Por volta da sexta década do século XX, os jataienses denominavam Jataí de “Princesa do Sudoeste” ou “Princesinha do Sudoeste”, e os rio-verdenses diziam o mesmo sobre Rio Verde. As duas mais populosas praças da região se equiparavam em termos populacionais. Ambas deficientes em infraestrutura, nenhum metro de asfalto havia em todo o Sudoeste, quer urbano, quer rodoviário. Havia moças de Rio Verde internas no colégio das freiras agostinianas e no colégio protestante de Jataí, mas havia moças de Jataí que estudavam, também em regime de internato, na escola de enfermagem da cidade “rival”, inclusive Adalgisa, Zélia e Leonor, minhas tias maternas. Muitos jataienses da urbe e do campo tratavam da saúde no Hospital Evangélico de Rio Verde, onde o médico e missionário(ou missionário e médico) Dr. Gordon era a figura de maior prestígio na vasta região. Eu mesmo nele fiquei internado, em 1950(nasci em 1944), com problemas de asma, e novamente em 1954 ou 1955 porque precisava de Raio-X e o do da minha terra natal encontrava-se estragado. Muitas mulheres da “Cidade Abelha” deram à luz do lado de cá do Rio Doce, manancial que divide os dois municípios. Minha própria mãe o fez. Foi quando chegou meu irmão mais novo, o Ernesto, em 1951(faleceu em 1976). Jovens de Jataí conheciam jovens de Rio Verde e vice-versa, nesses estabelecimentos de ensino, e isso deu namoros e casamentos. Minha tia Leonor, por exemplo, esposou o Laurindo, natural de Rio Verde.
Na quadra de esportes (piso de terra) aos fundos (no caso, realmente aos fundos, não nos fundos) da Igreja Presbiteriana do Brasil, na Avenida Brasil, em Jataí, garotas de Rio Verde jogavam vôlei contra garotas jataienses e provavelmente havia retribuição das visitas.Os torcedores cantavam assim:
“É canja, é canja de galinha. Arranja outro time pra jogar com a nossa linha” (deveria ser “contra a nossa linha”, mas diziam “com a nossa linha!”). Ou então: “É osso, é osso, nosso time é um colosso”.
César Bastos, rio-verdense de 1898, e José Feliciano, jataiense de 1916, concorreram ao Executivo estadual em 1958; este pelo PSD; aquele, pela UDN. Inclusive na casa do adversário, Feliciano triunfou. César é, por justiça, considerado “O Paladino do Ensino Superior do Sudoeste”. Quem lhe deu essa antonomásia fui eu, na sua campanha para deputado federal, pela Arena, em 1974.
As gerações mais novas ignoram que Rio Verde e Jataí se intitularam de princesas ou princesinhas. Mesmo naquela época, a Jataí se adjetivava de “Cidade Abelha”, que se firmou para sempre. O berço do César Bastos, por algumas pessoas geralmente moradoras em outros municípios, é chamado de “Rio Verde das Abóboras” (não pejorativamente, como no passado). Veio Brasília, vieram os sulistas, o asfalto alcançou nossas rodovias, ruas e avenidas. Expandiu-se o comércio, instalou-se a agroindústria. No terreno populacional, Rio Verde se expandiu mais. Aqui residem 220 mil; em Jataí, 100 mil. Ambas ocupam posição de vanguarda nacional como produtores de grãos. São duas belas cidades. Eram e são os dois mais expressivos polos do sudoeste goiano. São dois centros universitários. Nós, rio-verdenses e jataienses, temos motivos de sobra para sentir orgulho de nossas cidades. Sou muito privilegiado, pois nasci e fui criado(a partir dos seis anos), na sede da “Colmeia”, e desde 1973 resido na Rio Verde do meu avô paterno Higino Antônio Borges. Outro privilégio foi o de ter sido gerado em Serranópolis, onde vivi de 1944 a 1950 (Serranópolis se emancipou de Jataí em 1958, município instalado no primeiro dia do ano de 1959) e me casei na terceira mais populosa cidade do Sudoeste, a bonita e rica Mineiros (filho com Ilsa Rezende Machado Lima, filha de Isac Rodrigues Machado e Helena Rezende Machado). Mineiros possui mais ou menos 60 mil habitantes.
(Filadelfo Borges de Lima – filadelfoborgesdeli[email protected])