Como ficou repetidamente demonstrado nos Títulos anteriores, Espírito e Matéria têm a mesma origem – o Hálito do Criador, ou fluido cósmico.
2 – No que se refere ao corpo físico – síntese biológica das espécies –, Emmanuel, em “Roteiro” , escreve:
“Quantos milênios gastou a Natureza Divina para realizar a formação da máquina física em que a mente humana se exprime na Terra?
O corpo é para o homem santuário real de manifestação, obra-prima do trabalho seletivo de todos os reinos em que a vida planetária se subdivide.
Quanto tempo despenderá, desse modo, a Sabedoria Celeste na estruturação do organismo da alma?
Da sensação à irritabilidade, da irritabilidade ao instinto, do instinto à inteligência e da inteligência ao discernimento, séculos e séculos correram incessantes.
A evolução é fruto do tempo infinito.
A morte da forma somática não modifica, de imediato, o Espírito que lhe usufruiu a colaboração.
Berço e túmulo são simples marcos de uma condição para outra.
Assim é que, para as consciências primárias, a desencarnação é como se fora a entrada em certo período de hibernação. Aves sem asas, não se elevam à altura. Aguardam o momento de novo regresso ao ninho carnal para a obtenção de recursos que as habilitem para os grandes vôos. Crisálidas espirituais, imobilizam-se na feição exterior com que se apresentam, mas no íntimo conservam as imagens de todas as experiências que armazenaram nos recessos do ser, revivendo-as em forma de pesadelos e sonhos, imprimindo na mente as necessidades de educação ou reparação, com que devem comparecer no cenário da carne, em momento oportuno...”
3 – Consequentemente, nos precisos termos de Emmanuel, que vêm de ser transcritos, a vida persiste, normal, contínua e permanentemente, através do corpo físico e no corpo perispiritual, ou, noutras palavras, através de berços e túmulos renovados, que se processam ao longo dos milênios, sem solução de continuidade da vida.
Encerrando as suas ponderações, dando ênfase à evolução espiritual, que se realiza nos mundos físicos e nas esferas do Espírito, sucessivamente, diz Emmanuel:
“...De átomo a átomo, organizam-se os corpos astronômicos dos mundos e de pequenina experiência em pequenina experiência, infinitamente repetidas, alarga-se-nos o poder da mente e sublimam-se-nos as manifestações da alma que, no escoar das eras inumeráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se na virtude, estruturando, pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o veículo glorioso com que escalaremos, um dia, os impérios deslumbrantes da Beleza Imortal.”
4 – Bertrand Russell (1872 - 1970), filósofo e matemático britânico, em “Análise do Espírito” , no afã de explicitar para o vulgo as minudências entre Espírito e Alma, fornece-nos também sua inestimável contribuição, salientando:
“Poucas coisas estão mais fortemente arraigadas na filosofia popular do que a distinção entre espírito (*) e matéria. Aqueles que não são metafísicos profissionais inclinam-se a confessar que ignoram o que seja realmente o espírito, ou com é constituída a matéria; mas continuam convencidos de que há entre os dois um abismo intransponível e que ambos fazem parte de tudo o que realmente existe no mundo. Os filósofos, por outro lado, têm afirmado com frequência que a matéria não passa de mera ficção imaginada pelo espírito, e algumas vezes que o espírito é uma simples propriedade de certa espécie de matéria. Aqueles que afirmam que o espírito é a realidade, e a matéria apenas um sonho mau, chamam-se ‘idealistas’ – palavra que tem em filosofia significado diverso daquele que lhe emprestamos vulgarmente. Os que afirmam que a matéria é a realidade e o espírito uma simples propriedade do protoplasma, são denominados ‘materialistas’. Enontramo-los raramente entre os filósofos, mas é comum encontrá-los entre os cientistas. Os idealistas, os materialistas e os simples mortais têm sido sempre unânimes num ponto: afirmam saber suficientemente o que querem dizer com as palavras ‘espírito’ e ‘matéria’ para poderem conduzir inteligentemente os seus debates. Precisamente neste ponto, em que todos concordam, é que todos nos parecem ter estado igualmente em erro.
A substância de que é composto o mundo da nossa experiência, a meu ver, não é espírito nem matéria, mas algo ainda mais primitivo.
A matéria e o espírito parecem ser compósitos, e a substância que os compõe situa-se, num certo sentido, entre os dois, e noutro sentido, acima de ambos, como se se tratasse de um antepassados comum...”
Percebe-se, com meridiana clareza, que o autor quis referir-se ao fluido cósmico universal, ou Austo do Criador, fonte da qual promanam todas as coisas, conforme o ensino dos Espíritos, ora lembrado por Emmanuel, que precede as manifestações de Bertrand Russel.
5 – E, em acorde com os físicos quânticos, e, sobretudo, com os postulados básicos do Espiritismo – a posição mais avançada, nos tempos que correm, quanto às informações e intercâmbio espirituais e em perfeita consonância às leis físicas e extrafísicas a que estamos sujeitos –, acrescenta o autor de “Análise do Espírito”:
- – Rodapé de Bertrand Russel, que não altera, em substância, o objetivo de nossa Tese.
“...Se alguma coisa existe que possa ser designada, em conceito vulgar, para caracterizar o espírito, será a “consciência”.
6 – No que se relaciona ainda ao binômio – Espírito e Matéria –, que integra a tríade universal – Deus, Espírito e Matéria –, vejam-se as questões 78 a 81 e 83, de “O Livro dos Espíritos”, obra basilar do Espiritismo e sobejamente citada nesta Tese, sem prejuízo de também uma vista d´olhos, por parte do digno leitor, na questão 115, da mesma obra, que registra: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber nada.”
Eis as aludias questões:
- Os Espíritos tiveram princípio, ou existem, como Deus, de toda a eternidade?
“Se não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, quando, ao invés, são criação sua e se acham submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, é incontestável. Quanto, porém, ao modo por que nos criou e em que momento o fez, nada sabemos. Podes dizer que não tivemos princípio, se quiseres com isso significar que, sendo eterno, Deus há de ter sempre criado ininterruptamente. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério.”
- Pois que há dois elementos gerais do Universo: o elemento inteligente e o elemento material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material?
“Evidentemente. Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que essa formação se operou é que são desconhecidos.”
- A criação dos Espíritos é permanente, ou só se deu na origem dos tempos?
“É permanente. Quer dizer: Deus jamais deixou de criar.”
- Os Espíritos se formam espontaneamente, ou procedem uns dos outros?
“Deus os cria, como todas as outras criaturas, pela sua vontade. Mas, repito ainda uma vez, a origem deles é mistério.”
- Os Espíritos têm fim? Compreende-se que seja eterno o princípio donde eles emanam, mas o que perguntamos é se suas individualidades têm um termo e se, em dado tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se dissemina e volta à massa donde saiu, como sucede com os corpos materiais. É difícil de conceber-se que uma coisa que teve começo não possa ter fim.
“Há muitas coisas que não compreendeis, porque tendes limitada inteligência. Isso, porém, não é razão para que as repilais. O filho não compreende tudo que a seu pai é compreensível, nem o ignorante tudo que o sábio apreende. Dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer”.
(Weimar Muniz de Oliveira – wei[email protected])