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Opinião: Fundo eleitoral rouba recursos de escolas e hospitais

No fi­nal de 2016, aler­tei que o fun­do elei­to­ral pro­pos­to na épo­ca era uma afron­ta ao po­vo bra­si­lei­ro. Em um pa­ís com tan­tos pro­ble­mas, os nos­sos po­lí­ti­cos es­ta­vam mui­to en­ga­ja­dos em apro­var o re­co­lhi­men­to de apro­xi­ma­da­men­te R$ 2 bi­lhões dos con­tri­buin­tes pa­ra gas­tos com as elei­ções em 2018.

Acre­di­to que se­ja con­sen­so en­tre a po­pu­la­ção que ver­ba pa­ra gas­tos elei­to­ra­is nem de lon­ge é pri­o­ri­da­de – prin­ci­pal­men­te con­si­de­ran­do que o po­vo já não aguen­ta mais a clas­se po­lí­ti­ca e não tem in­te­res­se al­gum em be­ne­fi­ciá-la –, mas é fa­to que quan­do sur­ge a pos­si­bi­li­da­de de ‘en­cher os bol­sos’ dos par­ti­dos, os go­ver­nan­tes são mui­to ágeis e ar­ti­cu­la­dos. E não deu ou­tra: an­tes do fim de 2017, o tal fun­do já es­ta­va apro­va­do.

Eis que no co­me­ço de 2018 é no­ti­ci­a­do que es­se mes­mo fun­do vai re­du­zir apli­ca­ção de ver­bas na sa­ú­de (R$ 350,5 mi­lhões) e na edu­ca­ção (R$ 121,8 mi­lhões), to­ta­li­zan­do qua­se meio bi­lhão de re­ais, que de­ve­ri­am ser des­ti­na­dos a es­sas du­as áre­as es­sen­ci­ais. Em re­su­mo, hos­pi­tais e es­co­las te­rão re­cur­sos re­du­zi­dos.

A cri­a­ção do no­vo fun­do elei­to­ral em si é mo­ral­men­te ques­ti­o­ná­vel. Afi­nal, os par­ti­dos já con­tam com ou­tro fun­do de R$ 888,7 mi­lhões, va­lor que per­ma­ne­ce e que se­rá so­ma­do aos R$ 2 bi­lhões. Além dis­so, os par­ti­dos dis­põ­em de pro­pa­gan­da elei­to­ral gra­tui­ta ve­i­cu­la­da na tv e no rá­dio, que, se­gun­do a ONG Con­tas Aber­tas, te­rá isen­ção fis­cal de mais de R$ 1 bi­lhão a em­pre­sas de rá­dio e te­le­vi­são em 2018. Is­so quer di­zer que dei­xa de en­trar di­nhei­ro no cai­xa do go­ver­no des­sas em­pre­sas. A si­tu­a­ção pi­o­ra por­que o que é da­do co­mo be­ne­fí­cio aos par­ti­dos cer­ta­men­te pre­ju­di­ca­rá a po­pu­la­ção. Um exem­plo: os es­ta­dos do Ce­a­rá, Pa­raí­ba e San­ta Ca­ta­ri­na dei­xa­rão de re­ce­ber ver­bas que ha­vi­am si­do pre­vis­tas pe­lo Fun­do Na­ci­o­nal de Sa­ú­de (FNS).

A ver­da­de é que já fal­ta ver­ba pa­ra a sa­ú­de e a edu­ca­ção. Além dis­so, os re­cur­sos des­ti­na­dos são mal ge­ren­ci­a­dos, pois o Bra­sil so­fre da fal­ta de bons ges­to­res. Ela­bo­rar um or­ça­men­to que fa­ça sen­ti­do é ta­re­fa que pou­cos fa­zem. E, pa­ra pi­o­rar, sig­ni­fi­ca­ti­va par­ce­la dos va­lo­res se­rá des­ti­na­da pa­ra es­sa clas­se pri­vi­le­gi­a­da, a dos po­lí­ti­cos, e que vem, aos pou­cos mas cons­tan­te­men­te, pre­ju­di­can­do a vi­da do ci­da­dão bra­si­lei­ro que pa­ga os seus im­pos­tos.

O fun­do elei­to­ral é ape­nas uma des­sas idei­as que be­ne­fi­ci­am ape­nas os po­lí­ti­cos. A re­for­ma da Pre­vi­dên­cia, a re­for­ma tra­ba­lhis­ta, a ter­cei­ri­za­ção ir­res­tri­ta e o te­to de gas­tos são ou­tros exem­plos de pro­pos­tas e emen­das da ges­tão atu­al que já fo­ram apro­va­das ou es­tão em fa­se dis­cus­são e que, em ter­mos ge­ra­is, são pre­ju­di­ci­ais ao po­vo.

É por es­ses e ou­tros tan­tos mo­ti­vos que o Con­gres­so Na­ci­o­nal pre­ci­sa pas­sar por uma gran­de ‘fa­xi­na’ nas pró­xi­mas elei­ções. As fi­gu­ras que lá es­tão já per­de­ram o bom sen­so há mui­to tem­po e não me­re­cem nos­sa con­fi­an­ça.

(An­to­nio Tuc­cí­lio, pre­si­den­te da Con­fe­de­ra­ção Na­ci­o­nal dos Ser­vi­do­res Pú­bli­cos – CNSP)

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