O certo é que o povo não queria mais o PMDB no Poder. Estava cansado e desiludido. Decerto, o Roldão não percebia. Segundo sabedoria popular, era o “tempo da virada”, como se dizia e realmente aconteceu. Aderaldo ganhou a eleição, considerada das mais acirradas, talvez a mais arrelienta da história política local, não raro deixando sinais de vitória anunciada. A chamada elite ou fina-flor da sociedade desdenhava, engolia mas não se convencia. Contudo, o longo período peemedebista no poder havia oferecido a Aderaldo e sua cúpula amplos e fortes argumentos, justificando sua vitória. As pilherias ou chistes já estavam na rua. Uma delas, pitoresca, dizia:
“Há 4 coisas na vida que não se deve fazer: casar com moça falada, fazer negócio sem ver, tirar dinheiro dos cegos e votar no PMDB”.
Aderaldo, mais vezes sem precisar dos tais homens lidos e viajados, para não dizer letrados, governou de 1997 a 2000. Dizia-se, aliás, que a “Nação Mineirense”, tão longe da República dos Estados Unidos das Brunzundangas, criação de Lima Barreto, havia decidido, justificando a existência de ousados e mordazes panfletos, judiando do PMDB, distribuídos na cidade, como o nominado que transcrevo:
A “Nação
Mineirense” decidiu
Creio que todo acontecimento é tão histórico como qualquer outro, sendo por isso que desde os gregos a História, em seu melhor sentido, é “conhecimento desinteressado” e não meras recordações nacionais ou dinásticas, as que só glorificam reis, rainhas, duques, condes, papas, bispos, marechais, generais ou os mais absortos coronéis. É por isso, certamente, que os eleitores brasileiros estão muito mais exigentes e politicamente mais maduros. Descobriram que são sujeitos da História e estão revendo e reconsiderando o seu papel de indivíduo na História, admitindo que todo acontecimento que lhe ocorra na vida pode ser digno Dela. Foi assim que aconteceu na última eleição de outubro através da qual as urnas – inclusive eletrônicas – foram usadas pelos cidadãos nestas oligarquias que por décadas dominaram a política nos Estados e nas cidades. Foi assim também em Mineiros, no Sudoeste de Goiás. O povo decidiu rejeitar as forças tradicionais, antigos patriarcas, causando uma derrota de desanimar.
Vale dizer, portanto, que o mineirense está mais consciente dos seus direitos e de suas concepções políticas. Por isso, resolveu derrubar do poder na última eleição a embevecida cúpula “peemedebista”, dando-lhe uma surra para ninguém botar defeito. O povo, com sua sabedoria, viu o PMDB de Mineiros distante do que disse em suas origens; “expatriado de seus compromissos” e afastado do pensamento de suas personalidades mais eminentes: Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Roberto Requião, Ciro Gomes, Covas, Serra e outras “atucanadas” no PSDB do Presidente. Além disso, percebeu que o Partido foi para os palanques com propostas envelhecidas e incrivelmente demagógicas, ao pobre prometendo cestas básicas, terrenos e outras “dádivas” características do velho discurso assistencialista, enganoso e claramente anacrônico.
Sem se reciclar, portanto, não via a morte anunciada. Ademais, intensamente preocupado com o “poder”, arranjou uma briga interna tão forte que dividiu a cúpula, a que não consegue reconciliar-se nem através do senador Iris Rezende Machado. Dividido, como ainda se acha, passou a lançar farpas – lastimáveis – uns nos outros, já difundidas na imprensa diária, mostrando sua zanga mal inspirada, infeliz; revelando, por assim dizer, seu apelo ao “poder”. Aliás, segundo Rui Barbosa, “há extremos no uso do poder, em presença dos quais a indignação transborda”. Transbordou mesmo, omitindo os verdadeiros e crônicos problemas do lugar, deixando o Partido à deriva, precisando de algum socorro do céu.
Por outra, essa surra no PMDB mineirense emerge, sobretudo, de causas localizadas, sem muito ranço ideológico: o descaso com a justiça, a indústria, o comércio, o setor rural, o esporte, somando-se o nepotismo, as obras faraônicas, inacabadas etc., fatos configuradores de sua inoperância, fundada em sofismas e obsoleta retórica. Vale dizer, assim, que renunciou os compromissos que lhe deram vida havendo por isso de ir embora sem glórias, restando claro que o eleitor, amadurecido e cansado de promessas, votou em proposta mais identificada com eficiência.
