Há tempos venho insistindo que a humanidade não logrou avanços significativos em seus aspectos civilizatórios. Estes são, no máximo, meras aspirações. Muitos consideram que esse pessimismo é injusto, pois, houve muitas melhorias que demonstram que vivemos em um mundo melhor, graças à capacidade humana que vem nos legando importantes conquistas.
De fato, é inegável que nós, os humanos, evoluímos muito e, nas três últimas décadas, demos um salto tecnológico tão grande que, doravante, inicia-se a descoberta e exploração de outros planetas, nesta e em outras galáxias, sobre a possibilidade ou não de existência de outras formas de vida e se são, ou não, habitáveis por nós, os terráqueos. Porém, a meu ver, o avanço experimentado e em franca evolução fica restrito ao aspecto meramente tecnológico e científico. Fora isso, considero que ainda estamos agindo e raciocinando como os nossos mais remotos ancestrais. É claro que as relações sócias evoluíram para uma convivência mais harmoniosa, mas somente em algumas nações. Entretanto, isso não é o suficiente para arvorarmo-nos a afirmar que não vivemos mais em estado de natureza, mas, sim em estado social. Isso é uma verdade relativa.
Se é verdadeiro que convivemos em respeito ao pacto social, renunciando de parcelas de nossas liberdades em respeito ao próximo, de modo a tornar suportável e possível a própria sobrevivência, o avanço civilizatório está circunscrito tão somente na elaboração e comprometimento em cumprir esse contrato social. Mas isso é por instinto de sobrevivência, não por altruísmo.
Fora isso, é preciso considerar-se que o contrato social, além de decorrer de um desejo instintivo de preservação e perpetuação da espécie, o que nos remete ao estado de natureza, é também o desejo de dominação e controle social dos mais fracos pelos mais fortes. Atrevo-me a dizer que, modernamente, a melhor maneira de se estudar e observar o comportamento e a índole humana ainda é observando o comportamento animal em seu habitat natural. Os humanos e os animais na natureza ainda de sobrevivência e pela preservação da espécie.
A partir dessas observações, reporto-me a um artigo de autoria do filósofo Luiz Felipe Pondé, no qual afirma que a vocação natural da mulher é ser prostituta. E isso ocorre de diversas formas, seja entregando o corpo, diretamente, para a satisfação da concupiscência mediante compensação financeira, seja tergiversando, através das “caça-dotes” e casamentos de conveniência. Quanto aos homens, estes ainda adotam como critério para a escolha da parceira a beleza estética da fêmea como segurança à procriação visando à melhoria e evolução da espécie. É claro que as fêmeas também se encantam com a beleza estética como atrativo na escolha de seus parceiros. Todavia, o que é decisivo mesmo ainda é o instinto de proteção, o que as faz escolher entre os mais fortes fisicamente e o que ostenta melhores capacidades financeiras.
Sobre o tema, foram publicados, recentemente, dois trabalhos científicos, ambos com pesquisadores brasileiros, sendo um pela Universidade do Alabama, EUA, e outro, da Universidade do Texas, em Austin, sendo um dos autores uma professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Em um dos trabalhos é demonstrado que os homens ainda dão mais importância à aparência física quando desejam escolher uma parceira, enquanto as mulheres preferem homens com melhores perspectivas financeiras.
Essas abordagens já eram previstas pelas percepções evolucionistas do comportamento humano. No segundo trabalho avaliou-se a diferença do tamanho físico que é determinante para definir quem mantem a condição de dominante dentro da relação, por exemplo, quem toma as decisões.
As conclusões das pesquisas são consentâneas de pressupostos da chamada psicologia evolucionista, construída a partir das premissas da teoria da evolução do biólogo inglês Charles Darwin (1809-1882). De acordo com os pesquisadores, esses dados apenas confirmam que alguns critérios na escolha do parceiro ou parceira ainda nos remetem ou têm influência nos preceitos da seleção natural. Não são, todavia, determinantes, pois, com a evolução humana, ou, notadamente, as melhorias no campo cientifico e cultural, surgem outros atrativos para influenciarem na escolha dos parceiros.
Desta forma, a evolução nas relações sociais e a consequente implementação de políticas emancipatórias das mulheres vêm ocasionando a independência financeira destas que, deixando o estado de natureza, aperfeiçoando e conquistando protagonismo, adotam critérios bem personalíssimos sobre quem desejam como companheiro, aquele com quem irá compartilhar de suas vidas. Isso, ressalte-se, ainda é algo incipiente e só é possível em sociedades com elevado índice de consciência política, cultural e social.
Talvez por um atavismo de caracteres biogenéticos de ancestrais bem remotos, verificamos um retrocesso humano, possivelmente movido por alguma força cíclica, e a sociedade atual reacende o fetiche ou culto à estética, ao hedonismo. Portanto, é possível verificarmos duas tendências, diametralmente opostas, em relação às mulheres. Enquanto existem aquelas que nos remetem a um estágio primitivo, cultuando a beleza estética, superficial, como fator de atração do macho como condição da própria sobrevivência, surgem, por outro lado, novos exemplos de mulheres que rompem com esses conceitos tradicionais e se impõe como afirmação por suas qualidades pessoal e profissional, emancipação e rompimento com velhos estereótipos.
Essa força libertadora, que engrandece e enobrece as mulheres, permite que alguns avaliem que, finalmente, estamos no limiar de uma nova era da evolução da espécie.
Espera-se, de fato, ser possível construir-se uma nova ética que possa libertar-nos do estado de natureza. Há quem assegure que a sapiofilia, que se define como uma tendência a sentir-se atraído por quem exprime inteligência, sabedoria, seja uma nova forma de atração que possa influenciar nas relações pessoais futuras. Eu, mais uma vez invadido por meu pessimismo e ceticismo, acredito que a inteligência é, também e principalmente, um recurso em potencial que possibilite assegurar a sobrevivência, uma vez que, de acordo com o adágio popular, “saber é poder”. O conhecimento, portanto, é parte ou consequência desse inegável avanço científico.
As novas formas de produção e geração de riquezas, com a substituição da mão-de-obra, da força física, pela atividade intelectual criativa, confirmam isso. Leva-nos a crer que, apesar de todos os avanços, verificamos estes ocorrem apenas no plano científicos, insuficientes, ao menos por enquanto, para que possamos afirmar que o ser humano tenha se desvencilhado de sua condição natural.
Homens e mulheres ainda agem por impulsos ou instintos visando a sobrevivência e a perpetuação da espécie.
Apesar de todas as convenções sociais e a reinvenção de métodos dissimulatórios que nos induzem a acreditar que evoluímos para um estado social, a verdade é que ainda estamos fortemente atados a hábitos próprios do estado de natureza.
(Manoel L. Bezerra Rocha, advogado criminalista – mlbezerraro[email protected])