O “presente” seria o intervalo, um “instante” ínfimo, entre o futuro e o passado, um átimo, milhões, bilhões, trilhões de vezes mais rápido do que “um piscar de olhos”, um decolar de mosca e isto, todo mundo sabe, está mais que sacramentado, oficializado e é, lógico, ensinado no berço, nas escolas e universidades, entretanto, eu acho, aliás, tenho certeza, absoluta, o presente não existe, não existe nenhum intervalo, nenhum “instante”, nenhum “presente”, ainda mais, “constantemente presente”, entre o futuro e o passado, o misericordioso leitor concorda? Pois é, essa concepção de, ou, do presente, “dentro” do tempo, intervalando, intercalando, intermediando o passado e o futuro, é uma “invenção”, só pode ser, sei lá, coloco na conta das improbabilidades, mas, só sei que é muito fácil constatar a “sua” inexistência, a inexistência do tal de presente, pois, se tentamos captá-lo, lógico, com o velocíssimo pensamento, ele, misteriosamente, desaparece e imediatamente, instantaneamente, “reaparece” – alguns dirão: como, se nem sequer houvera desaparecido? – “no”, ou, “como”, passado e, talvez, seja por isto, exatamente por isto, que o magnífico idioma português, a nossa “língua”, denomine, designe, “chame”, esta parte, do nosso “organismo mental”, apropriadamente, ou, melhor, muitíssimo apropriadamente, de “mente”, sim, do verbo mentir, afinal, uma das características da nossa “mente” é “mentir”, mas, como, a mente minta, também, para nos proteger, procurarei ser cordial, afinal, o seu nome, “mente”, já a denuncia, o escrevinhador não precisa ficar repetindo trocadilhos, no título, até, tolera-se, ainda mais se a finalidade for atrair leitores, até convém, tudo bem, vá lá, mas, rimar, com mente daqui, mente dali, de lá e acolá é fácil, estou sendo indelicado, então, utilizar-me-ei da palavra deformadora sim, a mente adultera, deforma as “coisas”, os objetos, os acontecimentos e, lógico, há fartíssimo material, porquanto, os cientistas já provaram que subjetivamos, experimentamos, “observamos”, “absorvemos”, as imagens, cores, tons, sons, odores, intensidades, gostos, formas, lógico, através da visão, audição, olfato, paladar e tato, mas, a imensa, aliás, imensíssima maioria das coisas, dos objetos, subjetivados, a “mente” trata de enviar, muito velozmente, para o inconsciente, para o beleléu, para a “Lixeira”, para o esquecimento e, é bom registrar, com a hodierna correria do novo milênio, isto está ficando cada vez pior, aliás, está escrito, até nos livros sagrados, não nos lembramos, nem sequer do nosso rosto, quando deixamos o espelho, claro, se pudéssemos olhar para nós, não suportaríamos, entretanto, inconscientemente, instintivamente, inexoravelmente, durante todas as nossas vidas – de, no máximo, míseros 100 aninhos, ou, seja, 1.200 meses – achando que o nosso mundo é o mais verdadeiro do universo, todavia, entretanto, apesar disso tudo, de todos os processos mentais, aqui relatados e, pior, o blá-blá-blá do escrevinhador, o que ele acha, ou, deixa de achar, a verdade, verdadeira, é que a vida é um fenômeno maravilhoso, um verdadeiro “presente” e, se houver, mesmo, de fato, a eternidade, o “presente eterno”, espero, anseio, que nesta eternidade, Deus nos faça “presentes”. Até.
(Henrique Gonçalves Dias, jornalista)