Estou escrevendo Mineiros: a Cidade na História, em fase “final”, inspirado em dois motivos básicos: Projeto Mineiros Tem História, com o qual tento preencher lacunas carentes dessa ciência, afins etc. Em segundo lugar, no livro clássico, “A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas”, de Lewis Munford, a maior autoridade no Estudo da cultura urbana, tradução Neil R. da Silva, Martins Fontes, São Paulo, 2004, extraordinária fonte e desafio na minha vida tentando assimilar e expor conhecimentos, através de livros, por exemplo. Tem sido uma peleja! Numa cidade do interior, se é que ainda existe, tornando-me uma espécie de eremita, morando cá no meu eremitério, onde o maior problema não é só escrever... imaginem! É sobretudo difundir o que penso e escrevo. Como levar Racismo à Brasileira: raízes histórica, reimpresso em 4ª edição pela Anita Garibaldi, aos mais de cinco mil municípios? Dentre outros, José J. Veiga, famoso escritor, afirma ser “trabalho sério, oportuno, essencial, importante, que dará que pensar, se for bem divulgado”. Sei que a Editora já o distribuiu, no possível, porém não foi como precisa e certamente merece.
E os outros livros? Embora tenham divulgação, também começando cá no meu eremitério Mineirense, é insuficiente. O Advocacia: engenho e arte, em 3ª edição, premiado pela OAB, incluindo Seccional Goiana, não raro, precisa ser melhor divulgado. E a qualidade? Teriam esse requisito fundamental? Decerto, nas minhas limitações de sertanejo autóctone dos sertões, oxalá impregnado de desconfiança e telurismo rural goiano, ainda muito forte. Se duvidarem, não é minha a dúvida. Leiam a “Saciologia Goiana”, do caro Gilberto Mendonça Teles, a sair em 10ª edição. Se ainda persistem, desconfiem. Por que não ler o aprazível poema “O livro e a América”, de Castro Alves?
Não sei o que vou fazer. Prossigo apreensivo com a tal qualidade literária, historiográfica e outros “saberes” ou vieses dos livros que escrevo. Como estaria Uma Pausa Para a Coluna Passar, edição de 2012, contando a história da passagem da “Coluna Prestes” em Goiás, sobremodo no Sudoeste de Goiás? E Sombras do Coronelismo na História do Judiciário, 2014, nos seus descuidos, já colocados em xeque?
Para os interessados, sobretudo mais curiosos a respeito da possível qualidade dos meus livros, transcrevo carta do inesquecível Carmo Bernardes, referindo-se ao livro Parque das Emas: última Pátria do Cerrado, já em 3ª edição, epigrafado:
“Goiânia, novembro de 1991.
Martiniano,
Este trabalho seu tem que ser publicado em livro com a máxima urgência, pois não podem ficar, o público e os estudiosos, carentes, como estão, das informações judiciosíssimas que você derrama perdulário nestas páginas.
A variedade dos temas aqui abordados, todos desaguando na vertente central, que é o Parque das Emas, me assombra. Começa remontando a antiguidade, mostrando que já nos tempos arcaicos, vultos destacados da história, preocupavam com a devastação da Terra, e conclui, ao longo de muitas páginas, examinando a fitogeografia da vegetação da área estudada, apresenta mapas da distribuição dos ecossistemas, e vem aos tempos modernos com fotos de satélite do Parque Nacional das Emas, aliás, o objeto principal dessa sua labuta.
Prodigalidade extraordinária a sua, e o que me comove até me vir um travo na garganta é o seu amor pela Natureza, é a garra, é a paciência com que você se dedica a tão vastos e variados temas.
Até o limite dos meus parcos conhecimentos, os dados apresentados, históricos, geográficos – científicos enfim –, são de meridiana clareza e sobretudo corretos. E se aos estudantes, às novas gerações, o meu aval ao que aqui Martiniano assegura, tiver algum peso, recomendo que contem com ele.
Para dar substância à matéria referente aos parques nacionais, o autor escava arqueologia, vê se a complexidade da fitogeografia das regiões que estuda, remonta a história antiga e moderna; e com estoicismo, consome noites insones cismando sobre vários outros campos da ciência. Maior tempo para nos labirintos da zoologia.
Faz revelações que me surpreendem, fatos que não estão a conhecer por parte das mediocridades em que me incluo, como os de que personalidades celebres dos primórdios da República, José do Patrocínio, já se preocupava com a ecologia, e que foi Rebouças, em 1876, que sugeriu a criação do Parque Nacional do Araguaia e Sete Quedas.
Minha última palavra: sinto-me apequenado à sombra deste trabalho mas, de baixo para cima, digo a Martiniano que se nada mais ele fazer deite-se sobre os louros. Fazer mais o quê?
Carmo Bernardes.”
(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado – MNU, Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGO, Ubego, AGI, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – martinianojsilva@yahoo.com.br)