Temos aprendido, ultimamente, que o saber é unitário, ocorrendo as especializações por comodidade didática, de vez que tudo provém de uma fonte única – o Absoluto –, estando toda a gama do conhecimento inter-relacionada, na conformidade das descobertas mais recentes, na Filosofia e na Ciência.
2 – Alexandre Aksakof (1832 – 1903), cientista de renome, em seu festejado livro “Animismo e Espiritismo” , critica a ciência de sua época, ao mesmo tempo em que defende os postulados espíritas das investidas, em contrário, do filósofo alemão, Dr. Eduard Hartmann.
Eis alguns fragmentos de sua ampla obra, em prol dos princípios do “Consolador”, que esclarecem e enobrecem os conceitos até aqui expendidos, no que tange aos fenômenos psíquicos, pré-requisitos da imortalidade da alma, que, à sua vez, é pressuposto da existência de Deus – Tese que defendemos, diz o autor:
“...Se a Ciência não tivesse desprezado os fatos do magnetismo animal, desde o começo, dos seus estudos sobre a personalidade teriam dado um passo imenso e teriam entrado no domínio do saber comum; o vulgo se teria então comportado de modo diferente a respeito do Espiritismo, e Ciência não teria tardado em ver, nesses fenômenos superiores, um novo desenvolvimento da desagregação psicológica e essa hipótese com certos desenvolvimentos teria podido também aplicar-se até a todos os outros gêneros de fenômenos mediúnicos; assim nos fenômenos superiores de ordem física (movimentos de objetos sem contacto, etc.), ela teria visto um fenômenos de desagregação de efeito físico, e, nos fatos de materialização, um fenômeno de desagregação de efeito plástico.
Um médium, conforme essa terminologia, seria um indivíduo no qual o estado de desagregação psicológica sobrevém facilmente, no qual, para empregar a expressão do Sr. Janet, “o poder de síntese psíquica fica enfraquecido e deixa escapar-se, para fora da percepção pessoal, um número mais ou menos considerável de fenômenos psicológicos” [...].
Como o Hipnotismo é em nossos dias um instrumento por meio do qual certos fenômenos de automatismo psicológico (de dissociação dos fenômenos da consciência, ou de desagregação mental) podem ser obtidos à vontade e submetidos à experimentação, com o mesmo fundamento, não exitamos em afirmar que o Hipnotismo tornar-se-á em breve um instrumento por meio do qual quase todos os fenômenos do Animismo poderão ser submetidos a uma experimentação positiva, obedecendo à vontade do homem; a sugestão será o instrumento por meio do qual a desagregação psíquica transporá os limites do corpo e produzirá efeitos físicos à vontade [...].
Será também o primeiro passo para a produção à vontade de um efeito plástico, e o fenômenos conhecido em nossos dias sob o nome de “materialização” receberá o seu batismo científico.Tudo isso importa necessariamente na modificação das doutrinas psicológicas e as conduzira ao ponto de vista monístico, segundo o qual cada elemento psíquico é portador não só de uma forma de consciência, como ainda de uma força organizadora [...].
Dissecando a personalidade, a experimentação psicológica chegará a encontrar a individualidade, que é o núcleo transcendente das forças indissociáveis, em roda do qual vêm grupar-se os elementos múltiplos e dissociáveis que constituem a personalidade. É então que o Espiritismo fará valer os seus direitos. Somente ele pôde provar a existência e a persistência metafísica do indivíduo. E chegará o tempo em que, no ápice da possante pirâmide que a Ciência há-de elevar com os inumeráveis materiais reunidos no domínio dos fatos não menos positivos quão tão transcendentes, ver-se-ão brilhar, acesos pela mãos da própria Ciência, os fogos sagrados da Imortalidade...”
3 – Em seguida, Aksakof, filósofo e cientista, a um tempo, leva-nos à ilação de que, na hipótese, em sequência, é de aplicar-se o raciocínio a priori, racional, originário e natural, relacionado à nossa origem, ou essência divina, ou a Mônada dos físicos quânticos.
Nesse nível de entendimento, acrescenta:
“...Por conseguinte, a fé moral é aqui, como em qualquer outro estudo humano, a base indispensável do progresso para a Verdade.
Não pude fazer outra coisa mais do que afirmar publicamente o que vi, ouvi ou senti; e quando centenas, milhares de pessoas afirmam a mesma coisa, quanto ao gênero do fenômeno, apesar da variedade infinita das particularidades, a fé no tipo do fenômenos se impõe.
Assim, não virei afirmar com insistência que cada fato que relatei se produziu exatamente, tal qual ele está descrito – pois que não há caso que não possa prestar-se à objeção –, porém insisto no gênero do fato, eis o essencial. Sei que ele existe, e isso me é bastante para admitir as suas variedades. Vede os fatos de telepatia provados e colecionados com tanto cuidado e zelo pelos trabalhadores infatigáveis da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. Eles convenceram a massa? Absolutamente não –, e ainda menos à Ciência. Ser-lhe-á preciso tempo, como o foi para o Hipnotismo; e, para os fatos de que tratei neste livro, será preciso mais tempo ainda.
Até então apenas se plantarão ao longo do caminho estacas, que um futuro, talvez não muito remoto, substituirá por colunas de granito.
Ainda uma palavra: no declínio da minha existência, pergunto às vezes a mim mesmo se procedi bem em consagrar tanto tempo, trabalho e recursos ao estudo e propagação de todos esses fenômenos. Não tomei caminho errado? Não persegui uma ilusão? Não sacrifiquei uma existência inteira sem que nada justificasse os incômodos que me impus?
Mas sempre julgo ouvir a mesma resposta: para o emprego de uma existência terrestre, não pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existência fenomenal!...”
4 – Encerrando sua prédica e, ao mesmo tempo, corajosa iniciativa e autoritária admoestação à ciência de então, diz, em suas palavras introdutórias do contexto da obra:
“...Não posso, pois, lamentar ter consagrado toda a minha vida à aquisição desse objetivo, se bem que por caminhos impopulares e ilusórios, segundo a ciência ortodoxa, mas que eu sei que são mais infalíveis do que essa ciência. E, se consegui, de minha parte, trazer ainda que uma só pedra à ereção do templo do Espírito – que a Humanidade, fiel à voz interior, edifica através dos séculos com tanto labor –, será para mim a única e mais alta recompensa a que posso aspirar.
- Petersburgo, 3-15 de Fevereiro de 1890.
Alexandre Aksakof.”
(Weimar Muniz de Oliveira. wei[email protected])