Por mais que eu creia na imortalidade da alma, na pluralidade das existências e que carregue comigo a convicção que pode haver reencontros na erraticidade, ainda me sinto muito incomodado com a morte de amigos. Não seria diferente com Isanulfo Cordeiro, cuja partida transformou meu domingo em um dia de introspecção e inquietude. Não de tristeza, mas de lembranças dos momentos em que tive o grande privilégio de conviver com ele.
Conhecia a notoriedade do jornalista quando ele trabalhava na Organização Jaime Câmara. Recordo-me de suas últimas aparições, quando anunciava os destaques do telejornalismo em pequenas inserções na grade da TV Anhanguera. Era perceptível sua grande competência jornalística. Posteriormente, fomos colegas no Senado Federal e no governo do Estado, tornamo-nos próximos e amigos.
Mais que um legado, Isanulfo deixou o exemplo de que humildade, generosidade, camaradagem, companheirismo, educação esmerada, gentileza e respeito podem estar presentes na vida de pessoas de notório saber. Adjetivos escassos na imprensa: a crítica e a desconstrução parece serem prazer para muitos. Por sorte, há os que ainda carregam essas qualidades tão peculiares a Isanulfo.
O que marcou nossa convivência foram as brincadeiras constantes e a sempre alegria em nossos encontros. Por saber de minha atenção pela querida cidade de Silvânia, sempre que me encontrava brincava, questionando-me se não me interessaria por uma verba internacional, que a grande Campos Belos havia ganhado e da qual não precisaria – fato esse que me levou a qualificá-lo de Embaixador de "Beautiful Fields ".
Amante da boa música, sempre me encaminhava e-mails e mensagens com minhas grandes paixões: chorinho e jazz. Sempre me indicava bons livros, de que depois falávamos. Um grande amigo, não do cotidiano, mas de momentos muito especiais, que guardarei sempre com muito afeto e ternura.
Aos 66 anos é cedo demais para a partida. Esta também foi a idade em que se foi meu pai, em circunstâncias similares. Essa doença, que continua a ser o grande desafio da medicina, é uma trajetória árdua, que consegue aos poucos sufocar até a esperança. Chega um momento em que a partida se torna um alívio ao paciente e aos familiares.
Assim como transcorreu com meu pai, sei que Isanulfo foi um guerreiro e buscou todos os recursos possíveis. Teve grande atenção dos médicos e profissionais da saúde e, o que é mais importante, de sua família e de seus amigos.
Aprendi muito com ele. Se hoje me atrevo a escrever, devo ao seu incentivo quando das revisões de meus textos; assim como o de Raquel Azeredo e do meu grande amigo e irmão Luiz de Aquino, outra inteligência rara com quem tenho o privilégio de conviver.
Uma despedida nunca é fácil, principalmente aquela que não foi formalizada, na qual faltou o abraço e o até-breve. A angústia da falta sempre deve ser convertida em boas recordações, nos momentos de boas risadas e de harmonia. Assim tento sempre fazer.
O tempo, nunca diminui a saudade – só a amplia. Por sorte, inconscientemente, acabamos aprendendo a conviver com ela. Já perdi muitos amigos que caminharam comigo no trabalho, nos estudos, na juventude e na vida. Hei de reencontrá-los.
Esta certeza de revê-los conforta-me, fazendo com que imagine o que dizer em nossos reencontros. Para Isanulfo, apenas o seu sorriso amável será o bastante, pois ele, por si só, sempre encantou a todos.
Até qualquer dia meu amigo!
(Cleverlan Antônio do Vale. Administrador de Empresas, Gestor Público, Pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, Articulista do DM – cleverlanva[email protected])