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Reforma da Previdência: Corte de 50% na pensão por morte é confisco institucionalizado

A vo­ta­ção da re­for­ma da Pre­vi­dên­cia es­tá agen­da­da pa­ra a se­gun­da quin­ze­na de fe­ve­rei­ro e, con­si­de­ran­do o bal­cão de ne­gó­ci­os em que se trans­for­mou a Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos, há gran­des ris­cos de que se­ja apro­va­da. Seus efei­tos são de­vas­ta­do­res, com des­ta­que pa­ra um dos pon­tos mais crí­ti­cos da re­for­ma: a pen­são por mor­te.

Co­mo já é sa­bi­do, a Pre­vi­dên­cia So­ci­al é res­pon­sá­vel pe­lo pa­ga­men­to de be­ne­fí­ci­os aos tra­ba­lha­do­res do se­tor pri­va­do e tam­bém aos ser­vi­do­res pú­bli­cos. O pró­prio tra­ba­lha­dor pa­ga ao INSS men­sal­men­te uma por­cen­ta­gem do sa­lá­rio. No ca­so dos ser­vi­do­res, po­de che­gar a 14%, alí­quo­ta pa­ga in­clu­si­ve de­pois de se apo­sen­tar.

Atu­al­men­te, quan­do uma pes­soa vem a fa­le­cer, os seus de­pen­den­tes são be­ne­fi­ci­a­dos com a pen­são. É jus­to, con­si­de­ran­do que o ci­da­dão con­tri­bu­iu a vi­da in­tei­ra e que, a par­tir do mo­men­to em que ele não es­tá mais pre­sen­te, sua fa­mí­lia pre­ci­sa­rá se man­ter so­zi­nha. Com as no­vas re­gras, o de­pen­den­te te­rá di­rei­to a ape­nas 50% da pen­são so­ma­do a 10% de ca­da fi­lho.

Por exem­plo: a apo­sen­ta­do­ria de um che­fe de fa­mí­lia é de R$ 3 mil men­sais. Após sua mor­te, o va­lor en­tre­gue men­sal­men­te pa­ra a vi­ú­va, ca­so ela não se­ja apo­sen­ta­da, se­rá de R$ 1,5 mil. Se eles ti­ve­rem fi­lhos abai­xo de 21 anos, os R$ 1,5 mil te­rão acrés­ci­mo de 10% pa­ra ca­da fi­lho. Em re­su­mo, a ren­da de uma fa­mí­lia se­rá cor­ta­da pe­la me­ta­de de uma ho­ra pa­ra ou­tra. Pa­ra mim não há ou­tro no­me pa­ra is­so: é con­fis­co ins­ti­tu­ci­o­na­li­za­do.

Além dis­so, con­si­de­ro o be­ne­fí­cio adi­cio­nal de 10% uma ver­da­dei­ra en­ga­na­ção. A re­for­ma pre­vê apo­sen­ta­do­ria ape­nas a par­tir dos 65 anos. Nes­sa ida­de, pou­quís­si­mos são os ca­sais com fi­lhos me­no­res de ida­de. Ou se­ja: qua­se nin­guém te­rá di­rei­to ao acrés­ci­mo.

Quan­do foi cri­a­da, a PEC 287, que tra­ta da re­for­ma da Pre­vi­dên­cia So­ci­al, ain­da im­pos­si­bi­li­ta­va o acú­mu­lo de pen­são por mor­te e apo­sen­ta­do­ria. Após a lu­ta co­le­ti­va, a pro­pos­ta pas­sou a per­mi­tir o re­ce­bi­men­to do be­ne­fí­cio e da apo­sen­ta­do­ria ao mes­mo tem­po. No en­tan­to, há li­mi­te de até dois sa­lá­ri­os mí­ni­mos. Pen­se em um ca­sal de apo­sen­ta­dos com be­ne­fí­cio de R$ 4 mil ca­da um. Se um de­les fa­le­cer, o ou­tro po­de dar en­tra­da na pen­são por mor­te, mas não re­ce­be­rá o te­to dos dois be­ne­fí­ci­os. A pen­são te­rá o va­lor re­du­zi­do pa­ra dois sa­lá­ri­os mí­ni­mos.

O go­ver­no in­sis­te no dis­cur­so de que a re­for­ma da Pre­vi­dên­cia aca­ba­rá com os pri­vi­lé­gios. Eu per­gun­to: qua­is são es­ses pri­vi­lé­gios, afi­nal? Pa­re­ce-me que pa­ra o go­ver­no uma vi­ú­va que usu­frui de 100% da pen­são por mor­te do ma­ri­do é uma pri­vi­le­gi­a­da, co­mo se es­se não fos­se um di­rei­to da con­tri­bui­ção de dé­ca­das ao INSS. É por es­se e ou­tros mo­ti­vos que a re­for­ma da Pre­vi­dên­cia não po­de ser apro­va­da.

Não se en­ga­nem! Al­gu­mas pes­so­as in­flu­en­tes di­rão que a re­for­ma cor­ta pri­vi­lé­gios, mas a ver­da­de é que os re­ais pri­vi­le­gi­a­dos são aque­les que a cri­a­ram a pro­pos­ta da re­for­ma: os po­lí­ti­cos. Eles ja­mais apro­va­ri­am al­go que os pre­ju­di­cas­sem.

(An­to­nio Tuc­cí­lio, pre­si­den­te da Con­fe­de­ra­ção Na­ci­o­nal dos Ser­vi­do­res Pú­bli­cos – CNSP)

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