Pelo que decorre das questões assinaladas no Título 63, desta 5ª Parte, aos próprios Espíritos Superiores são vedados certos arcanos do Criador. Apenas aos Espíritos Puros esses aparentes mistérios são revelados. Dizemos aparentes, porque à medida que vão sendo desvendados, deixam de ser mistérios e incorporam-se ao nosso conhecimento.
Daí a razão da resposta à pergunta nº 11, de “O Livro dos Espíritos”, que pedimos vênia para repetir:
Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?
“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”
Trata-se de tema intrínseco de nossa Tese, no que toca à existência e perenidade da alma, pre-requisito essencial da existência de Deus.
2 – No livro “A Alma da Matéria” , de Marlene Nobre, que com muita propriedade aborda o tema supra, de correlação indiscutível com o tema do Título anterior, fornecendo-nos subsídios valiosos no que tange ao mistério da origem da vida, na Terra e noutros planos da Criação, escreve:
“O Espiritismo defende, desde março de 1860, a partir da segunda edição de O Livro dos Espíritos, a evolução contínua e gradual de todos os seres, através da filogênese, que possibilita a individualização do princípio espiritual, valendo-se do buril do tempo.
Assim, criado por Deus, o Espírito, sob a sua forma de maior simplicidade, a de princípio inteligente, inicia a biogênese, estagiando nas formas mais primitivas – os seres unicelulares –, prosseguindo depois nos pluricelulares, até atingir a fase humana. É a caminhada ininterrupta do Ser, do átomo ao arcanjo (11), da simplicidade e ignorância à sublime aquisição da Sabedoria e do Amor, rumo ao Arquétipo para o qual foi criado.
Desse modo, durante bilhões de anos, o Espírito modela os seus envoltórios: a matéria que ele retirou do charco, do limo da Terra e animou, partindo dos cristais minerais, até atingir a complexa maquinaria do corpo humano; e os outros dois principais envoltórios sutis, o corpo mental e o perispírito, invisíveis à tecnologia terrestre existente.
A Doutrina Espírita reconhece o grande valor da Teoria Neodarwinista, mas o acaso, um de seus pilares, bem como o de outras teorias complementares (Orgel, Eigen, Gilbert, Monod, Darkins, Kimura, Gould, Kauffman), é insuficiente para explicar a origem da vida.
Como afirma o bioquímico Michael Behe: “Dizer que a evolução darwiniana não pode explicar tudo na natureza, não equivale a dizer que a evolução, a mutação e a seleção natural não ocorram. Em termos de microevolução, os seus pressupostos foram confirmados”.
Behe, porém, faz uma ressalva importante, a mesma que fazemos: “O que se pede é a explicação científica detalhada, passo a passo, que mostre como a mutação aleatória e a seleção natural poderiam construir estruturas complexas e intrincadas, como, por exemplo, o olho humano, o cílio ou o flagelo; a coagulação sanguínea e outras. Até agora, tal explicação não foi dada por nenhum dos ardorosos defensores do acaso, como base da evolução”. (12)
Do mesmo modo, outra teoria como a da auto-organização (Prigogine, Maturana e Vilela, etc.) – não explica a transição entre as organizações vivas e as ignorâncias. A respeito dela, afirmou Paul Davies:
“A teoria da auto-organização não oferece nenhuma pista sobre como se dá a transição entre a organização espontânea ou auto-induzida – que até nos exemplos não biológicos mais elaborados ainda envolve estruturas relativamente simples – e a organização genética das coisas vivas, altamente complexas e baseadas na informação...” (13)
3 – Citando uma gama de cientistas de proa, informa a autora que os mundos (planetas, sistemas estelares, constelações e galáxias) obedecem e se sujeitam a um planejamento assaz inteligente, garantindo inclusive o equilíbrio das esferas, em cumprimento a leis magnas preestabelecidas pela Inteligência Suprema:
“...A Teoria do Planejamento Inteligente (Michael Behe; Lynn Margulis; Ígor Grischika Bogdanov) está fundamentada na extraordinária maquinaria celular, no estudo de estruturas complexas (Olho humano, coagulação sanguínea, etc. ); no jogo de convenções inexplicáveis: ligações covalentes; estabilização topológica de carga; ligação gene-proteína; quiralidade esquerda dos aminoácidos e da direita dos açucares; nos cálculos matemáticos que demonstram a impossibilidade estatística (101.000 contra um) de se juntar, ao acaso, mil enzimas das 2 mil necessárias ao funcionamento de uma célula. (14).
A Teoria do Planejamento Inteligente é a que mais se coaduna com a Revelação Espiritual. Nós, espíritas, somos, portanto, evolucionistas-criacionistas, acreditamos na evolução do princípio espiritual, fruto da criação de Deus, através da escala filogenética em encarnações sucessivas.
Aceitamos os pressupostos do darwinismo para a filogênese; distinguimos, no entanto, seus pontos fracos e obscuros, vislumbrando soluções, a partir das revelações espirituais que a explicam como um processo evolutivo, que se dá nos dois planos da vida, o físico e o extra-físico, sob a orientação de Gênios Construtores – Espíritos condutores do progresso humano – impulsionando o Ser do charco para a Luz, da animalidade para a consciência sublimada.
Nesse longo processo evolutivo, o Espírito constrói não apenas o corpo físico, mas igualmente o espiritual ou perispírito, constituído de matéria ainda desconhecida, que tem significado parecido com o dos campos imateriais estruturadores da forma, referidos como campos mórficos e ressonância mórfica por Rupert Sheldrake e campo biomagnético, por Hernani Guimarães Andrade. (15). Concomitantemente, com a evolução desse envoltório sutil, desenvolve-se o organismo físico, e é essa evolução dupla que permite sejam guardadas, no elemento extra-físico, os benefícios da seleção natural e das mutações, sob a tutela dos Espíritos Instrutores, e depois passadas às novas gerações, com excepcional sucesso...”
4 – Embora a Natureza, física e extrafísica, expressem com simplicidade as leis pré-codificadas pelo Criador, Marlene não deixa de dizer que o processo evolutivo é complexo.
De fato, assim é em razão de nossa pobreza mental e espiritual. Seria, por exemplo, como aprender Matemática, que é complexa enquanto não conhecida, mas deduzidos que sejam as equações e os teoremas, torna-se simples e espontânea.
Encerrando sua prédica, acrescenta a autora:
“...O processo evolutivo é extremamente complexo e ainda estamos muito longe de abarcá-lo, mesmo com as valiosas informações espirituais que já nos beneficiam. Sabemos que a Terra primitiva é o mundo das proteínas e não do RNA (Ácido Ribonucleico = RNA), como se supõe, devendo-se partir, potanto, da influência delas sobre o aparecimento dos demais componentes da célula elementar; do mesmo modo, é preciso aprofundar o estudo da geometria das diversas substâncias celulares para determinar suas funções. E é todo um percurso de cerca de três bilhões e quatrocentos anos – cálculo estimado da biogênese – que precisa ser mapeado e decifrado, capítulo por capítulo.
Em um estudo mapeado sobre os fundamentos da Bioética, cremos que é muito importante abordarmos a questão da origem da vida, porque concordamos com a observação do ilustre físico, Dr, Paul Davies, em O Quinto Milagre, quando afirma que na origem da vida está o significado da própria vida”.
(Weimar Muniz de Oliveira. wei[email protected])