A União das Nações Unidas, em novembro de 1947, presidida por Oswaldo Aranha, defendeu o Estado judeu e outro árabe. Foram 33 votos a favor, 13 contra, 10 abstenções e uma ausência. Aranha disse: “Eu declaro que esta moção foi aceita pelos dois terços necessários de votantes”. Com essas palavras e uma batida do martelo, o brasileiro, numa Assembleia memorável, anunciou a partilha da Palestina em dois Estados: um árabe e outro judeu. Após essa decisão, milhares de pessoas saíram às ruas de Tel Aviv e Jerusalém para festejar – dançando e cantando – a criação do primeiro Estado judeu em dois mil anos. Logicamente, os países árabes não aceitaram essa divisão, uma vez que exigiam uma só Palestina, sob governo árabe. Aconteceu que tendo à frente, em sobredita reunião, os embaixadores Azzam Pashá e Faiçal, príncipes da Arábia Saudita, os representantes árabes da ONU retiraram-se do salão após a votação. Foi o começo de uma luta fratricida de fogo e sangue. Fala-se que, em sua reunião, a Liga Árabe havia instruído todos os Estados Membros a se prepararem para uma guerra contra o futuro Estado de Israel. Esta nação deveria ser criada em maio de 1948, após a retirada das últimas tropas britânicas, que ocupavam a Palestina desde 1917. Na época, líderes árabes palestinos acusavam os sionistas de estarem semeando terror em várias aldeias, no intuito de forçar a população árabe a fugir. De acordo com o mapa da partilha, o Estado judeu, incluiria a cidade Tel Aviv de origem judaica, já o Estado árabe envolveria a cidade de Gaza e Jerusalém, capital reivindicada pelos dois grupos. Ela seria uma cidade internacional. Daí, essa polêmica surgida, porque Donald Trump resolveu nomear Jerusalém como sede da Embaixada Americana. É preciso notar que os dias que antecederam a votação da partilha foram de intensas negociações e pressões, nos EUA e em outros países. Curiosamente, a URSS e EUA pareceram esquecer suas divergências e votaram juntos a favor da divisão da Palestina. Comentaram na época que “essas duas potências concordaram com a formação de um Estado judeu porque este Estado enfraqueceria a Grã-Bretanha, naquele tempo uma potência ocidental que mais influência exercia no mundo árabe”. Oswaldo Aranha nunca disfarçou sua simpatia pela divisão da Palestina, nem sua amizade com os Estados Unidos. Abba Eban um dos observadores sionistas à Assembleia da ONU disse o seguinte: “Aranha é um homem de disposição romântica e apaixonada, que estava exaltado de forma religiosa pela ideia de um Estado judeu”. Atualmente, Israel conta com 8,547 milhões de habitantes, pelo recenseamento de 2016, e na época em que se tornou Estado continha apenas 500.000. Tornou-se, diga-se, uma potência mundial.
(Luiz Augusto Paranhos Sampaio, membro da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, escreve neste espaço às segundas-feiras. E-mail: luizaugustosam[email protected])