Há muito estamos falando, ouvindo e vendo notícias sobre o desemprego. Governos, parlamentares, políticos, economistas, cidadãos comuns, todos temos procurados meios de combate ao desemprego.
Por outro lado, bem menos temos tido a oportunidade de questionarmos, levando para o debate, o tema Trabalho.
Pior: as análises sobre o desemprego, não associam um conjunto de discussões que se incorporam ao tema, como o impacto das novas tecnologias sobre o trabalho, entendendo aí não só sob o ponto de vista da automatização e dos novos equipamentos, mas também das novas formas de organização do processo de trabalho, que requer modificações nas condições de trabalho, nas questões de emprego e salário e nas condições de qualificação do trabalhador.
Então, ao questionar o fato desemprego, penso que é importante dar novos rumos ao teor das discussões. O desemprego não é simplesmente um mal terrível, mas uma consequência natural e irreversível.
Senão vejamos: já era sabido à época de Marx, que o próprio capitalismo destruiria o capitalismo, ao impor um padrão de uso da mão de obra assentada em baixos salários, em ritmos intensos de trabalho, e em altas taxas de rotatividade.
A organização capitalista é voltada para o aumento da lucratividade e não para o desenvolvimento humano, o que diferencia sobremaneira o capitalismo do socialismo, onde o trabalho aparece como necessidade intrínseca ao ser humano enquanto busca de satisfação moral, intelectual, material.
Ora, se os sentimentos de injustiça e indignação pelas condições e resultados do trabalho são presentes no trabalhador que está empregado, imaginemos então o que sente o trabalhador desempregado... a perda da identidade e do significado do trabalho, torna-se, para o desempregado, uma perda do seu significado e da sua identidade no mundo. O buraco se amplia. Mas não vamos falar aqui de caos, dificuldades, humilhações. Nem quero voltar às discussões fechadas e pouco fundamentadas sobre Marx ou sobre os Sistemas de Produção. Tampouco pretendo copiar modelos ultrapassados, mas refazer leituras, análises, conclusões.
Se o socialismo tem seus entraves, é certo que a utopia continua. Utopia, enquanto algo não realizado, e não algo irrealizável, como disse Paulo Freire.
Na famosa, porém pouco conhecida cidade Utopia, do filósofo socialista Thomas Morus, o trabalho físico tem, não menor importância, mas menor desgaste. As pessoas dedicam-se mais plenamente as suas vidas à elevação moral, intelectual, espiritual. Buscam prazeres menos efêmeros do que os que nos trouxe a sociedade capitalista. Lá, os cidadãos têm igual acesso aos serviços públicos de educação e saúde. Não têm problemas de moradia e os índices de violência são baixíssimos, mais devido à qualidade de vida, do que ao sistema carcerário que é extremamente duro e eficaz.
O que quero é avançar a discussão, questionando as implicações do trabalho e a falta dele. Reconhecendo o impacto das novas tecnologias nos costumes, tradições, valores e expectativas dos trabalhadores, que vão construindo novas representações no dia a dia da vida social e familiar.
Existem estudos que mostram que neste século a indústria que mais vai crescer é a do turismo, do lazer e do entretenimento. E perguntamos para quem, se a maioria dos brasileiros não pode viajar, frequentar festas, cinemas, teatros, conhecer a diversidade no mundo das artes plásticas, da música, da literatura.
Entendo, enfim, que pior que o desemprego, é o assédio laboral, comum nas relações de trabalho, o que gera prejuízos à saúde de trabalhadores, a empregadores e à previdência, que banca os estragos deste capitalismo acéfalo; é a baixa remuneração salarial, que remete famílias inteiras ao mercado de trabalho, desvalorizando a mão de obra, pois quando alguém não quer ou não satisfaz, aparecem dezenas querendo determinado emprego.
Pior que o desemprego é o valor dos salários que não garante às famílias, uma boa educação, saúde, moradia e lazer.
Pior que o desemprego, é o trabalhador, ativo ou não, às vezes pequeno comerciante que paga impostos e gera empregos, ao precisar de serviços públicos básicos, se desesperar com o descaso e a incompetência dos serviços e a desqualificação dos profissionais.
Pior ainda, é o tempo passar e ficarmos debatendo os chavões que aparecem na ordem do dia, de modo superficial, unilateral... Se queremos uma realidade diferente, teremos que pensar e agir de modo diferente.
Chega de repetir o insustentável discurso direitista conservador da opressão e da exploração do homem pelo homem!
(Alexandra Machado Costa, poetisa, assistente social, servidora municipal de Goiânia)