A frase “só Deus pode me julgar” é um surrado argumento usado como cínico escudo para esconder falcatruas e erros de quem não aceita o escrutínio da justiça. Sem entrar no mérito e nas armadilhas que continuam a azedar o julgamento de Lula, me agasta com tremendo impacto o desrespeito que, infelizmente, passa a ter contornos de normalidade, ao difícil trabalho dos juízes.
A categoria merece zelo e respeito institucional. Quando segmentos, sejam eles de qualquer espectro ou ideologia, se mostram confortáveis para denegrir, pressionar e desmoralizar membros do judiciário, estamos promovendo o enterro da sociedade democrática.
O que tem sido realizado, sob qualquer justificativa, para destruir a reputação dos juízes encarregados de punir os poderosos que participaram da mega corrupção envolvendo a Operação Lava Jato, é algo estarrecedor.
Intocáveis milionários, com o aditivo de possuir colossal influência política, se atrevem a jogar juízes à arena dos leões, com auxílio de jornalistas que encarnam o papel de revisores da Bíblia, ao menor sinal de que poderão sofrer punições previstas na lei. Numa inversão de valores que enoja, são os magistrados, e não os réus, que passam a ser julgados.
É um modismo que se alastra. O caso de Lula, por ser o mais emblématico, nos leva a refletir sobre todos os que utilizam da mesma estratégia. Larápios de calibres diferentes, encastelados na cúpula do poder, não pensam duas vezes antes de manchar a honra de quem possui a obrigação de julgar.
Acuados e com razão temerosos, os juízes estão aceitando o jogo bruto. Até quando? Com que sequência e consequência para os bons destinos da nação? Será que, ingenuamente, se acredita que as intimidações, ameaças e pressões vão se restringir apenas a episódios isolados? Esse é o perigo e a ilusão mais danosa. A história mostra que esse é começo que leva ao fim das democracias. Exagero? Veja o exemplo da Venezuela. O país derreteu, numa destruição horrenda e criminosa, com juízes aceitando ser fantoches do populismo incendiário.
(Rosenwal Ferreira, jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal)