O alvoroço, apreço, desejo majoritário, na reunião do Sudoeste, pelo cultivo da soja, hoje Rainha do Agronegócio, levou-me, na condição de secretário de estado, condutor da política agrícola, a ultimar a viagem, em meio a outras arestas, a espera de providências, como as articulações em torno da Exposição Nacional de Campeões. Nesta encruzilhada, maratona, aguçou-me o espírito o questionamento milenar de Sócrates, considerado, juntamente, com Aristóteles, Platão, os três maiores sábios, a.C: “Vou, não vou, mesmo sendo um só, não sou simplesmente, um só, mas sim, dois em um, este um não é nenhuma ilusão, faz se ouvir falando para mim, por isto é melhor, primeiro, que eu esteja bem comigo mesmo, antes de interferir no outro”, enfim, escolher o mais importante, e urgente demanda meditação, para chegar a sabedoria, preceptora da melhor opção.
Coisa ínfima, mas que, de vez em quando, fica indigesta em nossa mente. Na realidade, desde o princípio, quando na Acar-Goiás, a soja já era objeto de celeuma e atenção, atenção aguçada, e, em parte, amainada pelos ensaios: FAO – Anda – Abcar. Com efeito, as respostas destes ofereceram resultados razoáveis, mas jazia, ainda, dúvidas, delas, o anseio forte de solucioná-las, essa dubiedade, do vou, não vou de Sócrates, sou ou não sou um só? Tamanha ansiedade, desencadeada pela importância da cultura, na conquista do ainda indomável cerrado, subsidiou a excursão de três pesquisadores ao estado do sul. A decisão, no tocante as variedades melhores, clamava por mais debate, assim, projetado estava o debate da equipe, em excursão com produtores, neles, produtores de sementes e pesquisadores. O desejo, cada vez maior em plantá-la, acabou por me levar ao Rio Grande do Sul, com duplo objetivo: o da soja para plantio e o da exposição pecuária à procura de criadores de renome, visando sua participação na exposição nacional de Campeões, destinada a atrair pecuaristas, de igual modo, de qualidade, para o magno evento, e, quem sabe, a extensão de seu criatório a Goiás, contribuindo para melhoria do rebanho goiano. De sorte que, a excursão era aproveitada para atrair gente progressista, inovadores ao nosso rincão.
Ademais, aproveitamos o convívio com os gaúchos, para obter informes iniciais no cultivo de arroz irrigado. O arroz de sequeiro, então, pé de boi no desbravamento do cerrado, era frequentemente dizimado pelos veranicos, falta de chuvas, nas colheitas. O estado, era experiente no cultivo da soja e irrigação de arroz, assim, além de resolver o desafio das variedades de soja a serem cultivadas, em caráter pioneiro, estabeleci contatos com especialistas em irrigação, entre os vários, o professor Mendes, que acabou sendo, durante todo o tempo que conduzi a política agrícola goiana, mentor, assessor de grande valia, nono estudo, conhecimento de áreas adequadas a irrigação, seu potencial, assessorando, inclusive, os primeiros irrigantes de arroz, em Goiás. Abriu ele, as primeiras luzes sobre o imenso vale do Araguaia, ao longo da ilha do Bananal, onde a irrigação, embora tenha sido açoitada, por tropeços financeiros no começo, atualmente, medra, medra de forma diversificada, em continuo rodizio, consoante os atrativos de mercado: arroz, feijão, milho, e mesmo, a Soja, Rainha do Agronegócio. Sentia-me, de certa forma, compensado pela gama de conhecimentos, conhecimentos sobremodo valiosos, que me proporcionavam os contatos, reuniões, diálogo encadeado, consubstanciado a condição de secretário. Outrossim, voltando ao batente, urgia providências, para levar os cultivares adquiridos as frentes de produção, tarefa levada a bom termo, por assessores, como o engenheiro agrônomo Nautir Amaral e o Dr. Bonifácio, fitotecnista, em interação, com o fundo de economia rural da secretaria, no entanto, as cooperativas existentes, na época, nas respectivas áreas, acabaram encarregadas de vender, tão badaladas sementes, aos sojicultores pioneiros. Oxalá, consolidasse, perenizasse, de vez, a cultura que, sobranceiramente, viria ser, a Rainha do Agronegócio.
Os moinhos eram pioneiros, tinham a nobre missão de abrir caminho, como dito, ao cultivo racional do cerrado. O coordenador do projeto, saudoso engenheiro agrônomo, Ely Rocha, um técnico diligente, agarrado ao trabalho, no cumprimento do dever, enlevado de civismo, as vezes reclamações, embora sua destreza, no tocante a condução das atividades produtoras de calcário, chegavam ao meu telefone, ao que, sabedor de sua desenvoltura, de imediato, ligava a ele, em certos casos, já havia providenciado os reparos. Uma dessas, foi do prefeito de Caldas Novas, alegando que havia um amontoado muito grande de calcário, dessa forma, pleiteava a paralisação provisória dos moinhos, enquanto houvesse grande estoque, afim de aliviar a poeira branca na parte baixa da cidade, onde, inclusive, morava ele. Liguei de afogadilho, de chofre, me informou que, enquanto lá sobrava, faltava no Sudoeste. De modo que, havia providenciado caminhões extras, para transportar, o que lá sobrava, o insumo de sobra, seria enviado, par a outra região.
