Por mais surpreendente que possa parecer, as cartas continuam sendo o principal objeto transportado pelos Correios. Contudo, os números atuais carregam certa impessoalidade, já que a maior demanda é relacionada a “cartas comerciais”. Faturas, extratos e outros documentos burocráticos representam a maior parte dos cerca de 720 mil objetos entregues diariamente em Goiás. O restante são pacotes, grande parte deles proveniente do comércio eletrônico. “E as cartas manuscritas?”, sempre me perguntam. Essas são raras, afinal vivemos a era das mensagens digitais, em que quase tudo é escrito na frente do computador ou mesmo na tela do celular. Porém, elas ainda existem e, na mesma medida em que se tornam um meio ultrapassado de correspondência, ganham um charme que garante a sua sobrevivência ao longo dos séculos.
Enviar uma carta escrita à mão, hoje em dia, é comparável a um gesto de carinho. Esse encanto fez surgir na internet grupos de pessoas que trocam endereços para enviar e receber cartas. Assim, a tecnologia tem se tornado uma aliada para a preservação da arte de escrever cartas. Outro meio de preservar e valorizar esse lendário meio de comunicação é o concurso epistolar que realizamos há 47 anos. O Concurso Internacional de Redação de Cartas é organizado no Brasil pelos Correios e promovido mundialmente pela União Postal Universal, associação que congrega os Correios do 191 países, com o objetivo de incentivar crianças e adolescentes a expressarem a criatividade e aprimorarem seus conhecimentos linguísticos por meio da escrita de cartas. Neste ano, o concurso aceita inscrições até 16 de março e as informações estão no site dos Correios (www.correios.com.br).
Aos professores e escolas fica o meu convite para que aceitem o desafio e apresentem esse gênero textual aos alunos de até 15 anos de idade, que provavelmente nunca enviaram ou receberam uma carta. A proposta é se imaginar como uma carta que viaja no tempo e que mensagem deixaria para seus leitores. Esse exercício, além de promover uma reflexão sobre temáticas importantes, permitirá concorrer a prêmios em dinheiro tanto para o estudante quanto para a escola, nas etapas estadual e nacional.
A melhor carta brasileira será escolhida para representar o país na fase internacional, da qual temos orgulho de dizer que já fomos vencedores. Em 2006, a estudante goiana Laura de Paula Silva, de uma escola pública da cidade de Goianésia, trouxe o troféu para o Brasil. O país, aliás, é o segundo maior vencedor da competição, atrás apenas da China, e Goiás continua destacando seus talentos no concurso. Em 2016, a carta do adolescente Lucas Bueno Teixeira, de Mineiros, conquistou o segundo lugar nacional e, na edição passada, a goianiense Emilly Oliveira Rodrigues, de apenas 11 anos de idade, recebeu uma menção honrosa pela redação que abordou a situação de extrema pobreza em que vivem milhões de pessoas ao redor do mundo.
Portanto, seja no concurso ou dia a dia do nosso trabalho, podemos dizer que de cartas nós entendemos e, indubitavelmente, o zelo com que histórias e sentimentos são depositados na folha de papel cria um encanto que a internet é incapaz de substituir.
(Osmar Caldeira Júnior, superintendente estadual dos Correios em Goiás)