O julgamento do recurso de Lula foi um baile de máscaras. Todas elas arrancadas. Nenhuma surpresa. Para quem, como eu, acompanha esses julgamentos, que busca conhecer os autos – ou as peças principais – a decisão de condenar Lula estava tomada desde o momento em que um Jornal paulista publicou numa reportagem mentirosa sobre o tal Triplex.
De que serviram todos os esforços da defesa, não epenas rebatendo as acusações, mas, ainda, provando a inocência do acusado? Serviram para deslegitimar a sentença. O mundo todo está zombando do judiciário brasileiro. Depois da condenação de Mota Coqueiro e da condenação dos irmãos Naves, este é o mais escandaloso erro judicial da história brasileira.
Mas não vou aqui falar deste bizarro processo em que três anões de fala fina enfrentaram um gigante. Vou falar de outro gigante, que não tem recebido os encômios que merece.
Vou falar do Dr. Cristiano Zanin, o bravo defensor de Lula. Do ponto de vista da técnica processual, Lula não poderia rer estado em melhores mãos.
Mas este jovem advogado não mostrou apenas competência. Ele teria absolvido tranquilamente seu cliente se existissem juízes sérios abaixo do trópico de capricôrnio. Zanin lutou o tempo todo contra forças que operam à margem do Direito. Jogou um jogo de cartas marcadas e com o baralho do adversário. Não teria como ganhar.
Mas o seu mérito está em que ele lutou, fez aquilo que Krishna aconselhou a Ajurna, no Bagavath Gita: Lute, não se importe com o resultado. Vencer ou perder é contingência da luta. essencial é lutar.
O que este moço foi insultado nas redes sociais não foi brincadeira. A direita relinchante e zurrante o atacaram da maneira mais torpe, mais covarde. A imprensa reacionária muitas vezes fez carga contra ele, acusando-o de exceder-se em zelo na defesa de seu cliente.
Sempre sóbrio, sempre argumentando com rigor lógico, sempre sereno, o dr. Zanin foi, ao mesmo tampo, valente e formidável. Em momento algum se intimidou perante as agressões. Foi hostilizado o tempo todo por Moro, e jamais abaixou a cabeça. Em momento algum abriu mão das prerrogativas que a lei confere aos advogados.
Na pessoa de Zanin prossegue a tradição dos grandes advogados brasileiros. Uma tradição que vem de Evaristo de Morais. Zainin honrou o legado dos heróicos advogados que defenderam presos políticos durfante a ditadura, alguns dos quyais tornar-se-iam presos políticos também, pagando pelo crime de exercer com coragem e honradez a profissão que escolheram, e sem a qual não há flar em regime democrático.
Lembro-me de nomes como Moesto da Silveira, George Tavares, Heleno Fragoso, Aderbal Piveta, Rômulo Gonsalves, José Carlos Dias, Wellington Cantal, Sigmaringa Seixas, Eny Moreira, Wagner Batista, Leônidas Arruda.... tantos!
Deixei por último o nome de Sobral Pìnto, o modelo do advogado perfeito, nosso inspírador, nosso orgulho. Sobral, um católico praticante, meio carola, em momento algum vacilou em defender, com o máximo empenho, o líder comunista Luiz Carlos Prestes, durante o Estado Novo. Nos tempos da ditadura de l964, ele consagrou toda sua experiência, coragem e valor saber em defender presos políticos, e em lutar pela volta da democracia. Homem simples, modesto, não afetava superioridade. Quando completou 90 anos, uma reporte lhe perguntou sobre seus projetos para o futuro. Sobral respondeu-lhe, com toda a doçura: “Pretendo continuar sendo o que sempre fui: um simples advogado de porta de cadeia”.
Com esta declaração, o mestre de todos nós honrou toda uma categoria que se dedica à advocacia criminal, e resgatou do opróbrio os causídicos anônimos que, mal ganhando para o de comer, exercem dignamente a profissão que abraçaram.
O dr. Cristiano Zanin é um lídimo herdeiro do legado de Sobral Pinto. Um profissional que não apenas honra e dignifica a advocacia brasileira, mas que deve inspirar os jovens que queiram abraçar esta que é a mais espinhosa das profissões liberais. Os advogados de todo o país tem o dever de cerrar fileiras em torno dele.
(Helvécio Cardoso, jornalista)