Acresceu, meio agastado, que os moinhos foram localizados próximos a cidade, por insistência do próprio prefeito. Às sucessivas reclamações dele, prefeito, levou a instalação de tela protetora que, no entanto, não eliminou de forma salutar o imbróglio. Ely Rocha, foi agente de extensão rural da Acar-Goiás, em Piracanjuba. As promoções eram feitas por mérito, tendo como base avaliações do trabalho realizado no município. Era ele, um desses extensionistas promovido por mérito, reconhecendo e valorizando sua capacidade, convidamos, na condição de secretário, para a coordenação do projeto calcário e, outros insumos, no caso, o fosfato de rocha. O comércio de então, não tinha interesse em vendê-lo, havia dificuldade em fazer chegar aos produtores, no caso, pequenos consumidores, principiantes no consumo do pó milagroso. Tal pó milagroso, a princípio, desacreditado, objeto de questionamento, mas, logo a seguir, elevado a miraculoso pelas Demonstrações de Resultados (DR), mormente, com plantio de arroz, pé de boi na conquista, como dito do cerrado, ao derrotar, a princípio, o desafio da baixa produtividade.
Dessa forma, as DRs feitas com arroz de cerqueiro, em 1968, eram ao todo 37, em municípios diferentes, entre os quais, Piracanjuba. Escolhido o produtor, em comum acordo, fixava-se o local, a área a ser plantada, no mínimo, 2 hectares, onde, um hectare era plantado de forma corriqueira, tradicional, baseado, no senso comum. Outra, era feita com tecnologia, recomendada por pesquisa: sementes tratadas, melhoradas, espaçamento correto complementado, com adubação de fosfato em pó, oriundo de Araxá. A DR orientada por Ely Rocha, foi de 2 alqueires, um sem adubo e o outro, adubado. Todo o trabalho de instalação era presenciado, pelo maior número possível de produtores. As vezes, se fazia excursão educativa a lavoura demonstrativa, antes da colheita, no entanto, a colheita deveria contar com o maior número possível de agricultores. Participando atentamente, assistindo, par e passo, a colheita manual ou mecanizada da área plantada, tanto a de forma arcaica, como a de forma moderna, adubada com fosfato de rocha.
Boa surpresa, o alqueire plantado de forma tradicional produziu cerca de 83 sacos de 60 kg, a parte feita com tecnologia moderna produziu, 179 sacas de 60 kg. A DR conduzida por ele, extensionista rural, foi a mais movimentada, tendo como corolário maior participação, com adesão ao plantio inovador, mais produtivo. Com efeito, exercitando, com altivez, a função de agente de mudanças, no cultivo da terra, divulgou-a no município e seus circunvizinhos, tornando-se vedete, fonte de referência, no processo de mudanças, ampliando o acesso, expansão da lavoura de arroz, na imensidão dos campos serrados, quase todo, ainda, a espera de cultivo. A ascensão épica da lavoura, arroz de sequeiro, caminhou celeremente, com a inovação tecnológica, liderando, em pouco tempo, as demais culturas, contudo, logo a seguir, começaria a desmoronar, com o desafio de frustração de safra, provocada pelos famigerados veranicos. Enquanto a lavoura de arroz caminhou célere, com a inovação tecnológica, a do milho, no cerrado, marcou passo, pois, a cultura de arroz não precisava de calcário para ser cultivada, produzia apenas com adubo, inclusive, como demonstrado, o simples fosfato de rocha. Ao passo que, o milho, como a soja e outras culturas, dependiam do calcário e adubação: NPK, mais zinco, no caso do milho, para boa produtividade. Quanto a ele, milho, era antes dos moinhos de calcário, cultivado, em terre de cultura, mas com baixa produtividade, porém, de grande importância, como lavoura de subsistência.
O objetivo mor da Acar-Goiás consistia por meio da assistência técnica, econômica e social, em integrar a família rural na corrente de progresso do país, assim, nasceu nos EUA, com o mesmo propósito foi introduzida em nosso país, tendo como entidade legitimadora a AIA: American International Association, com apoio financeiro do então PONTO 4 - organismo de ajuda as nações subdesenvolvidas, sendo, logo a seguir, substituído pela Aliança para o Progresso, programa este, instituído pelo saudoso presidente Kennedy. O trabalho com a família, no próprio meio rural, a comunidade abarcava a juventude rural por meio dos chamados clubes 4-S: Saúde, Saber, Sentir, Servir. A transformação da Acar-Goiás, entidade civil, em serviço público, reduziu sua eficácia em 50% por culpa exclusiva dos governantes, no lugar de torna-la ainda mais pujante, na emancipação da família rural, mormente nos assentamentos, mutilou-a por negligência, falta de visão.
A burocracia que passou a preponderar, subverteu o ideal da grande maioria dos agentes de extensão rural. Sua eficácia, agravou mais, ainda, com salários baixos, para um trabalho integral, exigido pelo seu princípio filosófico: ajudar a família rural a ajudar a si mesma, por meio de outro princípio, o técnico, que é o aprender a fazer, fazendo, fazer trabalhando, abominando o atual, e, dominante paternalismo viciado, indutor de subserviência mesclado de indolência, voto de cabresto, do compadrio, adverso a emancipação socioeconômica das pessoas. Par e passo a escola formal, os clubes 4-S preparavam os meninos do meio rural, âmbito comunitário, para a vida futura, de adultos. Soja, Rainha do Agronegócio, continuará no próximo artigo, sábado, abordando o inolvidável papel dos jovens nos clubes 4-S.
(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural)