Uma notícia recorrente do Rio de Janeiro é o tiroteio diário entre facções de bandidos e destes com os policiais. Nessas ocasiões, quantas pessoas inocentes morrem! Em 7 de março de 2018, foi morto o vigésimo oitavo militar na cidade do Rio de Janeiro. Quando um grupo armado mata militares é porque se vive em guerra declarada. A morte do militar revela que há muita coisa em jogo abertamente ou de modo velado. As motivações de uma guerra podem ser muito variadas, mas quase sempre envolvem dinheiro. As formas das guerras também variam muito e, quase sempre, são motivadas pela ambição. Ambição e dinheiro são duas faces de uma mesma moeda.
Dia 8 de março ficou sendo dia dedicado às mulheres, depois de longas batalhas sociais. Os maus tratos às mulheres vão além do emprego. É dentro do lar que muitas são violentadas física e psicologicamente, e até mortas. No Brasil, sete mulheres são mortas por dia, vítimas de todo tipo de homem. Por isso, a guerra deve continuar até que as mulheres sejam tratadas com dignidade. As mulheres são os amores dos homens, mas nem todos reconhecem isso.
As estradas do Brasil matam mais do que os locais de guerra declarada no mundo. As mortes nas estradas do Brasil: em 2014, foram 48.349 mortes (cerca de 4.029 mortes por mês, 132 por dia e 6 por hora, isto é, 1 morte nas estradas a cada 10 minutos). Carros deveriam ser considerados armas e estradas, campos de batalha.
No Jornal Folha de SP, dia 9 de março de 2018, a manchete é: “Roubos explodem em todas as regiões do país; governos culpam crise”. E quem criou a crise, a não ser a má administração pública, a corrupção e o descaso com o povo? Será que a democracia é mesmo um governo do povo para o povo no Brasil?. Assaltos não são ações de guerra? Roubos não são pilhagens? A insegurança e a tristeza do povo tornaram-se tão grandes que ninguém tem mais coragem de andar pelas ruas à noite. Há um toque de recolher silencioso, mas altamente significativo. O povo fica em casa, preso, enquanto o bandido vive livremente pela cidade. Isso não é uma situação de guerra?
Num país como o Brasil, os conceitos de honestidade e de respeito já mudaram muito de sentido. A situação é mais clara em Brasília, onde os políticos e o judiciário atuam de forma mais soberana. A quantidade de leis e de decretos visando a interesses particulares é enorme. Soma-se a isso a incompetência em fazer a coisa certa, criando um amontoado de leis e de normas que desorientam qualquer erudito e fazem com que muitos nunca saibam ao certo a que elas vêm. A impressão que se tem é que a administração pública, ou seja, os poderes da República, vive em constante situação de batalha. Eles sempre saem ganhando, e o povo, perdendo.
Logo teremos eleições “democráticas”. Hora do calafrio: em quem votar? Quem vai salvar o país da corrupção, vai gerar empregos, dar saúde e educação como o povo merece? Quem vai acabar com a guerra, trazendo paz para a segurança pública? Os mesmos que sempre estiveram no poder? Novatos inexperientes? Quem tem cacife para resolver nossos problemas básicos? Essa angústia é um sofrimento típico de guerra.
A guerra se apoderou também das redes sociais. É um mundo virtual com fortes ligações com o mundo real. Esse mundo está cheio de difamações, fake News, de ofensas. Os hackers são os novos bandidos. Há uma guerra espalhada pelo mundo, com ações instantâneas e com consequências diabólicas. Os novos bandidos não mostram a cara, não têm identidade nem país, mas são portares de armas poderosas. Criam emboscadas sofisticadas para infernizar a vida moderna. Como o dinheiro, hoje, a Internet se revelou não apenas um bem, mas também um mal. Muitas pessoas evitam usar a Internet e o celular com medo de verem suas vidas destruídas moral e financeiramente. É uma guerra sem tiros, porém com forte poder destrutivo.
A primeira coisa para acabar uma guerra é o não uso de armas. Uma lei que proibisse qualquer cidadão a andar armado seria um bom começo. O infrator deveria pagar multas elevadas. Tirando o dinheiro, o crime organizado enfraquece. Alguns bandidos podem achar que o crime não compensa, com medo de perderem seus bens.
Com tantas preocupações, vivemos uma guerra altamente destrutiva. Viver pensando em estratégias de defesa, em lutar contra uma guerra de muitas frentes, visível e invisível, deixa os contemporâneos muito infelizes. A vida não era para ser assim.
Acabo de ouvir na televisão o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista. Cada brasileiro morre um pouco com essas mortes.
(Luiz Carlos Cagliari é professor Colaborador Voluntário do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara)