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OPINIÃO

É hora da produção, chega de rentismo!

O Ban­co Cen­tral do Bra­sil no dia 07 de fe­ve­rei­ro re­du­ziu a ta­xa bá­si­ca de ju­ros da eco­no­mia bra­si­lei­ra pa­ra 6,75% ao ano. Co­mo di­ria o di­ta­do, “an­tes tar­de do que nun­ca”. Na­da jus­ti­fi­ca­va uma ta­xa de ju­ros tão ele­va­da em uma eco­no­mia que de­cres­ceu 3,5% ao ano no pe­rí­o­do de 2015 e 2016 e che­gou a uma ta­xa de de­sem­pre­go de 12%, ou se­ja, 12,3 mi­lhões de tra­ba­lha­do­res fo­ra do mer­ca­do de con­su­mo. A si­tu­a­ção fi­ca­va pi­or quan­do com­pa­rá­va­mos com as eco­no­mi­as in­ter­na­cio­nais que pra­ti­ca­vam as me­no­res ta­xas de ju­ros da his­tó­ria, paí­ses com ta­xas de ju­ros até ne­ga­ti­vas. Por­tan­to, o Bra­sil re­ma­va con­tra a ma­ré pre­ju­di­can­do to­da a par­te re­al da eco­no­mia, que é a pro­du­ção de bens e ser­vi­ços em be­ne­fí­cio de al­guns pri­vi­le­gi­a­dos que vi­vi­am em um pe­rí­o­do de um ren­tis­mo mui­to gran­de, é só ob­ser­var os re­sul­ta­dos dos con­glo­me­ra­dos fi­nan­cei­ros no pe­rí­o­do 2015 a 2017 em re­la­ção aos re­sul­ta­dos das em­pre­sas pro­du­ti­vas.

Ago­ra es­te ce­ná­rio é pas­sa­do, te­mos que olhar pa­ra fren­te. A re­du­ção da ta­xa bá­si­ca de ju­ros ocor­ri­da no dia 07 de fe­ve­rei­ro traz um no­vo pa­ra­dig­ma pa­ra a eco­no­mia co­mo um to­do. Dei­xa­mos um pe­rí­o­do on­de as apli­ca­ções fi­nan­cei­ras ren­di­am 7% a 10% ao ano de ju­ros re­ais pa­ra uma pro­je­ção atu­al de 2,6% ao ano. É bom ob­ser­var que ain­da es­ta ta­xa é uma das mai­o­res do mun­do, nos Es­ta­dos Uni­dos a ta­xa bá­si­ca de ju­ros da eco­no­mia es­tá em tor­no de 1,25% a 1,50% ao ano, des­con­tan­do a in­fla­ção, 1,9% ao ano, tem-se que a ta­xa de ju­ros re­ais da eco­no­mia ame­ri­ca­na, atu­al­men­te, é ne­ga­ti­va.

Po­de­mos ob­ser­var três pon­tos po­si­ti­vos nes­ta de­ci­são do Ban­co Cen­tral: a pri­mei­ra diz res­pei­to a sa­ú­de da eco­no­mia bra­si­lei­ra; a se­gun­da co­me­ça a fa­zer sen­ti­do e fe­char a con­ta os pro­je­tos de in­ves­ti­men­tos das em­pre­sas bra­si­lei­ras e a ter­cei­ra é a trans­fe­rên­cia de apli­ca­ções fi­nan­cei­ras de pa­péis que não agre­gam va­lo­res na eco­no­mia pa­ra ati­vos re­ais que são pro­du­zi­dos pe­la eco­no­mia, ge­ran­do em­pre­gos, tri­bu­tos e ren­da.

Nos úl­ti­mos 3 anos, 2015 a 2017, a eco­no­mia bra­si­lei­ra pa­gou apro­xi­ma­da­men­te 7% ao ano de ju­ros pa­ra os de­ten­to­res dos pa­péis da dí­vi­da pú­bli­ca in­ter­na, de­veu-se ba­si­ca­men­te a prá­ti­ca de ju­ros re­ais da or­dem de 8% ao ano, em mé­dia, no pe­rí­o­do.  Nes­te mes­mo pe­rí­o­do a dí­vi­da pú­bli­ca bra­si­lei­ra cres­ceu de 58% do PIB em 2014 pa­ra qua­se 80% do PIB em 2017, ou se­ja, 22 pon­tos per­cen­tu­ais. Nes­te mes­mo pe­rí­o­do o dé­fi­cit pri­má­rio do Bra­sil foi de 2,1% ao ano, em mé­dia. Po­de­mos de­du­zir que o cres­ci­men­to da dí­vi­da pú­bli­ca bra­si­lei­ra de­veu-se, em 80%, as al­tas ta­xas de ju­ros pra­ti­ca­das pe­lo Ban­co Cen­tral com o dis­cur­so de re­du­zir a in­fla­ção.

Pa­ra 2018 pro­je­ta-se 2,4% de ju­ros a se­rem pa­gos aos de­ten­to­res da dí­vi­da, em fun­ção da que­da da ta­xa de ju­ros re­ais de 7% pa­ra 2,6% ao ano. Ain­da mais se ana­li­sar­mos que o PIB de 2018 de­ve cres­cer, ce­ná­rio oti­mis­ta, 4% e que em fun­ção da lei do te­to de gas­tos o go­ver­no não gas­ta­rá na­da  aci­ma da in­fla­ção, po­de­re­mos ter até um su­pe­rá­vit pri­má­rio, con­si­de­ran­do uma ra­ci­o­na­li­da­de de cál­cu­lo, sem mai­o­res pre­ci­sões téc­ni­cas. Por­tan­to, a dí­vi­da bru­ta pú­bli­ca ace­na pa­ra uma es­ta­bi­li­za­ção em re­la­ção ao PIB em 2018. (Se con­si­de­ra­mos a re­cei­ta tri­bu­tá­ria ba­se 100 pa­ra 2017, em 2018 es­ta re­cei­ta se­rá de 104, con­si­de­ran­do ain­da que as des­pe­sas tem ba­se 101,9 em 2017 es­tas mes­mas se­rão em 2018, os mes­mos 101,9, pois a lei do te­to dos gas­tos pro­í­be o go­ver­no gas­tar mais do que o mon­tan­te gas­to no ano an­te­ri­or cor­ri­gi­do pe­la in­fla­ção ape­nas, sem cor­re­ção re­al. Por­tan­to, pa­ra o ra­ci­o­cí­nio ló­gi­co e até sim­plis­ta não se­ria na­da ex­tra­or­di­ná­rio a eco­no­mia bra­si­lei­ra em 2018 apre­sen­tar um su­pe­rá­vit pri­má­rio da or­dem de 2,1%, 104-101,9)

Ha­via re­ceio de que re­du­zin­do as ta­xas de ju­ros re­ais da eco­no­mia bra­si­lei­ra o Bra­sil so­fre­ria uma re­du­ção de en­tra­das de ca­pi­tais es­tran­gei­ros, não es­ta­mos cons­ta­tan­do is­so, mes­mo por­que co­mo foi di­to an­te­rior­men­te te­mos ain­da uma ta­xa de ju­ros re­ais aci­ma das prin­ci­pa­is eco­no­mi­as do mun­do, um atra­ti­vo sig­ni­fi­ca­ti­vo pa­ra o ca­pi­tal es­tran­gei­ro.