É lógico que o povo quer a solução dos problemas sociais e econômicos. Assim, não votou no continuísmo. Votou, por isso, nos mais jovens, mais simples e mais humildes, identificados com a justiça e a História vista “de baixo”, mostrando que ainda tem gente consciente aqui embaixo. Por que Júlio Carrijo e Deoclides foram os mais bem votados candidatos a vereador? Por que, aliás, o domínio “peemedebista” ficou restrito a cidades menores, em Goiás e em todo o restante do Brasil, tonando-se cada vez mais “envelhecido”? O que adiantaram os acenos demagógicos de moradia, de saneamento, de comida e outros mais?
A “nação mineirense” decidiu, por maioria. Botou fogo na esperança. Na democracia é assim: quem decide é a maioria. Felicidade!... Felicidade!...
Realmente, a situação peemedebista era complicada, para não dizer quebradiça, chegando a causar a elaboração de outros panfletos, um tanto mais instruídos, contundentes, como o chamado “Derrota do PMDB”, também distribuído pela cidade. Vejam:
A Derrota do PMDB
“É visível a derrota do PMDB em Mineiros. Pode ser vista em qualquer esquina, em qualquer bairro, na cidade inteira. Na “zona rural”, ainda é mais visível. Essa derrota, aliás, está estampada na indignação da mocidade mineirense. No olhar vibrante e na repulsa cívica do povo. Note-se que são quase quinze anos de inércia e piora do Município, justificando essa derrota.
O povo cansou-se de discurso, falatório e evidentes mentiras. Não tolera mais tanto nepotismo (parentes do poder), tanto desperdício do dinheiro público. Esse fuzuê “peemedebista”, que não mede esforço para permanecer no poder, terá morte certa no dia 3 de outubro. A cidadania mineirense merece respeito.
Justificam a derrota do PMDB, essencialmente, os seguintes fatos lamentáveis: o dinheiro público enfiado em obras faraônicas, inacabadas, como o tão famoso “Ginásio Esportivo”, iniciado próximo ao CTG; a derrubada do MEC, clube do povo; o hospital público, abandonado, sem justificativa; a destruição do Fórum, patrimônio histórico do lugar; o descaso com a instalação da Justiça do Trabalho; o lixão a céu aberto; o desleixo com o setor industrial, causando grande prejuízo aos empresários, trabalhadores, etc.
Aliás, por que um hospital público pode funcionar em Portelândia e em Mineiros não seria possível? Por que o governador não inaugura obras em Mineiros? Como iria terminar as obras do Fórum, se nem as começou? Por que o atual prefeito, em final de mandato, não prosseguiu com as obras do hospital? Por que o ônibus do Cedro não circula mais? A CELG não toma jeito! E a subserviência aos políticos de Jataí? Assim, a derrota do PMDB é indiscutível. O mineirense já decidiu.
Diretório do PPB de Mineiros
Se não bastasse o visível entusiasmo de Aderaldo, inebriado com as benesses do poder, tinha a primeira dama Neiba Barcelos, forte liderança se anunciando, regendo Secretaria Social em contato direto com os mais humildes, crescendo na política a olhos vistos; enquanto o prefeito, seu marido, tinha o entusiasmo de sua mocidade e o apoio do governador Marconi Perillo, cuja candidatura havia defendido em praça pública de Mineiros e do Estado, onde foi fundamental a propagada estratégia ou simbólica e empática camisa azul, se não valesse o inegável carisma pessoal do candidato, justificando assim a derrota que acabara de impor contra o até então invicto Iris Rezende Machado e ao seu forte “irismo” no comando político do Estado. Se não era o fim, mostrando um Partido de ideologia indefinida, fisiológico, assim como o PSDB de cima do muro, creio já sem Social Democracia e o astuto ou fina-flor do PFL (hoje Democratas), presentes em todos os governos.
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado – MNU, Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGG, mestre em História Social pela UFG, professor universitário. – martinianojsilva@yahoo.com.br)