Cortar as orelhas de uma mula e incrementar sua crina, não fará dela um cavalo. Bem como posar de intelectual e garanhão, levando uma vidinha medíocre, madrugando para puxar carroça, defendendo o parco pasto de cada dia, ajoelhado e levantando de barriga cheia. Reles existência, ruminando as próprias misérias e os atormentadores fantasmas enclausurados, atrás de incômodas e ruidosas portas, que Freud explica.
Cocheira é picadeiro, feno banquete, cabresto adereço de luxo e grenha em neon! Figura circense, atormentada pelo fracasso do estrelato e da liberdade das correntes invisíveis, que aprisionam a alma da estrela fosca e decadente. Folclórica, mitológica, apocalíptica, a Ufologia explica! Em estado constante mendicância de olhares e atenção, como válvula de escape para a existência mal resolvida, comum nos broncos e na mísera dignidade dos bajuladores.
Efígie patética e sinistra, do casulo a mais fina seda, da lagarta a mais bela e colorida borboleta que pariu a cria estúpida da rameira lendária. Orelhas avantajadas, típicas do espécime, outiva aguçada e sensível, patas visíveis de coices potentes e focinho risível. A empáfia do puro-sangue, que não passa de um pangaré encilhado e mal montado!
Sob aplausos dos iguais, num ensurdecedor tinir de ferraduras, as luzes da ribalta e o patético espetáculo de quem precisa de plateia para se autoafirmar. Matungo rústico e chucro, arrastador de corrente e exímio bajulador, sonhando em ser um puro-sangue inglês, que jamais será. Indômito e temperamental, a mais hilariante das pilhérias no estábulo.
A anamolia que nem Darwin explicaria a borboleta que pariu um muar de crina longa, esvoaçante e multicolor... Como um arco-íris arcado no infinito, o quadrúpede saltitante, aos zurros e suspiros, vai se revelando um animalejo singular, arrogante e exatamente onde deve estar nas alcovas da insignificância. Resignado a sua estupidez e preso a covardia que o aprisiona, incapaz de se libertar e ser o garanhão que sempre diz ser, mas, não passa de uma borboleta que pariu uma mula.
(Marcos Manoel Ferreira, professor, pedagogo, historiador, escritor. Pós-graduando em Docência do Ensino Superior. marcosmanoelhistoriageral@hotmail.com e www.vozesdasenzala.blogspot.com.br)