Já pa­ra as em­pre­sas, no pe­rí­o­do ci­ta­do (2015 a 2017), ga­ran­tir pro­je­tos que pu­des­sem ter ta­xas in­ter­nas de re­tor­no aci­ma dos ju­ros re­ais pra­ti­ca­dos pe­la eco­no­mia era pra­ti­ca­men­te in­vi­á­vel. Não é co­in­ci­dên­cia da que­da nas ta­xas de in­ves­ti­men­tos da or­dem de 35% no pe­rí­o­do. As con­tas não fe­cha­vam. Era mais se­gu­ro e lí­qui­do dei­xar o di­nhei­ro do cai­xa apli­ca­do nes­tes in­ves­ti­men­tos de pa­péis, ga­ran­ti­do 7% a 10% de ju­ros re­ais ao ano, do que in­ves­tir na pro­du­ção de bens e ser­vi­ços. Ago­ra com ta­xas de ju­ros re­ais a 2,6% ao ano é mais fac­tí­vel pa­ra as em­pre­sas te­rem pro­je­tos com ren­ta­bi­li­da­de aci­ma dis­so pa­ra com­pen­sar to­do o ris­co de uma ope­ra­ção pro­du­ti­va. Por­tan­to, a pre­vi­são é de que mui­tos pro­je­tos se­rão re­ti­ra­dos das ga­ve­tas e im­ple­men­ta­dos.

Por úl­ti­mo e não me­nos im­por­tan­te, com a que­da na ta­xa de ju­ros da eco­no­mia bra­si­lei­ra, os in­ves­ti­men­tos em ati­vos re­ais pas­sam a ser a bo­la da vez, prin­ci­pal­men­te no seg­men­to imo­bi­liá­rio, um dos mais afe­ta­dos no pe­rí­o­do ana­li­sa­do. Es­te seg­men­to é mui­to im­por­tan­te pa­ra a eco­no­mia bra­si­lei­ra, pois é um seg­men­to de gran­de ab­sor­ção de mão de obra. A ta­xa de va­cân­cia de imó­veis re­si­den­ci­ais e co­mer­ci­ais de­ve­rá re­du­zir sig­ni­fi­ca­ti­va­men­te, pri­mei­ro em fun­ção da re­du­ção do va­lor no­mi­nal do alu­guel e em se­gun­do, mes­mo re­du­zin­do o va­lor no­mi­nal do alu­guel, a ren­da au­fe­ri­da por es­te alu­guel ten­de­rá ser su­pe­ri­or a ren­ta­bi­li­da­de dos in­ves­ti­men­tos fi­nan­cei­ros em pa­péis até es­te mo­men­to. Ima­gi­na­mos uma sa­la co­mer­cial de va­lor de R$ 250 mil que an­tes exi­gia va­lor de alu­guel da or­dem de R$ 1.250 pa­ra po­der ren­ta­bi­li­zar o pro­pri­e­tá­rio em 0,5% ao mês, ou se­ja, 6% ao ano. Ago­ra es­te mês imó­vel, nes­te ce­ná­rio de ta­xas de ju­ros, po­de exi­gir alu­guel que ren­ta­bi­li­ze o seu ca­pi­tal em tor­no de 0,2% a 0,3% ao mês, que anua­li­za­do to­ta­li­za 2,4% a 3,6% ao ano. Es­te alu­guel po­de­rá ser ofe­re­ci­do ao mer­ca­do pe­lo va­lor de R$ 500 a R$ 750 por mês. De um la­do, re­du­zin­do o va­lor do alu­guel é de que a ten­dên­cia se­ja ocu­pa­ção do imó­vel, e de ou­tro la­do, o pro­pri­e­tá­rio con­se­gue re­mu­ne­ra­ção fi­nan­cei­ra equi­va­len­te a re­mu­ne­ra­ção ofe­re­ci­da pe­lo mer­ca­do fi­nan­cei­ro de pa­péis.

A ló­gi­ca men­ci­o­na­da an­te­rior­men­te de­ve­rá fo­men­tar de ma­nei­ra sig­ni­fi­ca­ti­va o mer­ca­do de imó­veis tan­to pa­ra 1a. re­si­dên­cia co­mo pa­ra a 2a. re­si­dên­cia. As em­pre­sas que es­tão nes­te seg­men­to vi­ve­rão di­as me­lho­res.

Sa­u­da­mos en­tão a de­ci­são do Ban­co Cen­tral do Bra­sil, mes­mo que tar­dia.

(Mar­cos Frei­tas Pe­rei­ra, dou­to­ran­do em Tu­ris­mo. mar­cos@hmscon­sul­to­ria.com.br)

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