Verifica-se que a prova da existência da alma, sua sobrevivência, individualidade e eternidade dão-nos a convicção de que há mesmo, indubitavelmente, uma Mente Superior às demais, no Universo, que o concebeu, criou-o e o administra.
Não há dúvida também de que a alma preexiste ao corpo, tese defendida, aliás, por Orígenes, um dos Pais da Igreja Católica Romana.
Em o opúsculo “O que é o Espiritismo” , de Allan Kardec, que nos faculta uma excelente síntese dos princípios espíritas, lêem-se das questões 108 a 115 as seguintes respostas, que nos esclarecem suficientemente:
- Qual a sede da alma?
“A alma não está, como geralmente se crê, localizada num ponto particular do corpo; ela forma com o perispírito um conjunto fluídico, penetrável, assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte não é, de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasião um deles é destruído, ao passo que o outro subsiste.
Durante a vida a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-se ao longe e aí manifestar sua presença, como o provam a observação e os fenômenos sonambúlicos.”
2 – E, falando sobre a independência da alma com relação ao seu invólucro (o corpo) , pergunta se a alma foi criada ao mesmo tempo que o corpo, preceituando:
- Será a alma criada ao mesmo tempo que o corpo, ou anteriormente a este?
“Depois da questão da existência da alma, é esta uma das questões mais capitais, porque de sua solução dimanam as mais importantes consequências: ela é a única capaz de explicar uma multidão de problemas até hoje insolúveis, por não se ter nela acreditado.
De duas uma: ou a alma existe, ou não existe antes da formação do corpo; não pode haver meio-termo.
Com a preexistência da alma tudo se explica lógica e naturalmente; sem ela, encontram-se tropeços a cada passo, e, mesmo, certos dogmas da Igreja ficam sem justificação, o que tem conduzido muitos pensadores à incredulidade.
Os Espíritos resolveram a questão afirmativamente, e os fatos, como a lógica, não podem deixar dúvidas a esse respeito.
Admita-se, ao menos como hipótese, a preexistência da alma, e veremos aplainar-se a maioria das dificuldades.”
- Se a alma já existia, antes da sua união com o corpo tinha ela sua individualidade e consciência de si?
“Sem individualidade e sem consciência de si mesma, seria como se não existisse.”
- Antes da sua união com o corpo, já tinha a alma feito algum progresso, ou estava estacionária?
“O progresso anterior da alma é simultaneamente demonstrado pela observação dos fatos e pelo ensino dos Espíritos.
- Criou Deus as almas iguais moral e intelectualmente, ou fê-las mais perfeitas e inteligentes umas que as outras?
“Se Deus as houvesse feito umas mais perfeitas que as outras, não conciliaria essa preferência com a justiça.
Sendo todas as criaturas obra sua, por que dispensaria ele do trabalho umas, quando o impõe às outras para alcançarem a felicidade eterna?
A desigualdade das almas em sua origem seria a negação da justiça de Deus.”
- Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e predisposição naturais que notamos entre os homens, na Terra?
“Essa diversidade é a consequência do progresso feito pela alma, antes da sua união ao corpo.
As almas mais adiantadas, cm inteligência e moralidade, são as que têm vivido mais e mais progredido antes de sua encarnação.”
- Qual o estado da alma em sua origem?
“As almas são criadas simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo. A princípio, encontram-se numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência. Pouco a pouco o livre-arbítrio se desenvolve ao mesmo tempo que as ideias” (“O Livro do Espíritos”, nºs. 114 e seguintes).
- Fez a alma esse progresso anterior, no estado de alma propriamente dita, ou em precedente existência corporal?
“Além do ensino dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem, na Terra, prova que o progresso anterior da alma deve fazer-se em uma série de existências corporais, mais ou menos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a prova disto está na observação dos fatos que diariamente estão sob os nossos olhos” (“O Livro dos Espíritos”, nºs 166 a 222 – “Revue Spirite, abril, 1862, páginas 97 a 106).
3 – Das questões acima e respectivas respostas, baseadas na lógica e na experiência, resulta que a alma preexiste ao corpo físico, ou seja, antes de reencarnar já existia na erraticidade, em status de eternidade, como consequência de ato de vontade da Inteligência Suprema.
E ainda, como resultado de ato volitivo da Providência Divina, cada alma, ou espírito, advindo da progressão do Princípio Inteligente do Universo, tem sua própria individualidade.
4 – Em síntese, a alma, ou espírito, tem as seguintes características, ou requisitos: preexistência, individualidade e imortalidade.
Augusto dos Anjos, dos mais férteis e rítmicos poetas da Literatura Brasileira, já contemplado neste trabalho, dá-nos, em seguida, em “Parnaso de Além-Túmulo” , o teor da visão espiritista da alma, tão decantada em todas as literaturas mundiais:
“Espírito
Busca a Ciência o Ser pelos ossuários,
No órgão morto, impassível, atro e mudo;
No labor anatômico, no estudo
Do germe, em seus impulsos embrionários;
Mas encontra os vermes-funcionários
No seu trabalho infame, horrendo e rudo,
De c9onsumir as podridões de tudo,
Nos seus medonhos ágapes mortuários.
No meio triste de cadaverinas
Acha-se apenas ruína sobre ruínas,
Como o bolor e o mofo sob as heras;
A alma que é Vibração, Vida e Essência,
Está nas luzes da sobrevivência,
No transcendentalismo das esferas.”
(Weimar Muniz de Oliveira – wei[email protected])