha mais progressista do PMDB foi fundamental para que a Assembleia Nacional Constituinte, instalada no dia 1º de fevereiro de 1987, construísse a Constituição Cidadã, retomando, prevendo direitos e estabelecendo conquistas para todo o povo brasileiro. Obviamente, a direita raivosa nunca aceitou esses avanços e sempre conspirou contra a regulamentação de muitos artigos da Constituição. O Artigo 6º, por exemplo, já teve o seu texto mudado várias vezes, mas, efetivamente, nunca foi cumprindo em sua íntegra que assegura, textualmente (redação atual): “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da Constituição”. Se tudo isso fosse minimamente cumprido, nossa gente não estava nessa penúria social de agora.
Mas, o que o que parece ruim, pode ficar pior. As forças da direita rancorosa estão assanhadas com as vitórias obtidas em vários países do mundo e já vislumbram candidaturas nacionais e estaduais para promoverem os retrocessos que lhes interessam. Quando alguns aliam-se automaticamente a propostas ridículas, que pregam o ódio aos que simplesmente são ou pensam diferente, temos a perigosa possibilidade de voltarmos ao anos de chumbo e, ao invés de governantes, voltarmos ao tempos de feitores com seus cavalos bravios andando entre a patuleia e distribuindo chicotadas por todos os lados, pois, esses tipos “boçalnaros” não se importam com a democracia e muito menos imaginam que as sociedades evoluem, independentemente de suas visões de retrovisor.
Em Goiás, temos a curiosa situação em que o PMDB, que voltou a ser MDB, quer aliar-se ao DEM, que pode até voltar a se chamar ARENA, ou seja, vítimas e algozes se confraternizando num banquete regado a óleo de peroba, sangue e suor de mula. São os giros que história dá para mostrar que o poder sempre se adapta para manter-se exatamente nas mesmas mãos, algumas delas que estavam levantadas para derrubar a ditadura militar e outras que estavam muito ocupadas consigo mesmas para moverem uma palha que pudesse tirar o povo da tirania.
Quem viveu parte da história dos últimos tempos, não pode cruzar os braços e ver a retomada de Goiás por castas políticas, agora aliadas ao que há de pior na política goiana. Quem repudiou as práticas político/administrativas dessa gente foi o povo goiano, que por cinco vezes aprovou um projeto de avanços constantes, que tirou Goiás da periferia do Brasil, para colocá-lo no centro das atenções econômicas, políticas, de respeito ao funcionalismo público, de investimento em infraestrutura e de geração de empregos, mesmo na crise; e tantas outras conquistas sociais que não podem ser perdidas.
Com Marconi Perillo, já pavimentamos o caminho para o futuro do nosso Estado e, com Zé Eliton, podemos consolidar de vez nossa posição no cenário nacional, fazendo com que Goiás continue a ser modelo de governança responsável e inteligente.
Que os tempos obscuros, dos quais muita gente sente velada vergonha, fiquem onde estão: no lixo da história. Goiás não tem mais espaço para atrasos e bravatas. É hora de avançarmos ainda mais.
(João Aquino Batista, escritor)