Touros nascem para brigar e para ter a ilusão que podem matar toureiros, certo? Errado. Foi o que respondeu o escritor norte-americano Munro Leaf em 'Ferdinando, o touro' ('The Story of Ferdinand', no original), em 1936. Sua obra, ao mostrar um animal que detestava brigar e amava flores despertou, por mais incrível que possa parecer hoje, grande polêmica.
Lançada nove meses antes do início da Guerra Civil Espanhola, foi proibida pelos partidários do ditador Francisco Franco naquele pais e queimada na Alemanha nazista sob a acusação de ser uma obra de esquerda pela sua mensagem pacifista. Por outro lado, o livro foi elogiado por Gandhi e traduzido em mais de 60 países.
Transformado em curta-metragem pela Disney em 1938, recebeu o Oscar na categoria. Agora volta às telas dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. O touro que detesta conflitos e se sente bem ajudando os outros traz uma mensagem muito atual de respeito às diferenças e à diversidade de pensamento, mostrando que é possível ter a força de um touro e o coração de uma criança.
O filme de animação desperta, numa época em que a intolerância ameaça ganhar espaço, um suspiro de doce esperança. Os gestos faciais e corporais de Ferdinando de descontentamento sempre que é impelido a brigar apenas porque os outros touros vivem assim comporta um alerta: acreditar em si mesmo, mesmo perante tudo e todos, não é utopia. É prática consciente.
(Oscar D'Ambrosio, doutor em Educação, Arte e História da Cultura e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, onde atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa)